Os desafios para a Educação no Brasil, durante ou além do governo Bolsonaro, foram debatidos durante a 27ª live da Revolução Brasileira do Século 21, realizada pelo Socialismo Criativo na noite desta quinta-feira (18). O convidado para o debate, que também serve de referência para Autorreforma do PSB, foi o o sociólogo e consultor educacional César Callegari, socialista e ex-deputado federal por três vezes pelo partido, além de membro do Conselho Nacional de Educação por 12 anos.
Além de Callegari, participaram do evento o presidente do Instituto Pensar, Domingos Leonelli, e os socialistas Juliene Silva e James Lewis. “Educação é o tema mais debatido na Autorreforma, tendo quatro capítulos dedicados ao assunto. Tema incompleto que pretendemos concluir com a participação de César Callegari”, ressaltou Leonelli.
Educação é prioridade
Ao iniciar o debate, James Lewis questionou o sociólogo sobre o papel da Educação na história brasileira. “Defendo que a Educação seja a prioridade, que seja o item central no nosso projeto de desenvolvimento. Nós evoluímos desde a década de 60, nos índices educacionais. No entanto, o analfabetismo estrutural ainda é uma realidade no nosso país, alcançando cerca de 64% da população brasileira”, explicou Callegari.
“Sim, evoluímos. Boa parte das crianças brasileiras está na escol. Isso não a realidade na década passada. Mas o grande problema ainda está na qualidade do que está sendo oferecido, especialmente, na escola pública”. César Callegari
Outros indicadores mostram essa colapso acentuados na pandemia. Estudo recente publicado pela Fundação Iemann mostram que alunos em fase de alfabetização estão entre os mais prejudicados. Uma avaliação feita com 250 mil crianças de sete anos mostrou que 73% delas não leem ou leem, no máximo, nove palavras por minuto. Apenas 7% são leitoras fluentes nessa idade.
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Para o sociólogo, embora os problemas estruturais da educação brasileira tenham se acentuado, como a precariedade das escolas e a falta de um projeto de formação continuada de professores que culminam na baixa qualidade do ensino oferecido nas escolas públicas brasileiras, a pandemia não pode ser considerado o único motivo para problemas histórico no Brasil.
“Por isso, eu defendo que a educação seja a grande finalidade da experiência humana. Esse cenário de uma educação precária afeta diretamente a vida dos estudantes brasileiros, que enfrentam um estado de desalento. Há também desalento para a juventude, cenário que precisa ser combatido pra valer durante esse período em que os problemas se acentuam”. César Callegari
Desalento afasta jovens do Enem
Com os problemas causados pela pandemia na Educação, com o ensino e a escola ainda mais precarizados pela infecção, os brasileiros enfrentam problemas sociais e econômicos nos seus domicílios, o que afeta fundamentalmente o desenvolvimento de crianças e adolescentes em condições de vulnerabilidade social.
Porém, de acordo com Callegari, os estudantes e professores também enfrentam a certeza de que encontram uma escola pública pouco adaptada aos desafios da atualidade, quando há até mesmo falta de acesso à internet diante da adoção de ensino remoto, ou seja, transmitido pela rede.
“Um dos pontos da evasão escolar é a questão do interesse. É uma escola que é extremamente desconectada do século 21, quando precisamos também considerar que temos o analfabetismo digital, que tende a podar a criatividade dos alunos. Mas esse não é um problema da educação pública, porém, de todo o sistema educacional. De fato, a escola brasileira não trabalha competências educacionais da nossa juventude. E faz com que jovens desistam”. César Callegari
Com isso, ressalta o sociólogo, parte dos estudantes brasileiros que chegam à juventude percebe que ter um diploma não significa encontrar condições de empregabilidade, ou seja, que educação não reflete em trabalho e renda para os brasileiros. “Temos de analisar a evasão do Enem além da perspectiva do comparecimento, pois me parece que o problema ultrapassa o interesse pela prova”, disse Juliene Silva.
Callegari explica que muitos jovens brasileiros já tem a percepção de que ter um diploma não é garantia de emprego, trabalho e renda. “Essa percepção é real, de que o diploma não significa melhores condições de trabalho. O capitalismo pressiona cada vez mais as empresas, que vai ficando mais exigentes. Os profissionais precisam apresentar habilidades e competências que nem sempre são ofertadas pelo ensino superior, especialmente, pelas instituições privadas”, explica.
“No governo Michel Temer, fomos frontalmente contra a reforma do Ensino Médio, que pode levar a juventude brasileira a uma situação catastrófica. Por isso, defendo que temos de revogar a reforma do Ensino Médio e preparar um nova reforma que aponte para alguma perspectiva. Todo esse quadro foi agravado no governo Bolsonaro”, diz.
Callegari também explica que a crise do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) tem sido agravada por um conjunto de medidas do governo que, por ação ou omissão, tem levado ao colapso da educação. “O total desgoverno e despreparo no combate à pandemia, que devia ajudar governos e municípios a enfrentar a pandemia, é catastrófico”.
Não há solução simples para um problema complexo, mas a sociedade precisa pensar em medidas de curto prazo, emergenciais, com medidas efetivas para mudar o quadro educacional brasileiro. “O número de crianças e jovens que estão abandonando a escola são pessoas começam a ficar com uma cidadania muito precária”, diz.
Durante a paralisação das aulas presenciais motivada pela pandemia, houve perdas no fluxo de aprendizagem, ressalta Callegari. “Temos de desenvolver fluxo para recuperar o desenvolvimento das crianças porque não podemos permitir um rebaixamento dos direitos das crianças à Educação no Brasil”, defende.
Autorreforma: Educação é discutida em cinco capítulos
“Educação é o tema mais debatido na Autorreforma promovida pelo PSB”, explicou Domingos Leonelli, presidente do Instituto Pensar e membro da comissão redatora da Autorreforma. “Esse foi um ótimo debate para atualizarmos nosso conceito de revolução brasileira, pois as formulações de Callegari concretizam muitas das teses que estão aqui e atualizam o sentido da revolução como eu ja disse”, explica.
“Se quisermos nos colocar no futuro, temos de ter a coragem de dobrar os investimentos educacionais em menos de dez anos. E garantir que os recursos sejam corretamente investidos. Mas investir naquilo que é mais importante na Educação. Não há qualidade sem que haja investimento no magistério. Os professores têm sido muito maltratados no Brasil, mas precisamos alcançar uma formação de excelente nível. Formação continuada e mais, temos de ter coragem de criar um novo patamar para formar professores no Brasil”.
Callegari defende a federalização da formação de professores. “Formação continuada, com um currículo novo, com uma carreira nova, com salários que sejam competitivos. Para sermos plenamente efetivos no combate às desigualdades é necessário seguir o passo fundamental na Educação”, defendeu.
O sociólogo finalizou a live refletindo que educação de qualidade implica em um país capaz de produzir riquezas. “A Educação é a mãe da Ciência. Acho que a pressão social deve acontecer pra melhorar a educação, mas eu tenho uma convicção de que quando a escola pública for boa, ela será a primeira opção da classe média. Em países com boa educação, as pessoas pagam imposto de bom grado porque sabem que os estudantes terão oportunidades iguais, tendo acesso a uma educação de qualidade para todos”.
O maior desafio da nossa educação, ainda é a educação infantil! Sem valorizar o cuidar da infância, ofertando uma boa educação nesta fase da vida, vamos crescer com uma população com deficiência na sua cidadania plena, hoje no pós pandemia isso fica mais exposto, principalmente na diferença nas classes sociais, povos afro e originários e da periferia urbana continuarão a sofrer a exclusão cidadã e de direitos.