
No Brasil, das 4.519 mulheres assassinadas em 2018, uma a cada duas horas, 3.070 eram mulheres negras, abrangendo 68% do total. Os dados são do Atlas da Violência 2020, estudo anual produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado nessa quinta-feira (27).
De acordo com o Alma Preta, o levantamento ainda mostra que 5,2 de mulheres negras, em um grupo de 100 mil pessoas, foram mortas de forma violenta em 2018. Entre as mulheres brancas, a taxa de homicídio é de 2,8 por 100 mil.
Nesses dez anos, o assassinato de mulheres no Brasil cresceu 4,2%, um percentual menor na comparação com 2017, quando se registrou uma queda de 8,4%. Contudo, sob a lente da desigualdade racial, a estatística evidencia a escalada de violência que tanto afeta a população negra no Brasil.
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O comparativo mostra que, no intervalo de uma década (2008 a 2018), os homicídios de mulheres negras aumentaram 12,4%, enquanto os homicídios entre mulheres brancas caíram 11,7%.
Na percepção dos especialistas responsáveis pelo levantamento, o crescente distanciamento entre as curvas da taxa de mortalidade entre mulheres brancas e negras mostra o aumento, e aprofundamento, da disparidade racial nas últimas décadas.
De acordo com a pesquisadora Amanda Pimentel, a mulher negra tem carga tripla de vulnerabilidade social, por causa do gênero, da raça e da classe social: “Historicamente a mulher negra vem sendo hipersexualizada, sem acesso à segurança e atendimento básico”, afirmou.
Quanto à elaborações de ações governamentais, os estudiosos observam que as políticas públicas de prevenção e combate à violência olham apenas para um lado da população.
“Se alguém tem alguma dúvida do racismo no Brasil, é só olhar para os números”, diz Samira Bueno, diretora executiva do FBSP , que também destaca: “Se a gente conseguiu reduzir minimamente a violência letal do Brasil, ela aconteceu apenas para uma camada da população, e não para todo mundo”.
Estados
Os estados com maior letalidade de mulheres negras estão nas regiões Norte e Nordeste: Roraima (15 mortes por 100 mil), Ceará (12,9 mortes por 100 mil), Acre (8,5 mortes por 100 mil), Pará (8,3 por 100 mil), Rio Grande do Norte (7,6 mortes por 100 mil) e Amazonas (7,2 por 100 mil).
Os dados são coletados do Sistema Nacional de Atendimento Médico (Sinam). Em função disso, dá para saber apenas onde eles ocorreram e não o tipo penal, como é o caso do feminicídio.
Entretanto, as pesquisadoras estimam que 30% desse universo de mulheres mortas foram vítimas de feminicídio, uma vez que elas morreram em casa.
“Desses 4.519 homicídios, mais ou menos 30% aconteceram na residência delas, e a gente sabe que é em casa onde essas mulheres estão mais vulneráveis à violência doméstica, então podemos concluir que foram feminicídios”, explica Juliana Martins.
Acesse aqui o Atlas da Violência 2020
Com informações do Alma Preta e Uol