O que foi destroçado nas eleições de 2018 foi o Centro político brasileiro. A ultradireita ganhou a eleição, a esquerda foi derrotada no segundo turno com Fernando Haddad, que teve um belo desempenho. Considerando que era uma candidatura substituta de Lula injustamente preso e, que contou quase exclusivamente com a esquerda, foi na realidade um belíssimo resultado.
Grande parte do Centro deslocou-se para Bolsonaro no segundo turno de 2018 e foi isso que lhe garantiu a vitória. E não a bobagem ressentida de Ciro Gomes viajar para Paris. Mesmo porque a grande maioria de seus eleitores , como eu, votou com Haddad no segundo turno.
Agora é outra história.
Bolsonaro espantosamente mantém a sua bolha, beirando 30% de aprovação de um governo de merda em todos os terrenos sociais e econômicos, mas que manteve e ampliou os privilégios do grande capital financeiro, do agronegócio e do capital internacional. Só que entre banqueiros, empresários do agronegócio e mesmo capitalistas internacionais, há uma preocupação com seu radicalismo antidemocrático e sua ligação com milícias, sua sanha destrutiva do meio-ambiente e a ladroagem vulgar.
Claro que eu sei que no “pega pra capar” de que lado essa elite fica.
Por mais que Lula , corretamente, amplie sua base de apoio, por mais Alckmin colabore nesse intento, as elites brasileiras e a parte da classe média ainda irritada com os erros e acertos da esquerda (erros na leniência com a corrupção e acertos nos passos para a redução da desigualdade) ainda podem optar por mais quatro anos de Bolsonaro.
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E é aqui que entra a candidatura de Simone Tebet. Se ela conseguir se constituir numa alternativa da centro-direita comprometida com a democracia e impedir a ampliação da base bolsonarista, estará prestando um grande serviço à democracia e, provavelmente, a uma vitória da centro-esquerda representada pela candidatura Lula-Alckmin.
Não creio que Tebet , diferentemente de Ciro, tire um voto do campo da centro-esquerda. E, mesmo ela e Ciro juntos, não tirariam Lula de um segundo turno em que, se acontecer, a maioria de seus eleitores estariam conosco.
De qualquer forma as candidaturas de Tebet, Ciro, Janones não se constituem em nossos inimigos principais. O inimigo principal da democracia, da soberania nacional e do povo é o presidente Jair Bolsonaro.
Felizmente não vi da parte da direção da campanha Lula-Alckmin nem a defesa da tese de uma vitória no primeiro turno, nem um ataque frontal à candidatura de Simone Tebet, que a meu ver deve ser tratada com respeito e sem hostilidade.
Mesmo porque uma desejável vitória no primeiro turno teria que ser acachapante e ter o reconhecimento imediato de todos os outros concorrentes para evitar qualquer arroubo golpista.