
A Austrália detectou neste domingo dois casos da nova variante Ômicron da covid-19, fazendo com que a variante esteja presente em quatro continentes: Oceania, Ásia, Europa e África — onde ela surgiu. Ainda nesta sexta-feira, Holanda e Dinamarca também confirmaram casos da Ômicron.
Autoridades de sáude de Nova Gales do Sul, o estado australiano mais populoso, disseram que dois passageiros chegaram do Sul da África na capital Sydney na noite de sábado infectados pela variante, segundo o resultado de um sequenciamento de genomas. Ambos, que estão em quarentena, estavam assintomáticos e estão totalmente vacinados.
Além disso, a Holanda afirmou nesta sexta-feira ter detectado 13 casos da Ômicron, entre os 61 passageiros com covid que desembarcaram em dois voos vindos da África do Sul. A Dinamarca também confirmou que duas pessoas que chegaram da África do Sul estão infectadas pela variante, acrescentando que elas estão isoladas e que as autoridades estão rastreando contatos que ambas tiveram.
No sábado, Alemanha, Itália e Reino Unido detectaram casos da nova variante Ômicron da covid-19, um dia depois de o primeiro caso na Europa ter sido registrado na Bélgica. A variante fora descoberta pela primeira vez na África do Sul e também já foi detectada em Botsuana.
Na Ásia, Hong Kong e Israel, que no sábado se tornou o primeiro país a proibir a entrada de todos os estrangeiros para tentar conter a disseminação da nova variante, também registraram casos da Ômicron.
Na noite de sábado, a Áustria informou que registrou um caso suspeito da variante. Uma pessoa retornando da África do Sul foi infectada pela covid e tem indícios da variante, mas autoridades pontuaram que é necessário um sequenciamento de genomas nos próximos dias.A República Checa também investiga um passageiro que desembarcou da Namíbia.
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As confirmações e suspeitas foram registrados dois dias após o Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) afirmar que o risco de a nova variante se espalhar pela Europa era “muito alto”. A variante surgiu enquanto muitos países do continente já enfrentam dificuldades para conter o aumento de infecções por covid-19, com alguns tendo reintroduzido restrições em atividades sociais para barrar a disseminação da doença.
A descoberta da Ômicron desatou um alerta mundial, com uma série de bloqueios ou restrições de viagem relacionadas ao Sul da África e a preocupação de que a nova cepa possa impedir a recuperação econômica global depois de quase dois anos de pandemia.
Países com casos confirmados:
África
- África do Sul: 77 casos na província de Gauteng;
- Botsuana: quatro pessoas totalmente vacinadas.
Ásia/ Oriente Médio
- Hong Kong: um caso de uma pessoa que viajou à África do Sul;
- Israel: pessoa que voltou do Malauí.
Europa
- Alemanha: dois casos registrados em Munique, na Bavária;
- Bélgica: pessoa não vacinada que voltou do Egito em 11 de novembro e teve os primeiros sintomas em 22 de novembro;
- Dinamarca: duas pessoas que chegaram da África do Sul;
- Holanda: 13 casos entre passageiros que chegaram em dois voos vindo da África do Sul;
- Itália: uma pessoa que voltou de uma viagem a Moçambique;
- Reino Unido: dois casos identificados, um em Chelmsford e outro em Nottingham.
Oceania
- Austrália: duas pessoas assintomáticas e totalmente vacinadas que chegaram do Sul da África. Ambas estão em quarentena.
Preocupação
A Ômicron, descrita como uma “variante de preocupação” pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é potencialmente mais contagiosa do que as quatro cepas anteriores relacionadas a efeitos mais deletérios ao organismo, embora os especialistas ainda não saibam dizer se ela vai provocar uma covid-19 mais ou menos severa.
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De acordo com o médico geneticista Salmo Raskin, diretor do Laboratório Genetika, de Curitiba, a Ômicron é a variante que mais acumulou mutações.
— Ela tem uma mistura de mutações presentes nas outras quatro variantes de preocupação e ainda tem uma série de mutações inéditas. Esse é o ponto principal que chamou a atenção nela. Embora existem evidências de que ela pode ser mais transmissível e escapar das defesas do sistema imunológico, ainda é muito precipitado fazer qualquer afirmação sobre isso — explicou o especialista ao GLOBO.
África do Sul ‘castigada’
Desde sexta-feira, muitos países em todo o mundo, incluindo os EUA, Brasil, Canadá e as nações da União Europeia, anunciaram restrições ou proibições de viagem relativas ao Sul do continente africano. Ontem, o governo da África do Sul lamentou o fechamento de fronteiras aos seus cidadãos e viajantes, afirmando que o fato de o país ter descoberto a nova variante acabou por “castigá-lo”.
“Essas proibições de viagem castigam a África do Sul pela sua capacidade avançada no sequenciamento de genomas e em detectar mais rapidamente as novas variantes. A excelência científica deveria ser aplaudida, e não castigada”, disse o governo em um comunicado.
O governo destacou que a OMS não recomenda que sejam tomadas medidas semelhantes e pediu uma “abordagem científica, baseada nos riscos”. Segundo o Ministério de Relações Exteriores sul-africano, o país está preocupado que as restrições prejudiquem o turismo e outros setores da economia.
A nova variante também revela a disparidade entre os índices de vacinação em todo o mundo. Enquanto muitos países desenvolvidos administram doses de reforço, menos de 7% das populações nos países de baixa renda receberam a primeira dose, de acordo com grupos médicos e de direitos humanos.