
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a colocar em cheque, nesta segunda (16), a confiabilidade do sistema eleitoral brasileiro. A apoiadores, ele voltou a citar o uso do voto impresso, ao justificar que é preciso um sistema que “não deixe dúvidas” ou “margem para suposições”. À noite, criticou o sistema de urna eletrônica.
As declarações de Bolsonaro foram dadas um dia após a divulgação do resultado das eleições, em que candidatos para quem ele fez campanha não foram eleitos.
Mais cedo, o vice-presidente Hamilton Mourão, em mais uma declaração que vai de encontro ao discurso de Bolsonaro, afirmou que o processo eleitoral brasileiro é “muito bom, sem dúvida nenhuma”.
Em setembro deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que é inconstitucional a adoção do voto impresso, ao concluir que a medida viola o sigilo e a liberdade do voto. Ainda assim, Bolsonaro insiste na tese de que a votação eletrônica é passível de fraude, o que é descartado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Nós temos que ter um sistema de apuração que não deixe dúvidas. É só isso. Tem de ser confiável e rápido, não deixar margem para suposições”, disse o presidente a apoiadores em frente ao Palácio do Alvorada.
Na sequência, Bolsonaro mencionou desconhecer se outros países no mundo usam o sistema eleitoral brasileiro, apurado por meio de urna eletrônica. Ao todo, contando com o Brasil, 46 países utilizam algum tipo de votação eletrônica em eleições, considerando pleitos de caráter nacional, regional, ou para escolha de dirigentes sindicais.
“Tenho proposta, tive né? O Supremo (Tribunal Federal) disse que é inconstitucional o voto impresso. (Mas) tem proposta de emendar a Constituição na Câmara. Se não tivermos uma forma confiável de apurar as eleições a dúvida sempre vai permanecer e nós devemos atender a população”, disse.
Bolsonaro, Mick Jagger brasileiro
Os resultados destas eleições municipais apontaram que poucos candidatos apoiados pelo presidente foram eleitos ou chegaram ao segundo turno. Dos 45 candidatos a vereador que o presidente pediu votos em transmissões ao vivo nas suas redes sociais, apenas sete foram eleitos anteontem.
Entre os candidatos a prefeito, Celso Russomanno, do Republicanos, ficou em quarto lugar em São Paulo. No Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, do Republicanos, teve Bolsonaro ao seu lado e está na corrida do segundo turno na tentativa de reeleição.
Entre os prefeitos que tentam um novo mandato, além de Crivella, apenas outro nome apoiado por Bolsonaro passou para o segundo turno, o Capitão Wagner (PROS), em Fortaleza (CE). Em Porto Alegre (RS), apesar de não ter candidato, Bolsonaro tem criticado o apoio dado a Manuela D”ávila, do PCDOB, que disputará o segundo turno.
Divergências desde o início
Presidente e vice dão declarações conflitantes desde o início do mandato. As divergências mantêm um clima de tensão entre eles – Bolsonaro já deixou claro que não planeja ter Mourão na chapa em que pretende concorrer à reeleição, em 2022.
Na mais recente rusga, na semana passada, o Estadão divulgou proposta em discussão do Conselho Nacional da Amazônia Legal, presidido por Mourão, que prevê expropriação de terras em caso de crime ambiental. Bolsonaro chamou a proposta de “delírio” e ameaçou demitir os responsáveis. “Me penitencio”, disse Mourão.
Com informações da Agência Estado.