
Conflitos com a própria família por conta de transfobia e homofobia, solidão, incerteza, interrupção de atendimentos médicos, dificuldade financeira e piora de quadros de ansiedade e depressão preexistentes. Estes, entre outros, foram alguns pontos da pesquisa “Diagnóstico LGBT+ na pandemia – Desafios da comunidade LGBTQIA+ no contexto de isolamento social em enfrentamento à pandemia de coronavírus”, realizada pelo coletivo #VoteLGBT em colaboração com o escritório de pesquisa BOX1824.
Realizada virtualmente entre 28 de abril e 15 de maio últimos, a pesquisa contou com participantes de todas as regiões brasileiras.

Piora na saúde mental foi o aspecto mais apontado pelas mais de 9,5 mil respostas à pergunta “qual a maior dificuldade você está enfrentando durante o isolamento social/quarentena?”. Ao todo, 42,72% das pessoas relataram esse aspecto. Em seguida, estão o afastamento da rede de apoio e a falta de fonte de renda .
Saúde mental dos LGBTQIA+
Assim, especificamente sobre os impactos na saúde mental, os resultados da pesquisa indicam que esse problema é maior entre os jovens, atingindo um em cada dois LGBTQIA+ de 15 a 24 anos. Entre as faixas etárias mais velhas, o problema foi relatado por 21% das pessoas com 45 a 54 anos; e por 12% daquelas com 55 anos de idade ou mais.
Para além do contexto da pandemia de Covid-19, pessoas LGBTQIA+ são mais vulnerável aos problemas de saúde mental. Dessa forma, elas têm duas vezes mais chance de ter algum transtorno mental ao longo da vida; em comparação com homens e mulheres heterosexuais, segundo a Associação Americana de Psiquiatria.
Aceitação
Além de passar por um processo de autoaceitação para lidar com uma sociedade que não lida bem com a diversidade sexual e de gênero, jovens LGBTQIA+ também passam por um processo de lidar com a aceitação por parte do outro.
“Quando não é uma pessoa que tem diretamente uma ligação comigo, é mais fácil”, afirma a psicóloga Andrise Freire, especialista em adolescentes.
Há os casos em que a família acolhe jovens LGBTQIA+; mas, quando existe a frustração dos pais em relação à sexualidade, ela aponta que “não tem como (o jovem) não ter a saúde mental abalada”.
“O pai e a mãe sempre têm um ideal de filho, que passa a frustrá-los quando faz as suas (próprias) escolhas. Quando não envolvem as questões sexual e de gênero, parece que é mais aceitável para esses pais. “Não virou o médico que eu queria, mas virou advogado”. Parece que essa questão sexual potencializa, e aí tem todo um contexto histórico nessas relações”, afirma.
“É uma população que merece atenção. Dados mostram que esse público acaba realmente sendo mais propenso a situações relacionadas ao próprio suicídio”, alerta o médico psiquiatra Rodrigo Freitas da Costa.
Sobre os impactos atuais e futuros da pandemia na saúde mental, ele aponta que os grupos mais vulneráveis – e a população LGBTQIA+ é um deles – precisam ser acolhidos e apoiados, assim como os familiares dessas pessoas.
“Precisamos buscar outras formas de nos comunicar, de a nossa rotina ser readaptada, e mudar nossa forma de se perceber e de perceber o outro”, afirma o especialista em Psiquiatria da Infância e da Adolescência e preceptor da residência médica do Hospital Universitário Walter Cantídio, da Universidade Federal do Ceará (HUWC/UFC).
Com informações do portal O POVO/CE.