
No filme “Francesco”, lançado nesta quarta-feira (21) em Roma, o Papa Francisco defende que casais homoafetivos sejam protegidos por leis de união civil. “O que temos de criar é uma lei de união civil. Assim, ficam legalmente protegidos. Posiciono-me por isso”, afirmou. Essa foi a forma mais clara dita por um pontífice para falar de direitos dos LGBTIs, segundo reportagem da Folha de S. Paulo.
“Pessoas homossexuais têm o direito de estar em uma família. Elas são filhas de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deveria ser descartado [dela] ou ser transformado em miserável por conta disso”, diz ele no documentário.
A obra, dirigida pelo americano Evgeny Afineevsky, indicado ao Oscar em 2016 pelo documentário “Winteron Fire”, sobre a crise na Ucrânia em 2013, foi exibida pela primeira vez no Festival de Roma.
Durante o filme Francisco discorre sobre temas com os quais se importa, como o meio ambiente, pobreza, migração, desigualdade racial e de renda e pessoas mais afetadas por discriminação. O tema sobre direitos dos LGBTIs é abordado ao contar a história de Andréa Rubera.
Durante uma missa, o papa recebeu uma carta de Rubera, homem gay que adotou três crianças com seu parceiro. Nela, explica que gostaria de ir com o companheiro e os filhos às missas em sua paróquia, mas temia que as crianças ficassem traumatizadas caso fossem hostilizadas.
O homem conta que o papa, alguns dias após ter recebido a carta, telefonou para contar que ficou tocado pela mensagem. Francisco estimulou o casal a levar os filhos à igreja, mas também pediu que estivessem prontos para sofrer críticas. Rubera e o companheiro seguiram o conselho e, dizem, ficaram felizes ao passar a frequentar a paróquia.
Críticas da ala conservadora
Francisco, que lidera a Igreja desde 2013, já disse que jamais poderia julgar um gay, sinalizou que os católicos devem acolher crianças de casais do mesmo sexo e já recebeu transexuais e defensores do aborto em audiências. No entanto, por mais que tenha adotado uma postura mais aberta, não mudou os dogmas da instituição.
Em 2019, um grupo de 81 ultra tradicionalistas publicou carta com acusações contra Francisco, com o objetivo de forçar sua saída do cargo. A ala conservadora o classifica como um papa que não vê “a atividade homossexual como gravemente pecaminosa”, que não se opõe ao aborto e que aproximou o Vaticano de protestantes e muçulmanos.
Um dos principais opositores ao casamento gay na Igreja é o papa emérito Bento 16. Em uma biografia autorizada publicada em maio, ele comparou a prática ao “anticristo”.
Casamento homoafetivo
O primeiro país a permitir o casamento gay foi a Holanda, em 2001. Atualmente, 28 nações o autorizam, quase todas nas Américas e na Europa. Por outro lado, as relações homossexuais são criminalizadas em 70 países, segundo dados mais recentes da Ilga (Associação Internacional de Gays, Lésbicas, Trans e pessoas Intersexo).
Em seis desses países, como Arábia Saudita e Sudão, elas podem ser punidas com pena de morte. Em outros 26, como Mianmar e Quênia, pode haver condenação a mais de dez anos de prisão.
No Brasil, o casamento civil entre pessoas de mesmo sexo foi autorizado após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 2011 e de uma resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de 2013.
Com informações da Folha de S. Paulo