O perfil também oferece o apoio financeiro a jovens indígenas. Recentemente o Inep prorrogou para o dia 10 de junho o prazo para pagamento da taxa de inscrição no Enem 2020
A jovem negra publicitária Lyara Vidal está movimentando, pelas redes sociais, voluntários de todo o país para pagar as taxas de inscrição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de estudantes negros e indígenas. Ela e um amigo mantêm o perfil ‘Pretos no Enem’, no Instagram, para que esses jovens dêem o primeiro passo rumo ao ensino superior, quitando os R$ 85 exigidos pelo Ministério da Educação (MEC).
“Eu li uma notícia sobre as 300 mil pessoas que não fariam o Enem 2020 pela falta de pagamento do boleto, então me ofereci para pagar alguns boletos de ouvintes meus que precisassem dessa força”, conta Lyara ao G1.
Os números mostram que a pandemia aprofundou ainda mais as desigualdades econômicas no país, afetando principalmente a renda da população negra. E foi pensando em como superar essa desigualdade e construir práticas antirracistas no cotidiano que surgiu o projeto “Pretos no Enem”.
Começou no Twitter e consolidou no Instragram
Tudo começou quando a cearense Lyara, de 24 anos, se colocou para pagar a taxa de inscrição do Enem de dois jovens negros. Sem condições de arcar com os custos da inscrição durante a pandemia, eles não foram contemplados pela isenção de taxa.
A iniciativa da jovem tocou o amigo, Luan Alencar, 25 anos, que é podcaster e ao ver o compartilhamento da ideia no Twitter dela, decidiu se juntar à causa e ajudar a formar uma corrente. Hoje o perfil tem mais de 20 mil seguidores.
Ao G1, Luan disse que tudo começou de forma natural e rapidamente evoluiu para uma corrente nacional com adesões de milhares de voluntários.
“No primeiro momento, era algo muito orgânico. Colocamos em um grupo que tínhamos de financiamento coletivo com 80 pessoas e eu sabia que nem todos poderiam ajudar. Mas, de um dia para o outro, foram 750 pessoas se pronunciando. Em dois dias, já estamos chegando aos 7 mil voluntários”, explicou ele.
Acessos e barreiras
Os organizadores da ação explicam que professores que conheçam estudantes negros em situação de vulnerabilidade social também podem entrar em contato pela rede social para conseguir ampliar a ação e ajudar aos alunos.
“Se “somos todos iguais”, por que o acesso às universidades é reduzido? Por que algumas pessoas brancas fraudam cotas? Por que tem tantos brancos em posições de liderança? Por muito tempo, eu fui a única negra na classe, no ambiente de trabalho. Eu não deveria ser exceção. Pretos deveriam estar no ensino superior, é nosso direito!”, desabafou Lyara.
Em âmbito nacional, a dupla fez contatos com a Central Única de Favela (CUFA), União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) com o intuito de alcançar mais desses jovens com a ação.
“Existe essa barreira da bolha. O estudante que precisa não está necessariamente no instagram e na internet. Por isso, a gente começou a entrar em contato com cursinhos comunitários”, afirma Luan.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) prorrogou para o dia 10 de junho o prazo para pagamento da taxa de inscrição no Enem 2020.
Clubes de futebol como Flamengo, Ceará, Fortaleza, Bahia, Paysandu, Vasco e Corinthians juntaram forças e mobilizaram torcedores nas redes sociais em favor da ação “Pretos no Enem”.
Quem precisa de ajuda e quem quer ajudar pode buscar mais informações através do Instagram @pretosnoenem
Com informações do G1.