A Polícia Federal passou a investigar transações financeiras realizadas entre quatro assessores do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos – comandado por Damares Alves – e o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio. A apuração acontece no âmbito do inquérito que investiga a realização e o financiamento de atos antidemocráticos e que tem Eustáquio como um dos alvos. Ele chegou a ficar preso por dez dias.
As suspeitas, de acordo com o jornal O Globo, foram apontadas pela delegada Denisse Dias Ribeiro durante o depoimento de Sandra Mara Eustáquio, conhecida como Sandra Terena, esposa de Eustáquio e ex-secretária Políticas de Promoção da Igualdade Racial do ministério de Damares. Ela foi exonerada quando a PF passou a investigar a relação de Sandra com os atos antidemocráticos.
“Empréstimos e pagamentos”
Durante o depoimento, a delegada questionou Sandra sobre diversos repasses feitos pelo jornalista Oswaldo Eustáquio para quatro funcionários do ministério, em valores inferiores a R$ 10 mil. Parte das transferências foram justificadas por Sandra como o pagamento de empréstimos, enquanto outra parte ela preferiu não esclarecer e usou seu direito de permanecer calada.
A PF também perguntou por que uma funcionária do ministério pagou, em junho deste ano, o aluguel da residência onde Sandra e Eustáquio moravam em uma área nobre de Brasília no valor de R$ 5.333,33. Ela respondeu que pediu o dinheiro emprestado para a funcionária. No entanto, quando perguntada se a servidora pagava contas em seu nome, recorreu novamente ao direito de ficar em silêncio.
A delegada também questionou o endereço dessa funcionária e se ela “desempenha atividades de lides do lar” na casa do casal. Sandra disse que a servidora não exercia atividades domésticas em sua casa, mas não quis responder sobre o endereço da ex-colega.
A polícia ainda questionou Sandra a respeito de repasses de informações internas do ministério para os grupos que organizaram atos antidemocráticos, o que ela negou. Sandra também afirmou ser contra a intervenção militar e disse não ter participação nas manifestações.
Quando questionada sobre sua relação com Damares Alves, Sandra afirmou que conhece a ministra há aproximadamente dez anos por ser pesquisadora da área de infanticídio indígena, que seria um assunto de interesse da ministra.
Blogueiro nega irregularidades
Em nota, Oswaldo Eustáquio negou irregularidades nas transações e afirmou que a investigação “está distante da verdade e serve apenas torrar o dinheiro público”. O blogueiro afirmou que sua esposa Sandra Mara Eustáquio foi “constrangida” pela PF ao pedirem que ela respondesse perguntas referentes a ele, e não a ela.
“A PF investiga transações financeiras de depósitos que fiz no período de dois anos para amigos que trabalham no Ministério dos Direitos Humanos”, afirmou. Segundo Eustáquio, um dos depósitos foi realizado para o Secretario Nacional da Proteção Global, Alexandre Magno no valor de R$ 3.100. Ele afirma que o repasse foi o pagamento de despesas de sua mulher que Magno fez durante uma viagem oficial para o Haiti, já que o cartão de Sandra não foi aceito.
O blogueiro relata que fez outro depósito no valor de R$ 4.500 para uma servidora com o objetivo de comprar um aparelho usado iPhone 8, que foi apreendido pelos investigadores. “Essas transações financeiras saíram da minha conta, ou seja, os valores foram pagos por mim, e não recebidos”, disse Eustáquio em nota.
Sobre o pagamento de seu aluguel por outra funcionária do ministério, o blogueiro afirmou que a servidora mora com sua família. Eustáquio disse que sua esposa pegou o dinheiro emprestado porque, nesse período, tiveram que pagar o aluguel de duas casas quando decidiram mudar de endereço após “receber ameaças de morte contra nossos filhos”. “Outros servidores do ministério também moraram conosco enquanto encontravam apartamentos em Brasília”, afirmou ele. Eustáquio disse ainda que faz “questão que investiguem de forma profunda tudo” que o envolve e que ele sua família “têm sido alvo de abuso de autoridade por parte de uma ala da Polícia Federal”.
O Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos afirmou, em nota, que a ministra Damares Alves “encaminhou ofício à Assessoria Especial e Controle Interno da pasta determinando que o texto da reportagem seja anexado a processo já instaurado há cerca de um mês sobre os mesmos fatos”.
Com informações do jornal O Globo