As cidades terão enormes desafios para se reinventar num futuro pós-pandemia da covid-19. A avaliação parte da diretora do Observatório de Fortaleza, professora da Universidade Estadual do Ceará (UFC) e consultora em Cultura e Economia Criativa, Cláudia Leitão. Para ela, o modelo de cidades futuras deve ser bem diferente da referência anterior à pandemia.
“Tem que ser uma cidade que reconheça a importância da formulação de políticas públicas, com participação social, que permita o avançar, com a população como protagonista, para que se possa construir, a partir de políticas transversais, espaços para a criatividade, consumo cultural, educação”, apontou em entrevista ao podcast Cidades Criativas, do Socialismo Criativo, que teve sua edição de estreia nesta terça-feira (30).
Para a especialista em economia criativa, a pandemia do coronavírus revelou à sociedade o que ninguém gostaria de ver ou jogava para debaixo do tapete.
“A pandemia é monstruosa porque tem mostrado demais: as desigualdades, a ocupação totalmente selvagem das cidades, onde realmente a presença do Estado ou é pífia, insatisfatória ou não existe”, criticou.
Cláudia é defensora do conceito de “cidades criativas”, aglomerados urbanos que atendam melhor a vida da população. Ela conta que não devem ser cidades criadas para o marketing, mas que venham atender à população em suas demandas, como trabalho, mobilidade, segurança, por exemplo.
“É uma cidade que formula, implementa e monitora o bem viver na cidade”, disse.
Podcast Cidades Criativas
No podcast “Cidades Criativas”, Cláudia também criticou o modelo neoliberal de economia. Ela sublinha que as subdivisões sociais e de falta de oportunidades existentes na sociedade não favorecem a aplicação deste conceito.
“Esse sistema econômico global cria sensações de que tudo é passível de consumo. O que temos são grandes desigualdades que não permitem que jovens possam competir em pé de igualdade, se um mora na favela e outro em classe média alta, com internet banda larga”, refletiu.
Cláudia Leitão também ponderou que não dá para falar em cidades criativas e inteligentes sem que sejam tratadas as raízes do racismo, uma vez que a população negra é carente de oportunidades.
“É como se nós fingíssemos que não sabemos que há uma ausência de representatividade dessas populações em cargos políticos, nas lideranças e outros cargos de destaque”, analisou.