O posicionamento anticiência do governo de Jair Bolsonaro (PL) tem feito com que cada vez mais pessoas saiam do Brasil. É o que indicam os dados sobre o perfil de brasileiros que moram na Alemanha atualmente.
O perfil foi traçado pelo historiador e cientista social Glauco Vaz Feijó, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília e professor visitante da Universidade de Tübingen, que acaba de lançar o livro Retratos do Brasil na Alemanha – 30 anos de imigração. As informações são do DW.
Ele próprio migrou pela terceira vez para o país e reuniu dados estatísticos e possíveis explicações sobre os motivos que levam brasileiros a se fixarem na Alemanha. E observou uma mudança no perfil dessas pessoas.
“A taxa de feminização é muito alta, o que corresponde aos demais países em geral. É uma tendência mundial. Por outro lado, isso vem diminuindo na última década, quando há um percentual de imigração muito significativo daquilo que no jargão se costuma chamar de ‘imigração qualificada'”, explica.
Antes, o motivo que levava a maioria dos brasileiros a se mudarem para lá era ‘reunião familiar’, com destaque para a proporção de mulheres brasileiras casadas com homens alemães.
Agora, o que se vê é o crescimento do número de solteiros e solteiras, além de famílias que se mudam inteiras para o país.
Em geral, são pessoas com alta formação que conseguem postos de trabalho no país. O que, para o professor, demonstra que o gênero deixou de ser um diferencial.
Dados do Departamento Alemão de Estatísticas (Destatis) revelam que, em 2005, o número de brasileiros registrados no país contava com uma proporção de um homem para cada três mulheres.
Já em 2020, dados mais recentes, mostram que são 17.670 homens e 31.825 mulheres. O que revela um salto na proporção masculina de 25% para quase 36% do total.
Estado civil
O estado civil das pessoas que migram do Brasil para Alemanha também sofreu mudanças.
Em 2005, 66% dos homens brasileiros vivendo em território alemão eram solteiros. O percentual caiu para 56%.
Enquanto isso, o percentual de brasileiras solteiras no país subiu de 29% para 34%. No mesmo período, foi observado ainda que queda de brasileiras casadas com alemães nos últimos 15 anos passou de 80% para 50% do total.
No geral, brasileiros e brasileiras casados vivendo naquela país caiu de 61% para 56%.
“A escolha da Alemanha como destino parece estar relacionada às condições que são próprias do país, como a qualidade de vida global, a estabilidade econômica, a busca por profissionais qualificados em uma economia complexa, a cobertura de direitos e o fato de o país praticar um dos melhores salários mínimos da União Europeia”, analisa à DW o sociólogo Rogério Baptistini Mendes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Ele avalia que essa mudança de perfil do migrante brasileiro acaba respondendo “à demanda do país, resultando numa adequação conjuntural”.
Escassez de mão de obra qualificada, expectativa de redução populacional e a Lei de Imigração de Mão de Obra Especializada, vigente desde março de 2020 e que facilita o ingresso de estrangeiros de até 25 anos com qualificação, contribuem para esse cenário.
Capacidade de recuperação do Brasil é prejudica
Para a historiadora Renata Geraissati Castro de Almeida, pesquisadora de imigração na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, esse contexto é popularmente chamado de ‘fuga de cérebros’. E essa fuga, prevê, deve se intensificar.
“Ao observarmos que não existe um projeto do governo de investimento nas áreas de ciência e tecnologias, e sim uma constante desvalorização da atuação desses profissionais, somado ao fato de que nos últimos anos temos enfrentado um crescente corte nos financiamento à pesquisa, a evasão de ‘cérebros’ tende a se acentuar sem oferecer nenhum tipo de benefício ao país, e muito pelo contrário, vai comprometer nossa capacidade de recuperação no curto e longo prazo, tornando nossa posição em um cenário global cada vez mais insignificante”, afirmou à DW.