
Laurel Hubbard, mulher trans da Nova Zelândia, fez história ao entrar no ginásio do levantamento de peso nesta segunda-feira (2). Em menos de 20 minutos de aparição, infelizmente ela foi desclassificada, porém a sua presença em Tóquio já é suficiente para tornar esta edição olímpica emblemática.
Halterofilista, foi a primeira atleta trans a disputar o levantamento de peso feminino. Laurel competiu na categoria acima de 87 quilos, que só ocorreu depois de a Federação Internacional da modalidade permitir.
Leia também: Mais uma de nós que se vai
Críticos argumentam que é injusta sua participação em uma categoria composta de mulheres cisgêneros, relatando que a estrutura física de Laurel é superior e também trouxeram o fato dela ter tido treinamento físico pesado antes da transição de gênero.
COI defendeu participação de atleta trans
O Comitê Olímpico Internacional (COI) defendeu a entrada de Hubbard nos Jogos de Tóquio, com apoio de Richard Budgett, diretor médico do COI. Segundo ele, “mulheres trans são mulheres” e devem ser incluídas no esporte feminino. “A ciência ajudará, a experiência ajudará e o tempo ajudará”, disse.
Laurel Hubbard preencheu o requisito do COI sobre o nível de testosterona no sangue – inferior a 100 nanogramas por decilitro de sangue.
Enquanto os conservadores atrasados aos tempos perseguem os direitos de nossa comunidade, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, por meio de uma ordem executiva publicada no dia 20 de janeiro, suspendeu qualquer tipo de discriminação a transgêneros no país, o que inclui o esporte estudantil estadunidense.
Já no Brasil, o conservadorismo e a perseguição contra a pauta de identidade de gênero trazem tristes números, segundo levantamento da Agência Lupa, a primeira agência de fact-checking do Brasil, desde 2019 sete projetos que pretendem barrar a participação de atletas trans em competições esportivas, foram apresentados na Câmara dos Deputados.
Já na esfera estadual, ao menos 13 proposições tramitam ou tramitaram em 11 assembleias legislativas: Amazonas, Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo.
Todas as propostas defendem que o sexo biológico seja o único critério utilizado em competições esportivas, obrigando homens e mulheres trans a competirem pelo gênero com o qual não se identificam. Como punição em caso de descumprimento, alguns textos propõem multas a federações, entidades e clubes que podem ultrapassar R$ 200 mil.
Revista científica também defende atletas transgêneros
A revista Scientific American defendeu a participação de transgêneros em competições esportivas de escola do nível médio. A reportagem deixa nítido que algumas meninas trans não são as únicas garotas em alguns casos com altos níveis de testosterona. Cerca de 10% das mulheres têm síndrome de ovários policísticos, que resulta em altos níveis de testosterona e elas não são proibidas de participar de competições.
A revista cita a especialista Katrina Karkazis, que disse o seguinte: “Estudos sobre os níveis de testosterona em atletas não mostram nenhuma relação clara e consistente entre testosterona e desempenho atlético. Algumas vezes, a testosterona é associada a um melhor desempenho, mas outros estudos mostram um elo fraco ou nenhum elo. E outros mostram que a testosterona é associada a um pior desempenho”.
Esperamos mais do espirito olímpico do que as competições, esperamos inclusão e a união de todxs como rege a “Lex Máxima” do Movimento Olímpico, cujos princípios e regras importa conhecer e respeitar.
Tathiane Araújo é presidenta da Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil e secretária Nacional do segmento LGBT Socialista/ PSB – [email protected]