O procurador do Ministério Público Federal (MPF) de São Paulo Anderson Vagner Gois dos Santos chocou colegas e provocou indignação após escrever em uma lista de mensagens interna do órgão que o feminismo é um transtorno mental e que as mulheres têm “débito conjugal” com os maridos, o que ele afirma que deve levar “à dissolução da união” e “perda de todos os benefícios patrimoniais”.
O que comprova mais uma vez que o machismo é um problema estrutural e que as mulheres são prejudicadas em seus direitos por interpretações misóginas da legislação.
Por conta disso, ele se tornou alvo de representações na Corregedoria do MPF.
A mensagem intitulada “Feministos e Feministas” é um compilado de absurdos misóginos publicados por ele, na segunda-feira (18), como “a feminista normalmente é uma menina que teve problemas com o (sic) pais no processo de criação e carrega muita mágoa no coração. Normalmente é uma adolescente no corpo de uma mulher. Desconhece uma literatura de qualidade e absorveu seus conhecimentos pela televisão e mais recentemente pela internet.”
Em outro trecho, afirma que “na maioria das vezes, a sua busca por empoderamento é na verdade uma tentativa de suprir profundos recalques e dissabores com o sexo masculino gerado pelas suas próprias escolhas de parceiros conjugais. Muitas em verdade tem vergonha da condição feminina. Acredito que daqui a algum tempo deverá existir um CID para esse transtorno mental”, ao se referir a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), usada, por exemplo, em atestados médicos para identificar doenças.
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‘Drama dos homens’
Em outro trecho, ele afirma que “o progressismo nos convenceu que o cônjuge não tem qualquer obrigação sexual para com o seu parceiro, levando muitos à traição desnecessária, consumo de pornografia e ao divórcio”, o que remete ao estupro dentro do casamento, drama vivido por milhares de mulheres que sofrem violência sexual por parte de seus próprios companheiros que usam justamente esse argumento.
Na avaliação dele, “esse é um drama vivido muito mais pelos homens diante das feministas ou falsas conservadoras.”
O procurador defende punição para as mulheres que se negarem a fazer sexo com seus maridos.
“A esposa que não cumpre o débito conjugal deve ter uma boa explicação sob pena de dissolução da união e perda de todos os benefícios patrimoniais”, afirma Santos.
Em outra mensagem, fez uma citação da bíblia e disse que é “de fundamental importância recuperar a ideia do débito conjugal no casamento. O marido pague a sua mulher o que lhe deve, e da mesma maneira a mulher ao marido”, disse ao citar o livro de Coríntios.
À GloboNews, o procurador alegou que o comentário sobre “débito conjugal” foi feito para levantar o debate sobre a monogamia e se deveria existir a criminalização do adultério, o que, de acordo com ele, teria surgido após decisões judiciais tomadas a partir da falta de relações sexuais para anular casamentos.
Com informações do Terra e g1