O protagonismo negro e feminino é o tema de 2023 da Estação Primeira de Mangueira. O enredo “As Áfricas que a Bahia Canta” trará para o carnaval carioca as visões do continente a partir da musicalidade preservada por milhares de pessoas trazidas escravizadas para o Brasil, as lutas contra a intolerância e o racismo e pelo fortalecimento da identidade afrobrasileira.
O enredo que vai ser escolhido para embalar a da Verde e Rosa na avenida vai abordar passagens da história preta do carnaval normalmente deixadas de lado na história da maior festa do país, como os cortejos pré e pós abolição da escravatura, os cucumbis e clubes negros.
A folia não é meramente uma festa, mas entendida como um espaço central no processo de construção da identidade afro-brasileira.
Farão parte do desfile o resgate de saberes e práticas ancestrais assim como a luta pela inserção e reconhecimento da cultura afro-brasileira no carnaval assim como a luta contra intolerância religiosa e racial dos Afoxés, as denúncias de desigualdade social pela arte dos blocos afros e a expansão da afrobaianidade pelos cantares do axé, entre outros.
Tudo isso a partir do protagonismo das mulheres pretas – mães, deusas, rainhas – que usaram suas vozes e ‘corpas’, como a própria Mangueira reverencia, para contar, louvar e cantar para e pelos seus.
O desfile se divide em cinco formas históricas de cortejo negro do carnaval baiano: os cucumbis; os clubes uniformizados; os afoxés; os blocos afro; e o axé com recorte temporal do século 19 até os dias de hoje.
Leia também: Grande Rio é campeã do carnaval do Rio com desfile antológico sobre Exú
Sobrevivência e desafio ao poder vigente
Não como não falar no horror da escravidão e a luta pela própria sobrevivência literal e simbólica de milhares de homens e mulheres que aqui chegaram forçadamente. Os cucumbis, por exemplo, que serão celebrados no desfile, são uma apresentação de corte, que desafiava a lógica escravocrata ao representar africanos e africanas em posição de destaque e poder, como realeza.
Somado a isso, com origem na cultura banto, cantavam em sua língua natal acompanhados por xequerês, ganzás, chocalhos, tamborins e agogôs.
Ouça aqui e confira abaixo a letra de um dos sambas concorrentes, composto por Nelson Rufino, Dudu Nobre, Igor Leal, Rute Labre e Gustavo Clarão.
Participação especial: Arlindinho Neto e Alex Doria
Intérprete: Evandro Malandro
OYÁ
DERRAME ESSA MAGIA
QUE VEM LÁ DA BAHIA
MÃE ÁFRICA DO BRASIL
IAIÁ
OUÇA OS SEUS TAMBORES
PROVA DOS SEUS SABORES
ESSE POVO NEGRO
QUE SEDUZIU
CANTAR
E ACENDER A CHAMA
PRA PROCISSÃO QUE CLAMA
SERÁ “LIBERDADE OU ILUSÃO”
OBÁ, XANGO, OXOSSI, OGUM
PAI OXALÁ, OXUM
YEMANJÁ E OMULU NO BATICUM
DANÇA DE CAPOEIRA
CORTEJO PROS ORIXÁS
FEITIÇARIAS, CANTORIAS, RITUAIS
É AFRODESCENDÊNCIA
A BAIANA REZADEIRA
RAINHA NA ESTAÇÃO PRIMEIRA
A ARTE EM FANTASIA
É RESISTÊNCIA DO PRÓPRIO “SER”
A DOR E A ALEGRIA DA BAHIA
TEM PODER
OLODUM, ILÊ AYÊ
MUZENZA E OUTROS MAIS
SALVE A COR DA LIBERDADE
NEGRA BAIANIDADE
DOS IDOS CARNAVAIS
MANGUEIRA A FORÇA DO MEU SAMBA
SUOR DE GENTE BAMBA
A LUZ DOS ANCESTRAIS
VAI TER DENDÊ E ACARAJÉ
NO MEU PADÊ, AXÉ
CHEGOU MANGUEIRA NO COURO DO TAMBOR
QUE CANTA EM BANTU, GEGÊ, ANGOLA E NAGÔ
Liderança feminina histórica
A Mangueira passou por grandes mudanças desde o último Carnaval, quando ficou em sétimo lugar. Guanayra Firmino foi eleita a primeira mulher para presidir a Verde e Rosa, em junho. A Mangueira passou por mudanças desde o último Carnaval, quando ficou em sétimo lugar.
Guanayra Firmino foi eleita a primeira mulher para presidir a Verde e Rosa, em junho. Nascida e criada no Morro da Mangueira, é bisneta de Júlio Dias Moreira, que foi o segundo presidente da agremiação, de 1935 a 1937, é filha da baluarte e presidente da Velha Guarda da Mangueira, Emergenilda Dias Moreira, a Dona Gilda, e de Roberto Firmino, presidente de 1992 a 19995.
Confira aqui os sambas concorrentes.
Com informações da Veja Rio