Um dos objetivos alegados pelo presidente Vladimir Putin para justificar a invasão russa à Ucrânia é “desnazificar” o país. Embora ele não tenha deixado claro quem são os neonazistas que pretende combater, a primeira referência – para além de Adolf Hitler -, é dos grupos que ganharam força no país a partir da revolução de 2014.
“Vamos tentar alcançar a desmilitarização e desnazificação da Ucrânia. E levar à Justiça aqueles que realizaram múltiplos crimes sangrentos contra civis, incluindo cidadãos da Federação da Rússia”, disse o líder russo em trecho de seu discurso.
Um dos crimes sangrentos a que Putin se refere, ocorreu no dia 2 de maio, de 2014 e ficou conhecido como “Massacre na Casa dos Sindicatos”, quando grupos neonazistas, que estavam em ascensão na Ucrânia após o Euromaidan, o levante que derrubou o governo de Viktor Yanukovych, que era pró-Rússia.
O ataque foi organizado pela milícia paramilitar neonazista Pravyy Sektor (Setor Direito, em português) e reuniu mais de mil pessoas que invadiram o prédio que era sede de organizações sindicais e do comitê regional do Partido Comunista da Ucrânia.
Mais de mil militantes da extrema direita participaram do ataque, que matou 39 pessoas carbonizadas. Outras pessoas que pularam do prédio em chamas, foram mortas do lado de fora.
Parte dos manifestantes que atacaram o prédio usavam suásticas e insígnias fascistas. Estavam armados com bastões, escudos e correntes de metal.
“O nosso objetivo é limpar completamente Odessa dos pró-russos”, disse Dmitry Rogovsky, um dos líderes do Pravyy Sektor.
A polícia ucraniana assistiu a tudo sem fazer nada para impedir o massacre.
Neonazistas no poder
O jornalista André Fran, do Estadão, que esteve na Ucrânia para contar a história da Euromaidan, em 2014, relata que conversou com uma manifestante, que preferiu não revelar seu nome, que foi muito ativa nos protestos separatistas daquele ano.
Ela contou ao jornalista que grande parte dos que participaram dos protestos era formado por nacionalistas, extremistas e fascistas.
Membros de torcidas organizadas de times locais, acostumados com brigas e confusões, foram para a linha de frente e protegiam os demais manifestantes.
Com isso, ganharam respeito dos separatistas e se uniram a outras organizações para formar o Pravyi Sektor, formada por grupos radicais formados por patriotas de extrema-direita da Ucrânia e considerada neonazista pelo governo russo.
A partir daí, resolveram se lançar na política. Formaram um partido e conquistaram cargos no governo.
E o bolsonarismo?
Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados têm dado inúmeras demonstrações de aproximação com o neonazismo.
O deputado bolsonarista Daniel Silveira (União-RJ), preso por ameaças à democracia e aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), já postou em suas redes sociais que “é hora de ucranizar o Brasil”.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), viajou ao país para fazer lobby pela compra de armas e já postou comercial das Forças Armadas da Ucrânia em seu Twitter.
A ex-bolsonarista Sara Winter, presa após lançar fogos de artifício contra o STF, alega ter tido treinamento na Ucrânia. Não se sabe que treinamento foi esse, caso tenha de fato existido.
Para além desses, o governo de Jair Bolsonaro contabiliza vários episódios que ascenderam o alerta para o crescimento do neonazismo no Brasil.
O próprio Bolsonaro recebeu duras críticas após se reunir com a deputada alemã Beatrix von Storch, do Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema direita alemão. Também participaram do encontro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e a deputada Bia Kicis (PSL-DF).
Em março do ano passado, o assessor internacional da Presidência, Filipe Martins, fez um sinal de “ok” durante fala do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). O gesto é usado por movimentos supremacistas brancos. No final das contas, Martins não sofreu qualquer tipo de punição.
Em janeiro do mesmo ano, o então secretário Especial da Cultura, Roberto Alvim, foi demitido após divulgar um vídeo com falas semelhantes a um discurso do ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels.
Com Marcelo Hailer, da Fórum, e informações do Poder 360 e BBC