O crescimento de grupos neonazistas no Brasil sob o governo de Jair Bolsonaro (PL) tem chamado a atenção fora do Brasil. As ligações de brasileiros com organizações paramilitares da Ucrânia reforçam os perigos de que esses extremistas tentem começar guerras raciais por aqui. Aliado a isso, Bolsonaro trabalha para armar a população – mais especificamente, seus aliados – em inúmeras intimidações que faz aos seus oponentes, que na lógica dele inclui os demais poderes da República.
Não é de hoje que Bolsonaro flerta com ideologias fascistas e nazistas. O discurso nacionalista, o ódio à esquerda e o apelo à violência guardam certas semelhanças com o governo mussoliniano, por exemplo, além das diversas denúncias de ligações do presidente com grupos neonazistas.
“Quando ele [Bolsonaro] afirma que dispõe do maior poder de fogo do Pais através de CACs e cidadãos armados , ele está em primeiro lugar desmoralizando e ameaçando as Forças Armadas brasileiras. Depois está ameaçando a democracia brasileira , a qual as Forças Armadas tem o dever constitucional de defender . Numa democracia não cabe ao “povo armado” defender o estado de direito democrático”, critica Domingos Leonelli, ex-deputado constituinte, membro da Executiva Nacional do PSB e coordenador o site Socialismo Criativo.
Numa clara ação eleitoreira, o governo Bolsonaro emite diversos sinais aos donos de armas de fogo e munições ilegais e ensaiou, em fevereiro, uma anistia sem multa ou qualquer outra punição
Em abril do ano passado, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber suspendeu trechos dos quatro decretos editados Jair Bolsonaro que facilitam o porte e a posse de armas de fogo. A decisão, em caráter de urgência, foi tomada em resposta a uma ação do Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Guerra racial no Brasil
Colaborar da Red Fish, uma plataforma de mini documentários sediada em Berlim, Alemanha, o jornalista Brian Mier teme que os extremistas brasileiros consigam dar início a uma guerra racial no Brasil a partir dos treinamentos de combate e de ideologias neonazistas feitos na Ucrânia.
“Durante os últimos anos sabemos que milhares de neonazistas brasileiros têm viajado para a Ucrânia para lutar junto de grupos como Azov, na região de Donbass e recebem algum tipo de formação política em questões como começar guerras raciais e coisas do tipo”, alerta.
O Batalhão Azov começou como uma milícia voluntária da extrema-direita que foi incorporada à Guarda Nacional ucraniana, em 2014, durante a anexação da Criméia pela Rússia.
O jornalista lembra as investigações da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, em 2016, que descobriu que representantes de outro grupo neonazista, o Misanthropic Division, estava recrutando brasileiros para lutar em Donbass junto ao Azov.
O Misanthropic Division é outro grupo paramilitar de extrema-direita que emergiu durante as revoltas nacionalistas na Ucrânia em 2014 e participou da derrubada do presidente Viktor Yanukovych. O grupo é acusado de diversas violações dos direitos humanos.
Ex-feminista, ex-bolsonarista, mas sempre extremista
Mier lembra também a ultradireitista Sara Giromini, que adotou o sobrenome Winter em referência a espiã nazista Sarah Winter, que alega ter sido treinada na Ucrânia.
Sara, a Giromini, foi expulsa do movimento ucraniano feminista Femen, em 2012, por “sumir” com o dinheiro de protesto e espalhar mentiras. Antes, havia sido ameaçada de expulsão do movimento justamente por sua aproximação com a extrema-direita.
Já em 2020, disseminadora de fake news contumaz e aliada de primeira hora de Bolsonaro, foi presa por após lançar fogos de artifício contra o STF e fazer ameaças à democracia.
Leia também: Quem são os neonazistas ucranianos e suas relações com o bolsonarismo
Abandonada pelo bolsonarismo, bateu à porta da Procuradoria-Geral da União (PGR) ameaçando entregar todo mundo. Nos últimos dias, voltou ao noticiário por pedir ajuda para pagar indenização por chamar a antropóloga Débora Diniz de “maior abortista do Brasil”.
O jornalista citou ainda o deputado bolsonarista Daniel Silveira (União Brasil-RJ), que tenta faturar politicamente com sucessivos ataques ao STF e à democracia, além descumprir medidas judiciais.
Apito de cachorro de Bolsonaro
Mier ressalta o crescimento de 270% de grupos neonazistas no Brasil desde que Jair Bolsonaro assumiu o poder em 2019.
“Uma das razões para isso é que ele claramente os capacita. Ele mesmo é alguém que escreveu cartas para sites neonazistas os agradecendo e dizendo coisas como ‘vocês são a razão de eu estar na política’. Em outra ocasião na TV ele disse que teria lutado no exército de Hitler com o maior prazer. Ele é alguém com tendências fascistas que fala sobre matar todos os comunistas do Brasil. Quando ele fala em legalização e que as pessoas podem matar comunistas, é um apito de cachorro para os grupos neonazistas”, afirma o jornalista.
Leia também: Bolsonaro: grupos neonazistas e o fascismo contemporâneo
Bolsonaro emite sinais para os extremistas e eles se sentem livres para agir, avalia Mier, que lembra ainda das ameaças sofridas pelo vereador Leonel Radde (PT), de Porto Alegre, alvo de intimidações constantes de neonazistas que chegaram a dizer que tanto ele como Lula (PT), que vai disputar a presidência, serão mortos em outubro.
Assim como todas as vereadoras negras, muitas das quais são as primeiras mulheres pretas a se elegeram para o cargo.