Um relatório elaborado pelo Congresso dos Estados Unidos lançou por terra a teoria apregoada pelo chanceler Ernesto Araújo de que a declarada admiração e proximidade entre Jair Bolsonaro (sem partido) e Donald Trump é recíproca e têm rendido frutos políticos ao Brasil.
Um documento de análise interna das relações Brasil-EUA feito pelo CRS (Serviço de Pesquisa do Congresso, na sigla inglesa) divulgado no último domingo (26) aponta que o Brasil oferece riscos em razão “de suas preocupações acerca da erosão da democracia, direitos humanos e proteções ambientais sob Bolsonaro”. O texto também menciona possíveis resistências a parcerias que podem vir a ser seladas com o governo brasileiro.
“Apesar de parecer considerável apoio no Congresso para formar uma parceria estratégica de longo prazo com o Brasil, muitos membros [das Casas] podem relutar em fazer avançar grandes acordos comerciais bilaterais ou iniciativas de segurança no curto prazo”, escreve o especialista em América Latina, Peter J. Meyer.
No texto, Meyer lembra, inclusive, que a postura tem sido criticada internamente pelos sucessivos episódios em que Trump esnobou Bolsonaro, ainda que tenha havido progressos em algumas áreas como defesa e segurança.
“As relações se aproximaram desde 2019, já que a política externa do presidente Bolsonaro priorizou o alinhamento à administração Trump. Mesmo assim, diferenças de políticas surgiram acerca de questões sensíveis”, diz o texto.
Entre as diferenças apontadas estão as barreiras de comércio bilateral e a questão da relação com a China, adversária estratégica dos EUA.
Relações com a China
Desde o começo do governo, há divergências internas em relação à potência asiática. A ala dita ideológica, que tem Ernesto como expoente, quer se afastar de Pequim pelo fato de a ditadura local ser comunista e aliada do que considera globalismo.
Já a outra vertente, liderada pelo filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, arrumou um imbróglio diplomático quando endossou críticas à gestão da pandemia do novo coronavírus pelos chineses.
Setores mais pragmáticos, como a Agricultura, liderada pela ministra Tereza Cristina, e militares no governo como o vice-presidente Hamilton Mourão, acenam sempre que possível ao maior parceiro comercial brasileiro.
Próxima batalha
O próximo foco da disputa será na permissão para que a chinesa Huawei forneça infraestrutura de redes 5G no país, algo que os EUA querem impedir sob alegação de risco de segurança de dados.
Sobre o assunto, o texto lembra que isso poderá colocar em risco os acordos de defesa e segurança estabelecidos desde que o Brasil virou parceiro militar preferencial americano, fora do escopo da Otan (a aliança ocidental).
Também é lembrado que há uma resolução na Câmara pedindo o fim do status e de parcerias militares devido ao prontuário brasileiro de direitos humanos, ao mesmo tempo em que alguns congressistas pedem maior proximidade.
Apoio incondicional
Enquanto isso, o governo brasileiro segue apoiando a política de Trump desde o primeiro discurso de Bolsonaro, após vencer as eleições em 2018, quando elegeu o presidente americano como ídolo. No sábado (4), pouco antes de apresentar sintomas da covid-19, diagnosticada na terça, o presidente esteve da festa da independência americana promovida na embaixada em Brasília.
O CRS, que existe desde 1914, é responsável por alimentar 435 membros da Câmara e 100 do Senado com informações sobre temas discutidos nas duas Casas e não está ligada diretamente a nenhum dos dois partidos políticos, Republicanos ou Democratas. O órgão capta também as posições de congressistas, além daquelas expressamente difundidas.
Com informações da Folha de S.Paulo.