A saída precoce do ministro da Saúde, Nelson Teich, gerou uma nova avalanche de críticas ao governo federal nesta sexta-feira (15). Além de divergência sobre o uso da cloroquina, fontes apontam que o estopim para que Teich pedisse a exoneração, ocorreu após um novo surto do presidente, ao descobrir que o protocolo adotado na pasta para o uso do medicamento ainda era o da gestão de Luiz Henrique Mandetta, demitido do cargo há 28 dias.
“É inacreditável que o governo seja tão irresponsável ao ponto de exonerar dois ministros da saúde em plena pandemia, apenas pelo fato de eles se comportarem de acordo com as orientações científicas que a crise sanitária exige”, definiu o presidente do PSB, Carlos Siqueira.
Líder do partido na Câmara, Alessandro Molon (RJ) pediu basta às crises políticas para que o país possa avançar no combate à pandemia. “Dois ministros da Saúde, 14 mil mortos pelo coronavírus. Mais de 200 mil casos. Nenhum plano sério! Bolsonaro não quer um ministro técnico; ele quer alguém que concorde com suas insanidades ideológicas. O pedido de #ImpeachmentJá apresentado pelo PSB precisa avançar!, defendeu.
Usando uma imagem dos representantes do Governo, Molon lembrou, ainda, do esvaziamento da cúpula de aliados de Bolsonaro.
14 mil mortes
Segundo o último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde, o Brasil passou a marca dos 200 mil infectados pelo novo coronavírus, com o recorde de 13.944 novos registros na quinta (14). O número de óbitos subiu de 13.149 para 13.993, um aumento de 844 registros nas últimas 24 horas.
Os números seguem aumentando no país enquanto Bolsonaro defende o fim das medidas de isolamento, mesmo com o colapso da estrutura de saúde na maior parte dos estados. O presidente também advoga pelo uso da cloroquina como medicamento para tratamento da covid-19, apesar do respaldo científico de efeitos colaterais graves em pacientes.
Os números divulgados ontem foram usados pelo deputado federal Bira do Pindaré (PSB-MA) como alerta à gravidade da situação. “No dia em que ultrapassamos 14 mil mortes em razão da pandemia do coronavírus, cai o segundo ministro da saúde do governo Bolsonaro. Não aguentou a pressão para negar a ciência em nome da insanidade desumana do seu chefe. Só existe uma solução: demitir Bolsonaro. Já deu, já era!”, declarou.
Necropolítica
Para Camilo Cabiberibe (AP), as mudanças drásticas no comando da pasta traduzem a clara falta de liderança do país e a opção do Governo em trilhar o rumo do “obscurantismo” e da “necropolítica”. “O fracasso das gestões à frente do ministério da saúde revela mais a falta de compromisso em combater a pandemia do coronavírus e a ausência de rumo do presidente Jair Bolsonaro do que dos seus ministros. Ambos caíram muito mais pelas suas qualidades do que pelos seus defeitos”, traduziu o parlamentar.
Para a socialista Lídice da Mata (BA), o ministro da Saúde não resistiu à “política genocida” do Governo Federal. “Ciência e esse negacionismo não têm como caminhar juntos”, definiu.
Pesaroso, o deputado Aliel Machado (PR) disse faltar “adjetivos” para “classificar um Governo sem planejamento e nenhuma responsabilidade”. “Em meio à pandemia sem precedentes no país, mais um ministro da Saúde demitido”, lamentou.
Cortina de fumaça
A crise do Governo se aprofunda no momento em que os números de óbitos e contaminações atingem novos pontos da curva da pandemia e em que novas denúncias agravam a situação de Bolsonaro na presidência.
Com nove ministros afastados em 17 meses de Governo, Bolsonaro viu sua situação se agravar depois das denúncias feitas pelo ex-ministro Sérgio Moro sobre a tentativa de interferência no comando da Polícia Federal serem confirmadas na transcrição dos diálogos entregue pela Advocacia-Geral da União (AGU) ao Supremo Tribunal Federal (STF).