
A empresária Luiza Trajano, que se tornou a voz do empresariado brasileiro, atua em diversas frentes para colocar na prática as suas ideias dentro e fora dos seus negócios. Eleita uma das 100 mulheres mais influentes do mundo, em 2021, pela revista norte-americana Time, descarta ser candidata. O que não a impede de ser ‘política’, como ela mesma diz.
Em entrevista à plataforma Mina – Bem-Estar, Luiza Trajano falou sobre seu lado socialista, seu flerte com a política, sua atuação na pandemia da covid-19 e o que é o bem-estar, entre outros.
É tema de uma extensa matéria do jornal The New York Times publicada este mês. O periódico destaca a defesa implacável das vacinas e sua mobilização para pressionar o governo a agir rapidamente e imunizar a população.
A empresária, que chegou ao posto de segunda mulher mais rica do país em 2019, com um patrimônio estimado em R$ 23 bilhões, ela se destaca por não apenas defender políticas de inclusão, mas por aplicá-las. Em 2020, 100% das vagas do programa de formação de líderes do programa de formação de líderes do Magazine Luiza foi destinado para pessoas negras.
“Aprendi muito cedo o que é empatia, trabalhei durante um longo tempo no balcão. Empatia é você trocar com o outro, no mundo do outro”, afirmou ao Mina.
Trajano é membro fundadora do grupo Mulheres do Brasil, que lança em breve a campanha ‘Pula pra 50’. O intuito é estimular o aumento de mulheres na política nacional para 50%. Atualmente, está por volta de 12%.
A empresária conta que é de uma família em que as mulheres sempre trabalharam. Por isso, afirma que consegue se blindar do machismo.
“Não me irrito, mas nunca deixo qualquer situação de reprodução do machismo passar batido. Nunca deixo barato, reajo e me coloco na hora”, disse.
Questionada se é feminista, Trajano é direta.
“Se ser feminista é ser a favor da igualdade entre homens e mulheres, sou sim. Mas temos que tomar cuidado com as palavras. Por exemplo, o termo socialismo. Um dia desses me definiram como uma “empresária socialista”. Olha, se socialista é quem é a favor da igualdade social, sou socialista desde os 10 anos”
Luiza Trajano
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Lado socialista de Luiza Trajano
A empresária afirma ser “completamente a favor das cotas”. Avalia ser parte de um processo transitório para “acertar as desigualdades, tanto em relação aos negros, quanto às pessoas com deficiência, às mulheres”.
“Se houve uma escravidão de quase 400 anos, com uma abolição que não existiu e que deixou marcas terríveis na nossa sociedade, é preciso oferecer oportunidades. Senão, não tem jeito. E muitos dos processos históricos do nosso país tornaram-se crenças limitantes, das quais temos que nos libertar”
Luiza Trajano
Atuação política não depende de candidatura
Quando questionada se tem medo de entrar na política, ela afirma que a atuação política dela é na sociedade civil.
“Sei que não quero entrar na política partidária porque acho que para isso é preciso ter uma vivência anterior nesse universo e aceitar negociar sempre, o que é normal nesse mundo. Só que, para mim, uma coisa é você precisar alinhar interesses, outra coisa é ter de negociar e ceder em algo que não gosta e não acredita”
Luiza Trajano
Afirma sempre ter sido política – desde a infância. Lembra ainda que “todas as transformações do mundo vieram através de uma sociedade civil organizada” e que “não existe uma pessoa que vai lá e salve a pátria sozinha”.
“Não sou candidata, mas sou uma política. E acredito que vamos fazer diversas coisas ainda este ano e estar muito presentes, porque nós não somos A, B ou C, somos um projeto com um número grande de mulheres envolvidas, muitas de nós líderes no Brasil e no mundo. Então, o Mulheres do Brasil tem força para fazer propostas para o governo, para o Senado e tudo mais.
Pós-pandemia para as mulheres
Luiza falou sobre os desdobramentos do país pós-pandemia para as mulheres.
“Sei que, pós-pandemia, houve dois lados, a mulher que ficou em casa vítima de violência, e essa realidade piorou bastante. E a mulher que ficou muito em evidência politicamente e também nas empresas. A pandemia acelerou a gestão mais orgânica que já vinha acontecendo. E todo mundo percebeu que a mulher está muito mais preparada para a gestão orgânica. O avanço das mulheres vem sendo conquistado gradativamente”, analisa.
E compara com o cenário de alguns anos atrás, quando defendia a formação de um grupo de mulheres.
“Era uma coisa muito distante. Hoje em dia, o grupo Mulheres do Brasil está com cento e tantas mil mulheres e é tudo mais fácil. O cenário é diferente, de quatro anos para cá, muita coisa mudou.
Para 2022, o grupo pretende fortalecer sua atuação na busca de maior representatividade feminina nos espaços de poder.
“Dentro das nossas premissas, que são liberdade, igualdade, democracia, educação e saúde para todos. O nosso grupo procura fazer uma campanha muito forte que chama Pula para 50 e busca ocupar 50% de cadeiras efetivas do Congresso Nacional com mulheres. E mesmo que tenhamos 30% em um primeiro momento, vamos aumentando a régua, já que hoje temos 12% de mulheres na política”
Luiza Trajano
Bem-estar no Brasil de agora
Luiza Trajano destaca que “bem-estar, hoje, para a maioria dos brasileiros é ter comida na mesa e uma casa para morar, tendo em vista que na pandemia essa situação piorou muito para a maioria das pessoas, sobretudo, no sertão.”
“Nós temos um déficit de habitação de 20 milhões de moradia. Então, para mim, bem-estar é ter oportunidade de partida. Quer dizer, primeiro é necessário ter o básico e, a partir daí, o bem-estar diz respeito à alimentação saudável, fazer exercícios que gosta, cuidar da natureza e se sentir bem perto dela, etc.”, pontua.