O Ministério Público (MP) do Amapá instaurou inquérito para investigar o secretário de Saúde do município de Serra do Navio, a 203 quilômetros de Macapá, por supostamente ter ‘furado a fila’ para se imunizar contra a Covid-19.
Randolph Scoot recebeu a dose na terça-feira (19), um dos primeiros na localidade. Pelas redes sociais, ele chegou a contestar eficiência do imunizante em outubro e em dezembro de 2020.
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“O doente mental quer obrigar nosso povo a usar a vacina chinesa. Já não basta a porra deste vírus chinês?”, escreveu o secretário em 22 de outubro, em referência ao governador de São Paulo, João Dória (PSDB).
Em outra postagem, no mesmo dia, Scoot mais uma vez atacou a vacina que meses depois tomou. “Nós não somos cobaias”, refutou.
O inquérito quer saber se o gestor “se beneficiou do cargo em detrimento de profissionais de saúde”.
De acordo com o Plano de Imunização de Serra do Navio, serão imunizados “todos os trabalhadores da Saúde”, abrangendo todas as especialidades e funções das equipes de multiprofissionais.
O Amapá recebeu na terça-feira (19) pouco mais de 30 mil doses do imunizante para serem distribuídos aos municípios. No mesmo dia, Serra do Navio recebeu um lote com 89 doses.
“Vacina do Butantan”
Ao UOL, Scoot disse que atua na linha de frente de combate à pandemia por se reunir cotidianamente com profissionais de saúde e a comunidade.
“Temos quase 90 trabalhadores. Um deles sou eu, que estou direto na linha de combate. Vamos levar nosso plano de imunização ao MP e relatórios das nossas ações que geraram até prêmios de combate à pandemia. Quem coordena, reúne com a comunidade e demais servidores sou eu, pois sou secretário e estou nessa linha de frente”, justificou.
Sobre as declarações contrárias a vacina, o secretário usou o mesmo método do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e desconversou o que havia afirmado meses atrás. Segundo Scoot, ele “não tomou vacina da China” para se imunizar contra a Covid-19. “Tomei [a vacina] do Butantan”, afirmou.
O MP pediu que o secretário se manifeste em até 48 horas. Caso seja constatada alguma irregularidade, ele poderá responder por improbidade administrativa na esfera cível e por infração de medida sanitária preventiva no âmbito criminal.
MP atua em outros estados
Políticos, profissionais recém-nomeados e até um chefe de um setor de informática e um fotógrafo estão entre as pessoas que já receberam a vacina contra a Covid-19 no Brasil.
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Com o avanço da vacinação pelo país, mas com apenas 6 milhões de doses disponíveis inicialmente, crescem os relatos de “fura-filas” nos Estados. Além do caso do Amapá, o Ministério Público informou que está acompanhando denúncias em ao menos outros oito estados: Pernambuco, Sergipe, Amazonas, Rio de Janeiro, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Bahia, além do Distrito Federal.
Os casos podem culminar com ações penais e processos de improbidade administrativa.
Com informações do UOL e Estadão