O primeiro grupo de soldados dos Estados Unidos para reforçar o contingente da Otan no Leste Europeu chegou neste domingo (6) à Polônia, informou o major do exército polonês Przemyslaw Lipczynski.
Ele também disse que a maior parte dos 1.700 soldados estadunidenses que serão enviados ao país chegará “em breve”. Na sexta-feira, também desembarcaram na Alemanha os primeiros militares estadunidenses enviados como reforços.
O envio dos soldados ocorre em meio a temores de que a Rússia possa invadir a Ucrânia, já que Moscou estacionou mais de 100.000 militares próximo à fronteira com o país sem uma justificativa clara.
A Rússia nega planos de invadir a Ucrânia, mas diz que pode tomar medidas militares não especificadas se suas exigências não forem atendidas. Entre outras coisas, o Kremlin quer que a Otan se comprometa a nunca admitir a Ucrânia como membro. A Aliança Atlântica disse que não aceitará.
Rússia tem 70% de recursos para invadir Ucrânia
De acordo com duas autoridades estadunidenses, o presidente russo, Vladimir Putin, já reuniu 70% do pessoal militar e armas nas fronteiras da Ucrânia que ele precisaria para uma invasão em grande escala do país. O número é uma estimativa com base nas últimas avaliações de inteligência, mas as autoridades não especificaram a informação que possuíam ou como desenvolveram suas avaliações, citando a sensibilidade de como coletam os dados.
Sem saberem se Vladimir Putin já terá decidido avançar, os serviços de informação dos EUA acreditam que o presidente russo quer estar preparado para todas as opções possíveis, da invasão parcial do enclave separatista de Donbass a uma invasão total.
Não é a primeira vez que Washington antecipa que uma operação militar em grande escala poderia ser lançada. Já no início de dezembro, os serviços secretos diziam ter “provas de que a Rússia fez planos para movimentos significativos contra a Ucrânia”. De acordo com um documento obtido pelo jornal The Washington Post, a invasão à Ucrânia estaria sendo planejada para o início do ano, com uma ofensiva em várias frentes, envolvendo cerca de 175 mil soldados.
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Os novos avisos, feitos por responsáveis citados pelo The Washington Post e pelo jornal The New York Times, apontam para um cenário em que a Rússia poderia tomar a capital ucraniana, Kiev, rapidamente, resultando em pelo menos 50 mil civis mortos ou feridos.
De acordo com Washington, a Rússia contava, até sexta-feira (4), com 83 “batalhões táticos” (cada um tem entre 750 e 1000 soldados), com mais 14 a caminho. No cenário de uma invasão em grande escala, a Rússia quer usar 110 a 130 batalhões, mas para incursões mais limitadas não serão necessários tantos. Para uma invasão total, contando com unidades de apoio, o Kremlin deverá querer ter 150 mil tropas preparadas. Com o ritmo atual de mobilização, afirma os EUA, esse momento deverá chegar nas próximas duas semanas.
Loucura e alarmismo por parte dos EUA
“A loucura e o alarmismo continuam… e se disséssemos que os EUA poderiam tomar Londres em uma semana e causar 300 mil mortes civis?”, reagiu indignado no Twitter o vice-embaixador da Rússia na ONU, Dmitri Polianski. A Rússia tem negado ter planos para uma invasão e acusado os EUA de exacerbarem tensões com o envio de tropas, armas e equipamentos para a Ucrânia, isto ao mesmo tempo que negocia com Washington e com a Otan a partir de uma lista de exigências que inclui a garantia de que Kiev não irá nunca aderir à Aliança Atlântica.
Os EUA afirmaram repetidas vezes que os planos russos passariam por forjar um pretexto para avançar: no final da semana passada, foi a vez do Reino Unido dizer que sabe com “grande confiança” que a Rússia está orquestrando um motivo para o ataque, enquanto Washington garantiu ter provas de um plano do Kremlin para filmar um ataque falso contra território russo ou contra ucranianos russófonos e justificar, assim, uma invasão.
Reforço no flanco leste da Otan
Os EUA já têm cerca de 4.500 soldados na Polônia. Na semana passada, Washington disse que enviaria mais 3.000 soldados para a Europa Central e Oriental para defender os membros da Otan contra qualquer “agressão”.
Isso inclui 2.000 soldados sendo transferidos dos EUA para a Polônia e a Alemanha. Outros 1.000 soldados estadunidenses que já estão na Alemanha serão remanejados para a Romênia.
“A situação atual torna necessário que reforcemos a postura de dissuasão e defesa no flanco leste da Otan”, disse o porta-voz do Pentágono, John Kirby.
Os EUA e a Otan já deixaram claro que não enviarão contingentes diretamente para Ucrânia, mas para países aliados da Aliança Atlântica.
O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Alexander Grushko, advertiu que o envio das tropas estadunidenses tornaria mais difícil um compromisso entre os lados.
Espera-se que os ministros da Defesa da Otan discutam mais reforços para os países da aliança em sua próxima reunião, nos dias 16 e 17 de fevereiro.
Scholz viaja para os EUA
O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, deve discutir a questão da Ucrânia em sua primeira reunião com o presidente dos EUA, Joe Biden, na segunda-feira.
A recusa de Berlim em enviar armas para a Ucrânia, as mensagens muitas vezes confusas sobre possíveis sanções e, acima de tudo, a resistência em abandonar o projeto do gasoduto Nord Stream 2 para fornecer gás russo à Alemanha irritaram Washington. Scholz também deve visitar Moscou no final deste mês.
Caças russos em Belarus
Poucos dias antes do início de uma manobra militar russa em Belarus, caças Sukhoi Su-25SM foram trazidos a mais de 7.000 quilômetros da região de Primorye, no Mar do Japão, para aeródromos militares na área de Brest, perto da fronteira polonesa, informou o Ministério da Defesa russo.
Os líderes militares de Belarus e Rússia enfatizaram repetidamente que o envio de tropas é puramente para fins de treinamento, não representa ameaça e está de acordo com o direito internacional. Moscou e Minsk rejeitaram as acusações do Ocidente de que o exercício militar está em preparação para uma invasão à vizinha Ucrânia. A manobra está prevista para ocorrer de 10 a 20 de fevereiro.
Em vista das preocupações com uma possível invasão russa, militares ucranianos iniciaram um treinamento de guerra na zona radioativa ao redor da antiga usina nuclear de Chernobyl.
O ministro do Interior, Denys Monastyrskyj, disse que trata-se do primeiro exercício em grande escala na zona de exclusão. Imagens mostram os militares treinando com morteiros e avançando com veículos blindados na cidade evacuada de Pripyat. O resgate de feridos e o desarmamento de minas também foi praticado.
Caças dinamarqueses chegam na Lituânia
Não apenas os EUA enviaram reforços à região. Quatro caças F-16 da Força Aérea Dinamarquesa já chegaram à Lituânia para fortalecer a vigilância aérea da Otan sobre os Estados Bálticos. Juntamente com quatro aeronaves polonesas, eles devem controlar os céus sobre a União Europeia (UE) e a Estônia, Letônia e Lituânia, estados membros da Otan, a partir do aeroporto militar de Siauliai.
Os três países bálticos que fazem fronteira com a Rússia não têm seus próprios aviões de combate. Por isso, aliados têm assegurado o espaço aéreo do Báltico em rotação regular desde 2004.
A Dinamarca também enviará uma fragata para o Mar Báltico. De acordo com o exército estoniano, seis caças F-15C Eagle pousaram na base militar de Ämari na quarta-feira para fins de treinamento. O principal objetivo do esquadrão é apoiar a Força Aérea Belga no patrulhamento do espaço aéreo do Báltico.
Com informações da AFP, DPA e Reuters