No rol de veículos internacionais que têm repercutido as declarações de Jair Bolsonaro e a situação do país em meio à pandemia do coronavírus, nesta quarta-feira (29) o inglês The Guardian noticiou a resposta de Jair Bolsonaro às primeiras 5 mil mortes contabilizadas no país.
Com o título ‘E daí?’: Bolsonaro menospreza aumento no número de mortes por coronavírus no Brasil”, a reportagem afirma que a postura do presidente causou indignação em todo o mundo.
Citando que o número de óbitos ultrapassou as de vítimas fatais da doença registradas China, o jornal diz que o presidente, ainda assim, desdenhou quando perguntado sobre o recorde de 474 mortes naquele dia. “Eu sinto Muito. O que você quer que eu faça?”. E segue apontando que a resposta de 11 palavras de Bolsonaro – a mais recente de uma série de declarações na qual ele minimiza a gravidade da pandemia – provocou reações imediatas.
Entre elas, o jornal destaca a capa do Jornal de Minas de ontem, que destacou a fala do presidente ao lado do número de mortos no Brasil – 5.017 – e o tuíte do deputado do PSOL, Marcelo Freixo, no qual ele afirma que “Bolsonaro não é só um mau político e um presidente ruim, ele é um ser humano desprezível”.
Adiante, o Guardian transcreve, ainda, o outro trecho da resposta dada aos repórteres que o aguardavam na Esplanada – “Meu nome é Messias. Mas não posso fazer milagres” – e a onda de críticas que inundou as redes sociais, com comentários do músico Nando Moura, da jornalista Sônia Bridi e dos colunistas Mariliz Pereira Jorge e Bernardo Mello Franco.
Depois da repercussão, o jornal lembra que o filho do presidente Carlos Bolsonaro tentou argumentar, no Twitter, que os comentários de seu pai estavam “sendo distorcidos por jornalistas que tentavam destruir sua reputação”.
No entanto, afirma que desde que o Brasil confirmou seu primeiro caso de coronavírus, em 26 de fevereiro, Bolsonaro minimizou continuamente a pandemia, dizendo tratar-se de uma “histeria” da mídia e sugerindo que os brasileiros podiam nadar no esgoto e sair ilesos.
Ministros
Em mais um trecho, referindo-se a Bolsonaro como “o populista admirador de Trump”, o texto aponta que o mandatário brasileiro minou propositadamente as diretrizes de distanciamento social, circulando entre apoiadores e demitindo seu ministro da Saúde no último dia 16 de abril, depois que Mandetta contestou publicamente o comportamento do presidente.
Comenta ainda que, na semana passada, o mais popular ministro de Bolsonaro, Sergio Moro, renunciou ao governo, “em parte como resultado da posição anticientífica do presidente sobre o Covid-19”, de acordo com uma fonte.
Tragédia
Exposto o cenário, o diário inglês afirma que o país parece “não ter como escapar da escala da tragédia que vem se desenrolando”, com imagens diárias de coveiros em trajes de proteção, de algumas das cidades mais atingidas, incluindo Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Manaus.
Diz, ainda, que “enquanto Bolsonaro fazia estas declarações, jornais e programas de TV estavam cheios de histórias de mães, pais, filhos e filhas que perderam suas vidas em razão da pandemia”.
No Rio, as vítimas incluíam Ana Maria, uma auxiliar de enfermagem de 56 anos que trabalhava em um dos maiores hospitais públicos da cidade. “Ela fez tudo pelo trabalho, até o fim”, disse sua filha Taina à Associated Press.
Vila Operária
Mais à frente, a reportagem conta que “na Vila Operária, uma favela de tijolos vermelhos ao norte do Rio, pelo menos 10 moradores morreram, incluindo quatro membros da mesma família”.
Cita, por fim, que especialistas em saúde temem que a covid-19, que está chegando às regiões mais pobres “possa causar estragos nas comunidades mais carentes e vulneráveis do Brasil”.
“Estou com medo”, disse Josiete Pereira do Carmo, que perdeu a mãe e três tios, a uma rede de TV local. “Não podemos perder mais ninguém.