O jornalista Ricardo Corrêa fez um teste no Twitter que revelou diversos bots (robôs) bolsonaristas atacando o post com ofensas, acusações, fake news e ódio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ricardo Correa escancarou o sistema de robôs no Twitter com uma postagem simples: “Fazendo um teste aqui, gente, já explico. Lula Pereira foi técnico da Ponte Preta. Lembram? Ele nunca foi candidato a nada. Nasceu em 6 de junho de 1956. A morte de Lula foi confirmada em 7 de fevereiro de 2021.”
Em seguida recebeu uma infinidade de comentários agressivos nessa publicação-teste. O teste que Ricardo realizou fez com que os robôs se voltassem contra eles mesmos. “Olha só: os robôs são contas automatizadas que reconhecem palavras e hashtags, e automaticamente, disparam comentários contra elas.”
Funciona assim: cada conta tem um nome e uma foto e são feitas para parecer com gente de verdade. Um sistema automático identifica algumas palavras e comentários são gerados por inteligência artificial e publicados na rede.
No caso do tweet de Ricardo, a palavra “Lula” chamou a atenção. Mas não é a mesma coisa que qualquer pessoa escrever. O jornalista Ricardo Corrêa tem perfil verificado. Isso quer dizer que muitos comentários em uma publicação sua são vistos por um número maior de pessoas.
E isso acaba desencadeando uma série de hates, também vindos de pessoas reais, que não se dão nem ao trabalho de ler a publicação antes de comentar.
O site Verdade na Rede afirmou que o teste do jornalista foi um sucesso para escancarar a máquina de automação. “Se Ricardo falasse sobre ‘Lula Molusco’, por exemplo, talvez toda essa descarga de ódio fosse em cima do amigo do Bob Esponja”, ironizou.
Publicações favoráveis a Bolsonaro são feitas por robôs
Um estudo de 2020, evidenciou que robôs foram responsáveis por mais da metade das publicações favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro no Twitter. Conduzido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FespSP), os dados mostram que robôs responderam por 55% dos 1,2 milhão de posts que usaram a expressão #BolsonaroDay para homenagear o presidente em 15 de março, dia de atos de rua pró-governo.
Por meio de ferramentas de ciência de dados, as professoras Rose Marie Santini, da UFRJ, e Isabela Kalil, da Fesp, identificaram a ação de 23,5 mil usuários não humanos a favor do presidente em um universo total de 66 mil usuários que publicaram a “hashtag” naquele dia. É um exército de “bots” – abreviação de ‘robots’ -, cultivados e programados para fazer bombar o assunto que for conveniente para quem os comanda, no exato momento escolhido para o ataque.
Robôs de Bolsonaro
Essa tropa soma-se 1,7 mil contas que publicaram sobre #BolsonaroDay e, horas depois, foram apagadas do Twitter. O comportamento, segundo as pesquisadoras, é típico de bots. Contudo, antes de sumir, o grupo foi responsável por 22 mil tuítes a favor de Bolsonaro.
As informações foram processadas no software com inteligência artificial “Gotcha“. O classificador de bots foi desenvolvido nos últimos dois anos pelo Laboratório de Microssociologia e Estudo de Redes (NetLab) da UFRJ, com apoio da startup Twist System. A parceria com o Núcleo de Etnografia Urbana (NEU) da Fesp consistiu em treinar, ao longo de um ano, o algoritmo para funcionar com base em um banco de dados de temas relacionados à política brasileira.
Os grupos são coordenados por Marie, no Rio, e Isabela, em São Paulo, e reúnem 12 pesquisadores.
“Te peguei!”
O “Gotcha”, referência ao termo em inglês para “te peguei”, tem funções semelhantes ao americano “Botometer”. A ferramenta da Universidade de Indiana é usada para identificar a participação de robôs em redes sociais para conteúdos em língua inglesa.
Em um processamento do “Botometer” que um estudo da Universidade de Oxford apontou que, em 2016, 18% do conteúdo das eleições americanas e 32% dos posts sobre Brexit vieram de bots. Esses momentos são referências internacionais da manipulação das redes por robôs – superados agora de longe pelos 55% de tuítes pró-Bolsonaro.