A primeira vereadora trans eleita em Niterói (RJ), Benny Briolly (PSOL-RJ), anunciou a decisão de deixar temporariamente o Brasil em razão das ameaças que vem recebendo contra a sua integridade física. O anúncio da parlamentar foi feito nesta quinta-feira (13).
Segundo comunicado da assessoria da parlamentar, ela sofre ameaças desde dezembro de 2020, antes de tomar posse na Câmara de Vereadores de Niterói.
“São incontáveis as agressões que sofre nas ruas e nas redes”, diz a assessoria. Em uma das ameaças, Benny recebeu um email que citava o seu endereço e exigia a renúncia.
Outra intimidação que assustou a equipe da vereadora veio em forma de comentários nas redes sociais. Nas postagens, desejavam que “a metralhadora do Ronnie Lessa” a atingisse. Policial Militar reformado, Lessa é acusado pelo assassinato da vereadora Marielle Franco.
“As instituições que atuam na proteção de defensoras de direitos humanos e têm acompanhado esses acontecimentos estão cada vez mas preocupadas com o aumento do risco”, disse o comunicado sobre a saída de Benny do país.
Oposição apoia Benny
A parlamentar continuará acompanhando as sessões plenárias da Câmara, que são virtuais por causa da pandemia da Covid-19. A equipe dela seguirá trabalhando, inclusive na Comissão de Direitos Humanos, da Criança e do Adolescente, presidida por Benny.
“Porém, é inegável que o afastamento cerceia seus direitos políticos e prejudica profundamente o exercício do cargo para o qual Benny foi eleita”, afirma o comunicado.
Lideranças do PSOL como Guilherme Boulos, ex-candidato a prefeito de São Paulo, e a deputada federal Talíria Petrone lamentaram a situação da vereadora de Niterói.
“Minha solidariedade à companheira Benny Briolly, que precisou sair do país por conta de ameaças à sua vida”, disse Boulos.
“Toda solidariedade a minha amiga e vereadora mais votada de Niterói, que precisou sair do país por conta das constantes ameaças transfóbicas, machistas e racistas que vem sofrendo. É um absurdo sem precedentes.”
Talíria Petrone
Não é a primeira vez que parlamentares sofrem ameaças
A deputada Talíria também é alvo de ameaças e precisou deixar o Rio de Janeiro para se proteger. Em 2016, a psolista foi a vereadora mais votada de Niterói e durante o mandato recebia nas redes sociais recados intimidatórios como “merece morrer com um monte de bala”.
Eleita deputada federal em 2018, com mais de 107 mil votos, Talíria voltou a receber ameaças e em abril de 2019 a Polícia Federal informou que grupos de ódio na deep web planejavam o seu assassinato.
“Não é de hoje que parlamentares negras, travestis, mulheres, LGBTQIA+ e defensoras dos direitos humanos sofrem com a violência política.”
Benny Briolly
Em abril deste ano, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou a quebra de sigilo de 49 contas no Twitter e no Facebook acusadas de promover ataques contra a vereadora de São Paulo Erika Hilton (PSOL-SP).
Ameaças antes do assassinato de Marielle
No início de 2019, Jean Wyllys, eleito pela terceira vez deputado federal no Rio de Janeiro, anunciou em entrevista exclusiva que abriria mão do mandato e viveria fora do Brasil. A decisão foi tomada após a intensificação das ameaças de morte, que já aconteciam antes do assassinato de Marielle.
A deputada estadual Isa Penna (PSOL-SP) lembrou que a saída de Benny do país foi anunciada no dia 13 de maio, data que marcou a assinatura a Lei Áurea e em que movimentos negros fizeram atos para lembrar as vítimas da violência. “Que tempos são esses? É absurdo!”, disse a deputada.
A deputada estadual Mônica Francisco (PSOL-RJ) pediu providências oficiais para que Benny possa exercer o mandato.
“A saída do país é importante para garantir a vida. Mas lutaremos para ter você junto conosco desempenhando o papel fundamental na política de Niterói e do país.”
Mônica Francisco
Com informações da Folha de S.Paulo