
Com a proximidade das eleições, o Brasil passou a testemunhar a explosão de casos de violência política. O primeiro ataque envolvendo petistas e bolsonaristas foi em julho, quando o agente penitenciário federal Jorge Guaranho invadiu a festa de aniversário do dirigente do PT em Foz do Iguaçu (PR), Marcelo Arruda, e o assassinou a tiros. De lá para cá, vários registros tem sido feitos e noticiados.
No último final de semana foram pelo menos três. Em Angra dos Reis (RJ), foi a agressão contra a militante de esquerda Estefane de Oliveira Laudano, de 19 anos, pelo bolsonarista Robson Dekkers Alvino, de 52. Mas o ataque a Hildor Henker, em Rio do Sul (SC), por um petista e a facada recebida por Antônio Carlos Silva de Lima, de 39, em Cascavel (CE) por um bolsonarista somente vieram à tona nesta segunda-feira (26) pela imprensa.
A “estratégia” violenta utilizada, em sua grande maioria, por apoiadores de Bolsonaro tem como objetivo inibir os eleitores de excerem o direito democrático de irem às urnas e elegerem o próximo presidente da República. Com o temor da truculência, o mandatário e seus apoiadores pretendem forçar o eleitorado adversário a não ir votar e, com isso, obter vantagem.
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Na última pesquisa Genial/Quaest para as eleições presidenciais de 2022, divulgada nesta quarta-feira (28), traz o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente, com 46% das intenções de voto no primeiro turno, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro, com 33%.
ONU emite alerta sobre violência no Brasil
Dado o crescimento assustador da violência política, o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos fez um alerta sobre os ataques contra o processo eleitoral brasileiro e aponta estar “muito preocupada” com a violência política às vésperas da eleição neste domingo.
“Estamos cientes dos informes sobre a violência política e estamos fortemente preocupados com o relato de violência contínua que envolve partidos políticos, apoiadores e candidatos”, disse a porta-voz do escritório da ONU para Direitos Humanos, Ravina Shamdasani.
Ela destacou que os estados “têm a obrigação de garantir a total implementação de direitos políticos de seus cidadãos, em toda sua diversidade”. “E isso inclui criar um ambiente no qual eles podem fazer uma troca livre de informação e ideias, e onde a imprensa possa de maneira segura fornecer controle sobre o processo eleitoral”, afirmou.
Sem citar o nome do presidente Jair Bolsonaro (PL), a porta-voz criticou os ataques realizados contra as urnas eletrônicas e as ameaças de não reconhecimento dos resultados da eleição.
“Notamos também que existem tentativas repetidas de colocar dúvidas sobre a credibilidade do sistema eleitoral e ameaças de não reconhecer os resultados da eleição. Isso representa um sério risco para o processo democrático”, alertou.
Num apelo, a ONU recomendou a “todos os líderes políticos e candidatos“, às vésperas da eleição de 2 de outubro, que tomem ações para não incentivar “o uso da violência contra oponentes políticos”.
Relatores internacionais pedem “paz” durante o pleito
Já na semana passada, num comunicado inédito na história da recente democracia brasileira, oito relatores da ONU (Organização das Nações Unidas) se uniram para pedir às autoridades, candidatos e partidos políticos no Brasil a garantia de que as próximas eleições sejam “pacíficas e que a violência relacionada com as eleições seja prevenida”.
A declaração ocorre poucos dias depois de o presidente Jair Bolsonaro usar a tribuna da ONU para fazer campanha política, num gesto que deixou governos estrangeiros indignados com a postura do brasileiro.
O comunicado, mesmo sem citar o nome do presidente brasileiro, criticou os ataques feitos contra o Judiciário, contra as urnas e alerta sobre o impacto desse comportamento para a sobrevivência da democracia. Nos bastidores, fontes da ONU confirmaram que a medida foi a maneira encontrada para colocar uma pressão sobre o governo para que não viole as regras eleitorais.