O guarda municipal e tesoureiro do PT, Marcelo Arruda, foi morto com dois tiros de arma de fogo, neste sábado (9), em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná. O homem celebrava seu aniversário de 50 anos, cuja temática era o PT, quando o agente penitenciário e apoiador de Jair Bolsonaro (PL), Jorge José da Rocha Guaranho, invadiu a festa e abriu fogo.
O secretário de Segurança Pública de Foz do Iguaçu (PR), Marcos Antonio Jahnke, afirmou que os indícios colhidos até o momento apontam que o assassinato do petista foi causada por “intolerância política”.
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“Pelo que a gente percebeu foi uma intolerância política”, disse o secretário em entrevista à emissora de TV do Paraná. O gestor da pasta disse ainda que o caso será melhor apurado pela Polícia Civil.
A obviedade foi dita e a Justiça paranaense decretou, nesta segunda-feira (11), a prisão preventiva do terrorista bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho pelo assassinato do militante. As investigações, informou o promotor de Justiça Tiago Lisboa Mendonça, contarão com o apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) fará parte das investigações.
A tragédia, que acontece próximo do período eleitoral, expôs a violência bolsonarista e a intolerância dos extremistas de direita que apoiam o chefe do Executivo brasileiro.
Assassinos em potencial
O historiador Fernando Horta avalia que Jair Bolsonaro criou cerca de 1 milhão de assassinos em potencial, como Jorge Guaranho. A afirmação se baseia no registro de mais de 1 milhão de novas armas particulares no Brasil após Jair Bolsonaro assumir a presidência, em 2019. Os dados são da Polícia Federal e do Exército obtidos pelos institutos Sou da Paz e Igarapé por meio da Lei de Acesso à Informação.
Com Bolsonaro temos mais 1 milhão de assassinos em potencial como esse do paraná …https://t.co/yDTw4Dk7Yx
— Fernando Horta (@FernandoHortaOf) July 11, 2022
Até novembro de 2021 havia no país um total de 2,3 milhões de armas registradas (os institutos ainda não obtiveram números de 2022). Trata-se de um aumento de 78% em relação a 2018, último ano da gestão de Michel Temer (MDB), quando havia 1,3 milhão de armas contabilizadas.
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Uma parcela importante dessa alta se deve a armamento comprado por pessoas comuns e por servidores civis, como policiais e agentes federais. Nesse grupo, a quantidade de armas mais que dobrou: saltou de 344 mil para 810 mil no período.
Caçadores, atiradores e colecionadores, os chamados CACs, também dobraram a quantidade de armas em suas mãos: passaram de 350 mil há quatro anos para 794 mil em novembro de 2021. A quantidade de pessoas que se registraram como CACs quase triplicou em período semelhante: eram 167 mil em julho 2019 e, em outubro de 2021, somaram 491 mil.
Assassino defendia “fortalecimento da direita”
O assassino Guaranho se define como “conservador e cristão”. Ele usa as redes sociais principalmente para defender Jair Bolsonaro e considera arma sinônimo de defesa.
A jornalista Mônica Bergamo relata em sua coluna na Folha de S. Paulo que em junho de 2021, ele aparece sorrindo em uma foto ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do mandatário. “Vamos fortalecer a direita”, escreveu em 30 de abril numa hashtag da “#DireitaForte” para impulsionar perfis de conservadores com poucos seguidores.
Sua última postagem antes do crime é um retuíte de uma publicação do ex-presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, dizendo: “Não podemos permitir que bandidos travestidos de políticos retornem ao poder no Brasil. A responsabilidade é de cada um de nós”.
Semanas atrás, o policial penal [trabalha em unidades prisionais] publicou ainda uma mensagem de cunho LGBTfóbico ao comentar o anúncio do jogador de futebol Richarlyson sobre ser bissexual. “Popeye assume que come espinafre”, escreveu Guaranho.
“Metralhar a petralhada”, disse Bolsonaro
Em conversa com apoiadores, Bolsonaro minimizou o assassinato de um petista por um de seus apoiadores, neste final de semana, que afirmou ter sido “uma briga entre duas pessoas“.
“Vocês viram o que aconteceu ontem, briga de duas pessoas, lá em Foz do Iguaçu, ‘bolsonarista’, não sei que lá. Agora, ninguém fala que o Adélio é filiado ao PSOL”, disse o presidente no Palácio da Alvorada, durante conversa com apoiadores transmitida em suas redes sociais.
Adélio Bispo, autor da facada em Bolsonaro durante a eleição de 2018, foi filiado ao PSOL em 2014, mas já não era mais integrante do partido na época em que cometeu o crime. Bispo foi considerado pela Justiça como portador de problemas mentais e uma investigação da Polícia Federal não apontou motivação política para o crime.
Na noite de domingo, Bolsonaro divulgou em suas redes sociais uma primeira manifestação sobre o ataque em Foz do Iguaçu. Repetiu publicação publicada em 2018, quando um petista foi morto em Salvador por outro de seus apoiadores, em que dizia não querer apoio de pessoas que cometiam violência, ao mesmo tempo em que acusava a esquerda de ser responsável pelas mortes.
Bolsonaro faz frequentemente ataques à esquerda e ao PT e, durante evento de campanha no Acre em 2018, defendeu “metralhar a petralhada” no Estado. Ele também ofende com frequência adversários políticos e, na conversa com apoiadores, referiu-se a eles como “esquerdalha podre“.
Medidas para combater violência política
A coordenação política da campanha de Lula debate, nesta segunda-feira, o aumento da violência política e medidas para cobrar o Judiciário a atuar para coibí-la. O tema foi incluído na reunião, que já estava marcada, após o assassinato de Marcelo Arruda. As informações são da colunista Bela Megale.
Um dos focos do encontro é decidir se o PT levará ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um relatório que lista mais de 300 casos de violência política ocorridos a partir de 2018. A ideia é pressionar a corte eleitoral a fazer uma campanha incisiva sobre a paz na política, segundo a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann.
“É urgente que o TSE faça uma campanha sobre a paz na política. Vamos cobrar novamente a corte a fazer uma campanha institucional para coibir a violência política. Isso não é só contra a gente. Se uma providência não for tomada, esse discurso bolsonarista seguirá ecoando. Nós fazemos o contraponto, mas a instituição tem que entra em campo”, disse Gleisi à coluna.
Pré-candidato do PSB ameaçado pelo assassino
Em suas redes sociais, o advogado e pré-candidato a deputado federal Augusto Botelho (PSB), revelou que Jorge Guaranho havia afirmado, em 2020, que o socialista deveria ser preso por ser manifestar contra a política armamentista do governo Bolsonaro. Confira:
Botelho também comentou sobre o assassinato de Marcelo Arruda e pediu o fim da falsa simetria feita entre Lula e Bolsonaro. A fala de Augusto faz referência a publicações como a do jornalista André Trigueiro, que responsabilizou Lula sobre a morte de Marcelo.
Trigueiro escreveu em suas redes sociais que “ou os presidenciáveis ajustam seus discursos, sem darem pretexto para ações violentas de seus correligionários, ou serão responsabilizados pela inspiração que deram a gestos tresloucados (ou criminosos) que ainda podem ter lugar. A mesma beligerância que rende ‘likes’ inspira crimes”.
Já Arruda, em vídeo, afirmou que “toda violência, ainda mais por uma motivação política, tem que ser repudiada. Agora vamos parar com essa falsa simetria de que houve uma troca de tiros, de que o que aconteceu foi culpa da polarização política que o Brasil enfrenta atualmente. Não, um bolsonarista invadiu uma festa armado, deu tiro numa pessoa que reagiu e matou essa pessoa. Não é uma troca de tiros, é uma legítima defesa. Vamos falar as coisas como de fato elas aconteceram: uma tragédia que quem tem culpa é um lado”.
Chega de falsa simetria. pic.twitter.com/ikVrLGFpzu
— Augusto de Arruda Botelho (@augustodeAB) July 10, 2022