Um estudo divulgado pelo Instituto Socioambiental (ISA) constatou que de janeiro a dezembro de 2020 uma área equivalente a 500 campos de futebol foi devastada nas terras indígenas Yanomamis. O relatório, produzido pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) e Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduume), concluiu que 500 hectares da floresta Amazônica já foram destruídos pelo garimpo ilegal ao longo do ano passado, somando um total de 2.400 hectares de terras destruídas pela exploração.
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Intitulado ‘Cicatrizes na Floresta – Evolução do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami (TIY) em 2020‘, o relatório afirma que mesmo com a pandemia, somente em 2020, o aumento da área Yanomami atingida foi de 30%. De acordo com as informações levantadas pelos coletivos, a atividade criminosa está cada vez mais próxima dos locais onde moram os indígenas. Para Dário Vitório Kopenawa, diretor da Hutukara Associação Yanomami, o cenário atual remonta a pior fase do garimpo na região.
“Em 1986, mais de 40 mil garimpeiros entraram na erra indígena e 20% do nosso povo morreu. Eu cresci nessa época e sei pelos relatos do meu pai e da minha mãe. Eu vejo uma repetição, e ficamos com medo pelos nossos parentes”, comentou ele à agência de noticias alemã Deutsche Welle.
Medo de conflitos
Ainda de acordo com o documento, os conflitos entre os Yanomamis e garimpeiros aumentaram à medida em que o número de exploradores cresceu nas terras demarcadas. Em fevereiro deste ano, após um ataque dos garimpeiros na comunidade de Helepe, um índio ficou gravemente ferido e um garimpeiro morreu. O grupo se retirou da região prometendo vingança. O medo da comunidade é que novos casos como o de Haximu, primeiro caso de genocídio registrado no país, ocorra novamente.
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Kopenawa também teme pela segurança de seu povo. Segundo ele, os garimpeiros recebem apoio de grupos e pessoas poderosas para garantir a continuidade dos crimes na região.
“Estou muito preocupado, pois o garimpeiro não está sozinho, são grandes grupos, andam armados, apoiados por empresários, pelo governador de Roraima e pelo presidente Bolsonaro, assim como outros empresários do Brasil. Aqui em Roraima, os garimpeiros, empresários e políticos não respeitam os povos indígenas, só querem tirar as nossas riquezas”, enfatizou.
Governo pró-garimpo
A análise do desmatamento na região demonstra que o avanço do garimpo coincide com a implementação de políticas de afrouxamento da fiscalização nas terras protegidas e também, com falas de Jair Bolsonaro (sem partido) favoráveis à exploração. Segundo a doutoranda Marina Sousa, cofundadora da rede Pró-Yanomami e Ye’kwana e coautora do estudo, o presidente fomentou o cenário ao defender que o garimpo pudesse ser legalizado.
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“A fiscalização dos territórios indígenas é uma fragilidade que a gente identifica em todos os governos. O que muda com o governo Bolsonaro é, em primeiro lugar, a promessa de que essa atividade seria regulamentada pelo Estado”, afirmou ela ao DW.
Em uma destas falas, Bolsonaro provoca a ganância dos empresários do garimpo ao divulgar cifras altas, mesmo sabendo que os indígenas são contrários a atividade. “Tem R$ 3 trilhões embaixo da terra. E o índio tem o direito de explorar isso de forma racional. O índio não pode continuar sendo pobre em cima de terra rica”
Decisão judicial na defesa dos Yanomamis
O estudo também propõe diversas medidas a serem tomadas para reduzir os impactos negativos da atividade exploratória na região. Entre as recomendações urgentes, está a apresentaçaõ de um plano de retirada de todos os garimpos das terras Yanomamis, a retomada da fiscalização contínua da área para inibir a instalação de novos garimpos e o avanço nas investigações que buscam identificar e penalizar os envolvidos.
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Recentemente, a Justiça Federal determinou uma multa diária de R$ 1 milhão enquanto o governo não retirar os garimpeiros das terras Yanomamis. Foi estabelecido prazo de dez dias par início da desintrusão.
Assista abaixo o vídeo produzido pelos organizadores do relatório.