O Tribunal de contas da União (TCU) alerta o governo federal desde 2010 sobre falhas no sistema elétrico. Os problemas comprometem o planejamento energético e as operações de sistema. Esses problemas estruturais pesam na atual crise do setor.
O desiquilíbrio energético se agrava mais a cada mês, diante das previsões de menos chuva. A Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura de Energia Elétrica (SeinfraElétrica) montou um plano de monitoramento com a intenção de cobrar soluções do governo federal e de órgãos responsáveis, como a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
O Ministério de Minas e Energia (MME) informa que sempre responde os alertas do TCU. O ONS afirmou que busca melhorar a operação com base nos recursos disponíveis. São 10 problemas com potenciais de danos ao consumidor. Só um deles custa R$ 3,5 bilhões por ano a mais nas contas de luz. Trata-se de um descompasso entre as chamadas garantias físicas das hidrelétricas (energia assegurada, ou prometida, para a venda) e a energia que elas efetivamente injetam no sistema.
Leilão de energia reserva
Segundo o TCU, as hidrelétricas “Têm gerados menos que a energia assegurada”. Energia assegurada é a máxima energia que uma usina pode fornecer durante seu pior ciclo hidrológico com uma dada demanda máxima. Para contornar esse problema, o governo criou um sistema de compensação entre as usinas. As que têm déficit são cobertas pelas que produzem mais do que o acordado.
Mesmo com a compensação, o problema não foi resolvido. Em 2018, o TCU constatou que as usinas entregaram 1,3 gigawatts (GW) médio a menos que o prometido. Na época o governo contratou 4,9 GW médios para cobrir a escassez de fornecimento de energia.
Essa compra custou R$ 116 bilhões nos leilões de energia reserva. O valor foi pago pelos consumidores. Para o TCU faltaram estudos sobre consumo da água e produtividade das usinas.
Possível ‘apagão’ no Brasil
O Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitiu alerta de emergência hídrica para cinco estados, que juntos concentram a maior parte da geração hidrelétrica do Brasil. Especialistas afirmam que falta de investimento no setor preocupa, além da escassez de chuva.
Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná estão em situação crítica e pode se estender até setembro de 2021. É o primeiro alerta desse tipo em 111 anos.
“As perspectivas climáticas para 2021/2022 indicam que a maior parte da região central do país, a partir de maio até final de setembro, entra em seu período com menor volume de chuvas (estação seca). A previsão climática elaborada conjuntamente pelo Inpe, Inmet e Funceme indica para o período Junho-Julho-Agosto/2021 a mesma tendência, ou seja, pouco volume de chuva na maior parte da bacia do Rio Paraná”.
Alerta do SNM
Especialistas informam que a crise do sistema elétrico poderia ser minimizada com investimentos em infraestrutura energética, em fontes alternativas, sustentáveis e renováveis, como a eólica, solar e o biocombustível.
A situação pode piorar se forem confirmadas as previsões de crescimento econômico este ano, o consumo industrial deve crescer. Segundo estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), os investimentos necessários em infraestrutura elétrica para suportar o crescimento do consumo do país até 2029 deve ser de R$ 2,3 trilhões, porém o MME fala que o investimento na década será de R$ 103 bilhões.
Conta mais cara
Cesar Bergo, sócio-consultor da Corretora OpenInvest calcula que, no final, a fatura vai cair no colo do consumidor residencial, que vai ter que desembolsar mais 20% do orçamento com a conta de luz.
“A partir de agora, com a bandeira vermelha e alta no custo de energia, aumenta a pressão na produção das empresas. Assim, além da inflação dos alimentos e combustíveis, vai haver uma despesa maior se for preciso recorrer às termelétricas, mais caras, porque dependem do óleo diesel. Esse cenário vai afetar os índices de inflação.”
Cesar Bergo
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa fala que o pior cenário é o risco de racionamento enerégetico, principalmente se houver o crescimento econômico.
“Não se trata de algo iminente, mas o risco se elevou muito em decorrência do baixo nível dos reservatórios no sistema CO-SE. Evidentemente que existe a salvaguarda de todas as usinas térmicas do sistema, além de avaliarmos que a demanda não deverá ser explosiva. Contudo, um crescimento muito pujante do PIB, este ano, vai acelerar o risco de racionamento.”
Étore Sanchez
Com informações da Folha de S.Paulo e Correio Braziliense