O candidato a deputado estadual por São Paulo, Abdul Jarour (PSB), irá lançar oficialmente a sua candidatura neste sábado (27), às 14h em Bela Vista (SP). Coordenador do núcleo de base de refugiados, asilados e apátridas do Movimento Popular socialista (MPS) do PSB, Abdul é um refugiado da guerra na Síria e chegou ao Brasil em 2014.

O jovem sírio estudava administração de empresas em Aleppo, maior cidade da Síria, quando teve que se alistar no exército em 2010. Depois que a guerra estourou, Abdul foi trabalhar como motorista para um general do exército até ser ferido.
“No dia 5 de maio de 2013, de madrugada, houve um ataque. O teto da sala caiu em cima de mim, quebrei meu ombro, tive ferimentos na perna e na mão. O que me salvou foram as camas, alguns beliches de ferro”, afirmou em entrevista ao jornal internacional Frances 24.
Após este episódio, Abdul decidiu fugir da Síria e embarcar no difícil caminho do exílio. Depois de uma arriscada viagem ao Líbano e para evitar pagar as máfias, ele optou por se instalar no Brasil, que lhe ofereceu um visto humanitário.
Chegou em fevereiro de 2014, mas não foi fácil começar. “Agradeço que o Brasil abriu as portas para mim, mas o Brasil também fechou a janela. Quando cheguei aqui, descobri que tenho que encontrar minha vida. Descobri que meu nome não é refugiado, é ‘gringo’, aquele que vem de fora, o estrangeiro”, ressalta.
Políticas públicas para refugiados e migrantes
Em maio, durante o XV Congresso Constituinte da Autorreforma do PSB, o candidato Abdul Jarour foi entrevistado pelo Socialismo Criativo. No período, o ativista sírio fez uma breve explicação de como se sente sendo representante dos refugiados no PSB e sobre processo migratório.
“Tenho essa oportunidade hoje em dia de representar essa comunidade no Brasil, que representam um pouco menos de 1% da população brasileira, os refugiados e imigrantes. Muitas vezes, as pessoas não têm conhecimento a respeito desse processo migratório dos refugiados. Eu sofri muito por falta de políticas públicas, então estou sendo um porta-voz de pessoas que morreram nas travessias e que estão sendo vítimas de tráfico humano e trabalho escravo. Quero ser o porta-voz em nome da legitimidade e do protagonismo dos refugiados”, afirmou Jarour.
Leia também: Quando o refugiado é branco europeu
Abdulbaset Jarour acredita a temática social está em voga no Brasil e que os refugiados devem ter representatividade na política brasileira.
“A bandeira social aqui no Brasil que é de extrema importância. Essa bandeira deve ser discutida dentro do espaço da política brasileira porque o que nós queremos, o que nos precisamos é ter uma representatividade na Frente Parlamentar e é por isso que eu estou aqui.”
O então pré-candidato à Alesp na época terminou falando sobre as dificuldades cotidianas que os refugiados enfrentam e como as soluções que devem ser criadas para melhorar esse cenário.
“Hoje, os refugiados no Brasil têm dificuldade de abrir uma conta no banco, têm uma dificuldade de alugar uma casa, têm dificuldade de trabalhar. Seus direitos estão sendo violados. Infelizmente, nós não estamos tendo oportunidade, lugar de fala. Nós fomos interrompidos por pessoas que aproveitam para romantizar a situação dos refugiados. […] Alguns políticos alimentam o discurso de ódio, [dizendo que] viemos aqui para tirar emprego dos brasileiros, que nos viemos aqui para trazer doenças, que nos viemos aqui porque somos uma ameaça na segurança pública. […] Os políticos devem garantir os direitos humanos dos imigrantes. Migrar é um direito humano. Então eu trago essa bandeira dentro do Partido Socialista Brasileiro para sensibilizar as autoridades para verem o que está acontecendo com os refugiados e imigrantes no Brasil”, finalizou Jarour.