por Yuri Dziura em 20/02/2019.
Eleições de 2018, lições do estado de São Paulo.
Após as eleições presidenciais de 2018 foi eleito um candidato que no começo daquele mesmo ano muitos consideravam sem chances de vitória. Surge então a indagação de como Jair Bolsonaro venceu as eleições. Talvez outra pergunta que tenha muita pertinência seja como Bolsonaro venceu Geraldo Alckmin? Destaco essa pergunta porque o ex-governador de São Paulo teoricamente era um candidato que poderia abarcar um público de centro à direita. Além disso, conseguiu se aliar a partidos expressivos, o que fez com que ele tivesse um tempo e investimento eleitoral grande. Muito é falado sobre a exposição do atual presidente na mídia digital antes da campanha. De fato é algo a ser olhado com atenção, afinal desde o início das pesquisas Bolsonaro esteve em primeiro ou segundo, variando conforme o ex-presidente Lula estivesse na pesquisa ou não.
No entanto o sucesso do que alguns chamam o “fenômeno Bolsonaro”, não se deveu apenas ao investimento nas redes sociais. O candidato goste ou não, soube falar uma linguagem que grande parte dos brasileiros se identificou. Podemos criticar posições de qualquer candidato, no entanto não reconhecer como o atual presidente soube captar certos anseios populares é não querer aprender possíveis lições. Bolsonaro tem uma agenda de direita, Lula quando eleito tinha uma agenda de esquerda e também soube atingir a vontade do grosso daqueles que votaram. O que se pode retirar de tudo isso é que a agenda de um candidato que queira vencer deve compactuar com aqueles eleitores que ele quer atingir e saber falar a linguagem daquele eleitor mostrando que conhece o problema e quer buscar soluções, ou seja, melhorar as condições de vida. Daí poderíamos pensar como trazer as pautas populares para um alinhamento com um socialismo democrático, realista e brasileiro.
Outro fator que marcou a eleição foi o infeliz e antidemocrático atentado que feriu o presidente. Quando se tem uma agenda pela democracia devem-se buscar soluções dentro da democracia. No fim das contas embora a facada tenha afetado a saúde do presidente, ela teve também um fator que não deliberadamente fortaleceu o candidato. Seja por uma questão de compaixão com a vítima, seja porque o presidente passou a ter mais tempo dentro dos veículos de comunicação tradicionais ou seja pelos concorrentes do presidente tirarem um pouco o “pé do acelerador” nos ataques ao oponente devido certo respeito.
Acredito que os fatores elencados ajudem a entender como Bolsonaro viabilizou sua vitória. Ganhando força trouxe com ele uma bancada de outros candidatos com discursos que tinham certas semelhanças com o seu. Alguns desses candidatos se viabilizaram de duas formas, pelo discurso bolsonarista e pela estratégia nas redes sociais. Com essa estratégia, diversos outros candidatos ao menos no estado de São Paulo, conseguiram se alavancar com os líderes de votos aliados que se tornaram expressivos puxadores de votos. A candidata a deputada estadual Janaina Paschoal teve quase 10% dos votos válidos, dos vinte mais votados 3 são do PSL. Agora se verificarmos entre os 14 candidatos menos votados que entraram, ou seja, do número 80 ao 94, 7 são do PSL. Esse número de candidatos alavancados é a metade dos menos votados expostos anteriormente e quase metade dos 15 eleitos para deputado(a) estadual em São Paulo. Isso quer dizer que construir nomes fortes junto ao público não ajudou candidatos apenas a se elegerem, ajudou a elegerem candidatos aliados.
Outro fator da mudança do cenário político na câmara por São Paulo foi o discurso de renovação política. No campo da esquerda entre os 20 primeiros não teve nenhum candidato do PT, dois do PSOL e 2 do PSB. O PSDB que é o partido que elegeu há mais de vinte anos o governador do estado teve apenas 1 candidato a deputado estadual no grupo indicado. O quadro dos vinte primeiros por partido ficou: PSL-3,PP-3, DEM-2, PSOL-2, PSB-2, PSD-2, NOVO-2, PRB-1, PTB-1, PR-1 e PSDB – 1.
Em relação aos deputados federais o PSL teve dois grandes puxadores de votos Eduardo Bolsonaro com 1.814.443 (Candidato ligado à imagem do pai) e Joice Hasselman com 1.064.047 (Jornalista que passou por grandes órgãos de comunicação ligada a dois fatores que impactaram a população: O impeachment de Dilma e a Operação Lava Jato. Virou uma influente youtuber). O grupo alavancado por Bolsonaro no estado de São Paulo se pautou em ódio à esquerda (Principalmente petista), discurso anticorrupção e a capacidade de se identificar com grande parte da população (Mesmo que com promessas de “medidas do chicote”).
Dos 20 primeiros deputados federais por partido, nenhum do PSDB, nenhum do PSB e 1 do PT, já o PSOL conseguiu eleger 3 entre estes. Qual foi a estratégia do PSOL para ter um número significativo entre os vinte mais votados tanto para deputado federal como para deputado estadual? Alguns desses candidatos podem nos ajudar a entender algo. Carlos Giannazi, Ivan Valente e Luiza Erundina são três nomes provenientes do PT que romperam com o partido. É possível que o enfraquecimento do PT no estado e a busca de uma alternativa à esquerda tenham fortalecido esses candidatos “históricos”. Outra eleita, Mônica da Bancada Ativista foi uma candidatura de um movimento de 9 pessoas, 9 com o número de 1 pode ter proporcionado certo fortalecimento. Também há Sâmia Bomfim, uma militante feminista com apoio de influentes pessoas do PSOL e do meio artístico.
A captação do gosto popular foi determinante no estado de São Paulo. O PSL e o PSOL se fortaleceram por meio do enfraquecimento de partidos tradicionais como o PSDB e o PT. Inclusive o público que elegeu o governador João Doria é em grande parte um público que não se identifica ou não votou em deputados do PSDB. Doria se fortaleceu mesmo com o enfraquecimento de seu partido porque outros partidos com quem ele se alinhou o seguraram e lhe deram a vitória. Uma pergunta que pode ser feita é qual o sentimento popular tirado de uma eleição polarizada e que tenha comprometimento com as pautas sociais? Outra é, como políticos da esquerda tradicional como Luiza Erundina e Ivan Valente seguiram fortes, mesmo com o enfraquecimento da esquerda e do discurso antipolítico?
Este texto mais que realizar críticas contundentes teve a pretensão de fazer um balanço de alguns fatores decorridos nas eleições em uma perspectiva a partir do estado de São Paulo. É possível que uma análise de certos pontos possa ajudar uma reflexão de partidos de centro à esquerda para próximas campanhas. Parece necessária captação do anseio popular que busque devolver ao povo o que é do povo, assim como dar àqueles que não têm os direitos que lhes são ou foram retirados.
Yuri Dziura.
Image/Folhapress – Eduardo Biermann/VEJA – Facebook/Reprodução – YouTube/Reprodução.