
“Muita gente estranha minha aliança com Alckmin“, postou o ex-presidente Lula da Silva (PT) no Twitter em 20 de julho. “Eu li em um livro do Paulo Freire que a gente tem que juntar os divergentes para derrotar os antagônicos. E é isso que vocês precisam saber. Nós vamos consertar esse país.”
Desde então, o vínculo entre o ex-governador e o petista se firmou como uma parceria histórica. Adversários políticos na eleições de 2006, quando ambos pleiteavam o cargo máximo do Executivo, Lula e Alckmin deixaram os atritos passados para liderarem uma frente ampla contra o bolsonarismo e pela reconstrução do Brasil.
Mais comedido e igualmente energético, Geraldo Alckmin (PSB) assumiu o compromisso de expandir o eleitorado do ex-presidente e “furar” a bolha de centro-esquerda, ampliando influência em setores onde adversários, como Jair Bolsonaro (PL), têm se saído melhor.
Em um desses feitos, Alckmin mantêm contato direto com o agronegócio, exaltando a importância do setor e revisitando, em seus discurssos, os feitos durante o governo PT. Para além, o candidato sinalizou propostas concretas a produtores rurais, entre elas a melhora do crédito rural.
“Na época do presidente Lula, os juros eram de 3,5% e hoje passou de 15%. Teve o crédito para modernização da Frota de Tratores Agrícolas, financiamento para custeio (…) Melhorou a infraestrutura, aumentou a inserção do Brasil no comércio exterior (…) Quase dobrou a produção agrícola e de grãos nos 12 anos dos governos do Partido dos Trabalhadores”, disse Alckmin, no início do mês, à Rádio Lagoa Dourada FM 105.9 do Paraná.
A declaração caiu com uma luva após “derrapadas” de Lula durante debate no mês passado, quando o ex-presidente havia sido questionado sobre uma suposta relação de “oposição” entre o agro e a preservação ao meio ambiente e o desenvolvimento sustentável.
Alckmin ainda destacou a importância do país fechar novos acordos comerciais e ampliar . “Não podemos ficar dependendo só da China. Nós temos que ter mais mercados e direito de propriedade. Está na Constituição que Lula e eu ajudamos a escrever. O agronegócio precisa se desenvolver. Deu um salto no governo Lula e vamos dar outro agora. Com Lula o país vai ser respeitado internacionalmente. O Brasil vai sentar à mesa dos grandes e o agro vai crescer. Vamos juntos pelo Brasil”, afirmou na última semana nas redes sociais.
Em outro exemplo recente da atuação de Alckmin ocorreu em Brasília na agosto, onde ele participou do 30º Congresso Nacional das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos, setor alinhado ao Bolsonaro, mas que, no momento, se diz descontente com as medidas da atual gestão.
“Lula tem consciência da gravidade da situação e da dificuldade que vive quem atende o SUS (Sistema Único de Saúde). Tem de melhorar a remuneração e discutir um novo modelo de contratação, algo mais moderno que a tabela SUS”, discursou Alckmin. “Defendo que o Ministério da Saúde tenha secretaria só para as filantrópicas, para um diálogo permanente. Quando a gente ouve mais, erra menos.”
Agora, unidos após uma grande campanha eleitoral que costurou uma das maiores alianças interpartidárias na história recente da política brasileira, Alckmin e Lula se mostraram fortes parceiros para um eventual governo e não uma chapa “caça-votos” como vimos na relação ardilosa entre Fernando Collor e Itamar Franco em 1990.
Quebrando a resistência da militância petista, Alckmin conseguiu mostrar a sua importância e força após ser escolhido para ser vice-presidente da chapa de Lula e revelar que mágoas passadas podem ser atravessadas quando é o futuro da nação que está em voga.