A dívida pública brasileira deve ser submetida a uma auditoria. A proposta é de Hermes Zaneti, ex-deputado constituinte e autor do livro O complô – Como o sistema financeiro e seus agentes políticos sequestraram a economia brasileira. Na avaliação do mestre em ciência política, a dívida pública exige um manejo cuidadoso e responsável. Para isso são necessárias auditorias e a adoção de instrumentos de gestão transparente, que possibilitem o acompanhamento dessa gestão pela sociedade.
“Um ponto que eu briguei muito foi para que nós tivéssemos na Constituição a auditoria da dívida externa porque éramos reféns do FMI [Fundo Monetário Internacional]. O Brasil tem mais de R$ 7 trilhões em dívida pública”, observou o ex-deputado. “Esse quadro nos remete a necessidade de enfrentamento as razões que realmente levaram a esse domínio [do Brasil] pelo sistema financeiro”.
Hermes Zaneti
Transparência sobre a dívida pública
Zaneti observa que saber quanto e para quem exatamente a dívida já foi paga é essencial para organizar as contas públicas. Só assim será possível investir em áreas essenciais para a população, como saúde e educação. Ele foi o convidado para a sexta edição do ciclo de lives Revolução Brasileira no Século 21. Os encontros virtuais debatem as teses propostas pela Autorreforma do PSB sob a perspectiva do conceito de revolução do historiador Caio Prado Júnior.
De acordo com Zaneti, são cerca de R$ 2 bilhões de juros ao dia destinados ao pagamento da dívida pública que sequer é auditada. Para ele, esse modelo amplia a dependência do país frente ao sistema financeiro e dificulta que os recursos sejam investidos em benefício da população.
O presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Carlos Siqueira, ressaltou que o problema da dívida pública foi deixado de lado por diversos setores da sociedade – da imprensa aos partidos políticos. “Como se não fosse um imenso problema que, se não tomarmos providências, será um grande problema para o país”, disse.
Dívida que alimenta a dívida
O presidente do Instituto Pensar, Domingos Leonelli, observou que a questão não se refere exatamente ao pagamento da dívida. “Trata-se da alimentação do sistema financeiro com serviços da dívida, sendo que ela aumenta sempre”, disse. Ele defende que a dívida se retroalimenta apenas em benefício próprio e dos agentes do sistema financeiro.
Para Juliene Silva, integrante da direção da Juventude Socialista Brasileira (JSB), é preciso saber a quem interessa o endividamento. “A gente tem uma política econômica que serve a setores específicos da sociedade que, infelizmente, não somos nós, os pobres. É uma lógica de que se gastar menos e receber mais, apresentada à população para justificar projetos como o teto de gastos”, critica.
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Lives Revolução Brasileira no Século 21
O ex-deputado constituinte foi o sexto convidado para o ciclo de debates promovido pelo Instituto Pensar e o site Socialismo Criativo, em conjunto com o PSB. As lives são realizadas às quarta-feiras e promovem discussões a partir da concepção de “Revolução Brasileira” elaborada pelo historiador Caio Prado Júnior.
O evento contou com a presença do presidente nacional do partido, Carlos Siqueira; do presidente do Instituto Pensar, Domingos Leonelli, e da integrante da direção da Juventude Socialista Brasileira (JSB) Juliene Silva. A mediação foi feita por James Lewis.
Já participaram do ciclo de debates, o economista Luiz Gonzaga Belluzo, o geógrafo Elias Jabbour, o professor José Luiz Borges Horta e o socialista e ex-presidente da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), Jonas Donizette, e o doutor em Economia Marco Antonio Cavalieri.