
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que apuração de voto das eleições 2022 não pode ser feita “em sala secreta no TSE”. O presidente fez esta declaração na manhã desta quinta-feira (22), em entrevista à rádio curitibana Banda B. O mandatário afirmou que não pode “admitir” que as eleições sejam apuradas por “meia dúzia de pessoas com uma chave criptográfica” em “sala secreta lá no Tribunal Superior Eleitoral”
“Não posso admitir que meia dúzia de pessoas tenham a chave criptográfica de tudo e, de forma secreta, contem votos numa sala secreta lá no Tribunal Superior Eleitoral. Isso não é admissível. A própria Constituição fala em contagem pública dos votos, quero transparência”.
Jair Bolsonaro
O mandatário voltou a citar a prova que apresentará, na semana que vem, sobre suposta fraude nas eleições de 2014. Nas quais, segundo alega, o candidato Aécio Neves (PSDB) teria vencido a então presidente Dilma Rousseff (PT).
“Vai ser bastante objetiva para todos entenderem da inconsistência e vulnerabilidade, temos aí várias ciências e podemos falar em probabilidade”.
Jair Bolsonaro
Bolsonaro também repetiu que ganhou as eleições de 2018 no primeiro turno e que tem provas disso. Não afirmou, no entanto, quando, e se, as apresentará.
“Vou aguardar dados da minha eleição, que, no meu entendimento, nós ganhamos no 1º turno”.
Jair Bolsonaro
Bolsonaro ironiza Barroso sobre voto impresso
Durante a entrevista, Bolsonaro também relatou, com ironia, o suposto “entendimento” que o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, teve com líderes de partidos sobre o voto impresso.
“De repente, ministro Barroso, do nada, vai para dentro do Parlamento se reunir com líderes partidários. Nos dias seguintes, os líderes trocam integrantes da comissão e colocam parlamentares contrários à aprovação desse projeto, ou seja, querem ver se matam o projeto na comissão. Isso é interferência clara do ministro Barroso no processo legislativo. Ele tem medo do quê? Tá apavorado, por quê? Ele estaria refém de alguém? Acredito que não, mas é um dado bastante preocupante. Nós estamos nos antecipando a possíveis problemas”.
Jair Bolsonaro
Em junho, Barroso disse ter recebido “com satisfação” a manifestação de 11 partidos feita a favor da manutenção do sistema atual de votação e contra o voto impresso. PSDB, DEM, PP, MDB, PSD, PSL, Avante, Republicanos, PL, Solidariedade e Cidadania disseram que vão procurar Barroso para estreitar relações.
Braga Netto nega ameaça às eleições 2022
O ministro da Defesa, Braga Netto, negou que tenha feito ameaças contra a realização das eleições de 2022.
Uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo desta quinta-feira (22) relatou que Braga Netto teria enviado um recado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), no dia 8 de julho, dizendo que, se não for aprovado o voto impresso e “auditável”, não haverá eleições em 2022. Braga Netto falou sobre o tema após um evento no Ministério da Defesa.
“Hoje foi publicada uma reportagem na imprensa que atribui a mim mensagens tentando criar uma narrativa sobre ameaça feitas por interlocutores a presidente de outro poder. O Ministro da Defesa não se comunica com os presidentes dos poderes por meio de interlocutores. Trata-se de mais uma desinformação que gera instabilidade entre os poderes da República em um momento que exige a união nacional. O Ministério da Defesa reitera que as Forças Armadas atuam sempre e sempre atuarão dentro dos limites previstos na Constituição”.
Walter Braga Netto
Discussão sobre o voto impresso é “legítima”
Braga Netto disse ainda que a discussão sobre o voto impresso é “legítima” e está sendo analisada no Congresso. Ele fez referência a um projeto em tramitação na Câmara que propõe o voto impresso.
“A discussão sobre o voto eletrônico-auditável por meio de comprovante impresso é legítima, defendida pelo governo federal e está sendo analisada pelo parlamento brasileiro, a quem compete decidir sobre o tema”.
Walter Braga Netto
Mais cedo, ao chegar ao ministério, ele foi questionado por jornalistas sobre a reportagem do “Estadão” e respondeu: “É invenção”.
De acordo com o site Metrópoles, uma fonte ligada a Braga Netto também negou que o fato tenha ocorrido. “Interlocutor? Não se manda recado neste nível. E não é postura de uma autoridade”, disse a fonte, que preferiu manter sua identidade em sigilo.
Socialistas reagem à ameaça de Braga Netto
Socialistas criticaram a declaração feita pelo ministro da Defesa, Walter Braga Netto, segundo a matéria do jornal O Estado de S. Paulo. O líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ) alertou nas redes sociais que a denúncia de que o Ministro da Defesa teria ameaçado o Congresso Nacional é extremamente grave. O socialista ainda lembrou que o “papel constitucional das Forças Armadas é garantir os poderes constitucionais, e não subordiná-los”. Molon afirmou que vai propor que a Câmara convoque o Ministro em Comissão Geral para esclarecer os fatos.
O líder da Minoria na Câmara dos Deputados, Marcelo Freixo (PSB-RJ), ressaltou no Twitter que o Legislativo e o Judiciário não podem admitir essa nova ameaça de Braga Netto. O deputado federal destacou que as “Forças Armadas não são o poder moderador da República e nem têm autoridade para interferir nas eleições de 2022”.
O governador do Maranhão Flávio Dino (PSB-MA) disse na internet que é muito importante que o Ministério da Defesa se manifeste sobre o caso imediatamente. Dino completou dizendo que “a democracia admite tudo, menos crimes que visam destruí-la”.
O ex-governador do Distrito Federal Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) escreveu em rede social que “o Brasil não pode conviver com ameaças”.
Barroso conversa com Lira e Braga Netto
Ao comentar notícia de que Braga Netto teria condicionado as eleições de 2022 ao voto impresso e auditável, Luís Roberto Barroso, disse que o país tem uma Constituição em vigor.
Barroso ligou para Lira e ouviu do deputado que não houve ameaça, e escreveu em uma rede social que “as instituições estão funcionando”.
“Conversei com o Ministro da Defesa e com o presidente da Câmara, e ambos desmentiram, enfaticamente, qualquer episódio de ameaça às eleições. Temos uma Constituição em vigor, instituições funcionando, imprensa livre e sociedade consciente e mobilizada em favor da democracia”.
Luís Roberto Barroso
Lira também nega ameaça
Segundo o site Metrópoles, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também negou que teria recebido um recado do ministro da Defesa, general Braga Netto, condicionando as eleições de 2022 ao voto impresso e auditável.
Mais cedo, a assessoria alegou que o presidente da Câmara não iria se manifestar sobre o episódio, mas logo depois, Lira disse que prestaria mais esclarecimentos sobre o assunto pelas redes sociais.
No Twitter, Lira não negou a informação. Disse apenas que “o fato é: o brasileiro quer vacina, quer trabalho e vai julgar seus representantes em outubro do ano que vem através do voto popular, secreto e soberano”.
‘Estadão’ reafirma
Diante das negativas de Lira e de Braga Netto, o diretor de Jornalismo do “Estadão”, João Caminoto, escreveu em uma rede social, que reafirma o conteúdo da reportagem.
“Diante das diversas reações, considero importante reafirmar na íntegra o teor da reportagem publicada hoje no ‘Estadão’ sobre os diálogos do ministro da Defesa. O compromisso inabalável do Estadão segue sendo a qualidade jornalística e o respeito ao Estado de Direito”, afirmou Caminoto.
Voto impresso
O voto impresso é uma das principais causas atualmente defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro e seus aliados. Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contestam o presidente e afirmam que o sistema eleitoral no país é seguro, moderno e auditável.
Bolsonaro reclama de possibilidade de fraude nas eleições, mas não apresenta provas.
Na comissão da Câmara que analisa um projeto para o voto impresso, a tendência é de derrota do texto. Partidos políticos se manifestaram conjuntamente contra a proposta.
Com informações do site Metrópoles e G1