A Rede de Observatórios da Segurança, uma iniciativa que monitora a criminalidade no Brasil, divulgou em março deste ano um relatório sobre os dados da violência contra mulheres em cinco estados do país em 2021: São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia e Ceará. As informações divulgadas pelo boletim #ElasVivem revelaram que uma mulher é violentada a cada cinco horas e pelo menos um feminicídio é registrado por dia.
São Paulo ocupa o topo do ranking com 929 casos de violência monitorados, 27% a mais em relação ao ano anterior. Dentre eles, 97 foram estupros, 501 foram agressões e 157 foram feminicídios. Esse último dado se mostrou maior do que o número oficial divulgado pelo governo, que foi 136.
Na contra mão dos direitos das mulheres, o presidente Jair Bolsonaro (PL) incita a violência com sua política armamentista e seu descaso com as minorias. Em 2017, ainda como deputado, causou polêmica ao defender o fim do “mimimi” do feminicídio. Na gravação, o presidente fala em combater o feminicídio com homicídios a partir da garantia a todos da posse de armas.
“Parabéns a todas as mulheres do Brasil porque eu defendo a posse de armas de fogo para todos, né? Inclusive vocês, obviamente, as mulheres. Nós temos de acabar com o mi-mi-mi. Acabar com essa história de feminicídio, que, daí, com arma na cintura, vai ter é homicídio, tá ok? Valeu, felicidades!” Jair Bolsonaro
A gravação foi feita em março daquele ano, ao lado da hoje deputada Carla Zambelli (PSL-SP).
Fala de Bolsonaro é absurda
Para a deputada Maria do Rosário (PT-RS), uma das mais engajadas na causa feminina no Congresso Nacional, a fala de Bolsonaro, mesmo dita antes de ele assumir a Presidência, é “absurda”. “São declarações trágicas para qualquer pessoa, ainda mais para uma autoridade pública, porque incitam a violência. A primeira parte da declaração considera o feminicídio ‘mimimi’, ou seja, que as mulheres se fazem de vítima. Mas as mulheres estão sendo assassinadas. Ele desconsidera a gravidade do que significa a morte de mulheres”, afirmou.
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Maria do Rosário, além de defensora das mulheres, é também uma das maiores rivais de Bolsonaro na Câmara, autora de duas ações contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF), por apologia ao estupro e injúria. Os casos se referem ao episódio de 2014, quando o capitão, então deputado, afirmou que Maria do Rosário não merecia ser estuprada porque a considerava “muito feia” e não fazer “o seu tipo”.
Governo Bolsonaro faz pouco no combate à violência contra a mulher
Dos 22 ministros do governo Bolsonaro, duas são mulheres: Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Tereza Cristina (Agricultura). “Pela primeira vez na vida o número de ministros e ministras está equilibrado em nosso governo. Temos 22 ministérios, 20 homens e duas mulheres. Somente um pequeno detalhe: cada uma dessas mulheres que estão aqui equivale por dez homens. A garra dessas duas transmite energia para os demais”, afirmou o presidente.
Antes da cerimônia no Palácio do Planalto em que as ministras foram citadas pelo presidente, Damares lançou a campanha “Salve uma mulher”. A ideia é treinar os profissionais da área de beleza para identificar sinais de violência e ajudar as mulheres a denunciar crimes.
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No discurso, ela relacionou ideologia de igualdade de gênero com violência contra a mulher: “Enquanto nossos meninos acharem que menino é igual a menina, como se pregou no passado algumas ideologias, já que a menina é igual, ela aguenta apanhar. Nós vamos dizer para eles que elas são iguais em oportunidades e direitos, mas diferentes fisicamente e precisam ser amadas”.
Acrescentou ainda: “Nós vamos ensinar aos nossos meninos nas escolas a levar flores para as meninas. Por que não? Abrir porta do carro para mulher, por que não? A se reverenciar para uma mulher, por que não? Nós não vamos estar, dessa forma, colocando a mulher em situação de fragilidade, não. Mas nós vamos elevar a mulher para o patamar de um ser especial, pleno, de um ser extraordinário. E é isso que a gente quer fazer lá na escola”.
Violência contra a mulher cresce no Brasil
Enquanto o governo Bolsonaro pensa em ensinar meninos a levar flores e abrir a porta do carro para meninas, a violência contra mulher no Brasil aumenta. Só no mês de maio, tivemos três casos de grande repercussão.
Na última segunda-feira (16), o vigia Fábio Antonio da Silva, 37 anos, foi preso por ser suspeito de estuprar uma mulher no bairro de São Pedro, em Teresina (PI). O crime aconteceu no sábado (14), na empresa em que os dois trabalhavam.
Câmeras de segurança registraram o momento em que a mulher luta com o homem para escapar da violência. O vigia, armado, aborda a colega de trabalho e a arrasta para o local onde cometeu o crime.
Fábio responde por outro estupro no município de Campo Maior. De acordo com o major Audivam Nunes, coordenador da Força Tarefa da Secretaria de Segurança Pública do Piauí, o crime aconteceu quando a mulher encerrava o expediente e o suspeito chegava para trabalhar.
“Ela estava saindo do trabalho e ele, de posse de uma arma de fogo, arrastou ela e consumou o ato. O fato ocorreu no sábado a noite, na Prainha”, declarou.
“A vítima registrou o boletim de ocorrência e nós passamos a diligenciar porque tivemos informações que ele estava escondido em uma lagoa na Prainha. Aí hoje [segunda-feira] de manhã ele foi localizado e agredido por populares e foi preso pela Força Tarefa”, afirmou o major.
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No mesmo dia, 16 de maio, uma mulher sofreu tentativa de feminicídio em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. Imagens de câmeras de segurança mostram o momento em que um homem joga um líquido inflamável e tenta incendiar a vítima. O caso aconteceu em uma loja no centro de Petrópolis, onde a mulher trabalha. Por volta das 7h30, é possível ver os dois em luta corporal e a mulher tentando se desvencilhar do agressor, que seria um ex-companheiro.
Em certo momento, ele joga um líquido inflamável na cabeça da vítima e a segura pelos cabelos. Três pessoas entram na loja para ajudar, mas saem correndo após o homem fazer ameaças.
A mulher tenta escapar, mas o agressor a impede. No final do vídeo, o homem acaba desistindo e vai embora. O caso está sendo investigado pela 105ª DP, em Petrópolis. Em nota, a Polícia Civil disse que a vítima prestou depoimento na delegacia e diligências estão sendo realizadas para localizar o autor do crime.
Já no dia 14 de maio, um homem foi flagrado correndo com uma arma em punho na Avenida Afonso Pena, no centro de Belo Horizonte, em Minas Gerais. As imagens mostram ele perseguindo profissionais do sexo que trabalham na região, gerando pânico. As imagens ainda mostram as mulheres tentando fugir do ataque. Não houve feridos.
Com informações do Hypeness, Congresso em Foco, G1 e Metrópoles