
O ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campêlo abriu seu depoimento na CPI da Pandemia no Senado, nesta terça-feira (15), dizendo que suspendeu a ativação de novos leitos após pedido da White Martins, empresa fornecedora de oxigênio, no dia 7 de janeiro desse ano. Poucos dias antes, em 4 de janeiro, de acordo com Campêlo, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, esteve na capital do Estado, Manaus, para enfatizar a aplicação do chamado tratamento precoce para covid-19 aos infectados.
Campêlo disse que o estado enviou ofício ao Ministério da Saúde no dia 31 de dezembro, pedindo apoio da Força Nacional do SUS, diante da alta de casos. No dia 04 de janeiro, Mayra chegou à capital, quando deu “ênfase” à adoção do tratamento precoce, que utiliza medicação sem eficiência comprovada contra covid-19, como Cloroquina e Ivermectina.
“E vimos uma ênfase da Dr. Mayra em relação ao tratamento precoce e disponibilização, relatando novo sistema que poderia ser usado e seria apresentado, o TrateCov. Viagem dela se deu com mais ênfase na atenção primária, para trabalhar com as prefeituras”.
Marcellus Campêlo
Campêlo e a falta de oxigênio em Manaus
Campêlo explicou aos senadores que, no dia 07 de janeiro, a empresa fornecedora de oxigênio, White Martins, pediu que o Estado paralisasse a ativação de mais leitos de UTI até que a companhia pudesse ampliar o fornecimento do oxigênio.
“Estavam preocupados com aumento de consumo e precisariam fazer uma programação do fornecimento. Então a White Martins pediu que não ativássemos mais nenhum leito de UTI até o sinal da empresa que poderia ter segurança para a ampliação do fornecimento de oxigênio, e assim fizemos, ativar somente na anuência da empresa com segurança. Aí nesse dia informamos que tínhamos capacidade de aumentar em 150 leitos”.
Marcellus Campêlo
Campêlo disse que o desabastecimento de oxigênio em Manaus durou apenas dois dias, mas Omar Aziz (PSD-AM) e Eduardo Braga (MDB-AM) contestaram. Braga afirmou que o ex-secretário mentiu e mostrou vídeo com reportagens. O senador ressaltou que o Amazonas registro mais de 13 mil óbitos, mais de 300 vítimas a cada 100 mil habitantes, acima da média nacional.
“Isso mostra que as coisas não foram bem, tanto não foram que estamos no quinto secretário de Saúde no Amazonas”.
Eduardo Braga
O senador chegou a se irritar com Campêlo.
“Estou cansado de mentiras. Pazuello veio aqui e mentiu, e agora o senhor vem aqui, não minta. O governo do Estado do Amazonas não comprou usinas, estou perguntando, mas tudo o senhor diz que não sabe”.
Eduardo Braga
Campêlo diz que respiradores tiveram problemas
Em defesa do governo federal, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) disse que havia R$ 553 milhões na conta do governo do Amazonas em março de 2021. Para ele, isso demonstra que não faltou dinheiro ao estado para tomar providências necessárias na crise sanitária.
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Fernando Bezerra pergunta se houve tentativa de compra de respiradores por parte do Estado. Marcellus explicou que recebeu registro de entrega de respiradores na primeira onda da Pandemia, a partir de fevereiro de 2020, época da gestão de Luiz Henrique Mandetta. De acordo com o secretário, alguns respiradores chegaram com problemas, outros até inadequados, e dos 80 enviados, 10 foram devolvidos.
Número de pessoas investigadas pode chegar a dez
O relator da CPI da Pandemia, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou na segunda-feira (14) que pode chegar a dez o número de pessoas que deixarão de ser consideradas testemunhas para se tornar investigadas pela comissão. Renan deu a declaração após ter se reunido com o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), e o vice-presidente, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Outros senadores também participaram do encontro.
Durante a entrevista após a reunião, Renan confirmou quatro nomes:
- Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde;
- Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores;
- Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo;
- Mayra Pinheiro, secretária do Ministério da Saúde.
Na segunda (14), Renan já havia dito que estavam entre os “nomes fortes” para serem investigados os de Pazuello, Ernesto Araújo e Fabio Wajngarten.
Investigação facilita aquisição de documentos
Conforme o relator, tornar uma pessoa investigada pela CPI permite aprofundar a apuração, uma vez que facilita, por exemplo, a requisição de documentos e a realização de buscas e apreensões.
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Em um primeiro momento da entrevista na noite desta segunda, o relator foi indagado sobre os nomes das pessoas a serem investigadas, mas não disse. Afirmou que, “preferencialmente”, serão pessoas já ouvidas pela comissão. Depois, novamente questionado, confirmou os quatro nomes.
De acordo com o relator, a mudança de condição de testemunha para investigado não precisa de votação pelos integrantes da CPI.
“Eu vou comunicar ao presidente da CPI que estamos fazendo essa classificação, a partir desse comunicado. E qualquer procedimento, a posteriori, a pessoa será tratada nessa condição”.
Renan Calheiros
‘Avançar alguns passos’
Para o relator, transformar uma testemunha em pessoa investigada “permite avançar alguns passos” nos trabalhos da CPI.
“Tratá-los como investigados significa dar o rumo verdadeiro e avançar alguns passos para que a gente possa concretizar o objetivo, que é responsabilizar as pessoas que são responsáveis pelo agravamento do número de mortos [pela covid]”.
Renan Calheiros
Questionado se Élcio Franco, número dois do Ministério da Saúde na gestão de Pazuello, pode ser um dos investigados, Renan disse que a CPI ainda analisa essa possibilidade.
Mais quebras de sigilo
Também após o encontro desta segunda, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que na próxima quarta-feira (16) a CPI deve votar as quebras dos sigilos telefônico, telemático (dados de mensagens), bancário e fiscal de quatro empresas que produzem medicamentos do chamado “kit Covid”, comprovadamente ineficaz contra a doença.
“Uma dessas empresas, antes da pandemia, tinha déficit de R$ 200 milhões e hoje se encontra com superávit de R$ 1 bilhão. Claramente, lucraram com o tratamento precoce enquanto brasileiros estavam morrendo”.
Randolfe Rodrigues
Ele também confirmou que a CPI não acolherá pedido da defesa do empresário Carlos Wizard, suposto integrante do “gabinete paralelo” de assessoramento do presidente Jair Bolsonaro, para que o depoimento fosse feito de forma virtual. E que Wizard deve ser alvo de um pedido de quebra de sigilos fiscal e bancário.