Com fortes indícios da interferência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Polícia Federal (PF), a Oposição tem receio em aprovar um nome de um delegado ou perito federal para ajudar nas investigações da Comissão parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia no Senado. O receio é que a direção da PF indique uma pessoa que se infiltrará nas apurações e levará informações para o Governo.
A Oposição enxerga como difícil que um delegado federal se voluntarie para ajudar a CPI, com medo de sofrerem retaliações do comando da corporação, subordinado ao Ministério da Justiça. O auxílio de um delegado é de extrema importância para o decorrer das investigações, que teria como funções a análise de documentos sigilosos já fornecidos, a formulação de questionamentos a testemunhas e a composição de pedidos de quebra de sigilo.
Para alguns senadores que formam o grupo de oposição e de “independentes” da Comissão, a alternativa pode ser “caseira”, já que há dois senadores que são delegados da Polícia Civil por formação. O relator da CPI já propôs, em uma das sessões, a contratação de uma agência de checagem de fatos.
No fim de maio, um senador governista apresentou requerimento, no qual pediu a assistência dos delegados da PF apenas para o grupo aliado ao Bolsonaro na CPI. Segundo o pedido, a Polícia Federal não auxiliaria toda a comissão, apenas a ala bolsonarista. O pedido ainda não foi votado, mas internamente é amplamente rejeitado.
Interferência de Bolsonaro na PF causa receio na CPI
Na fatídica reunião ministerial do dia 22 de abril de 2020, Bolsonaro admitiu a tentativa de interferência na PF para salvar sua família. O conteúdo é parte de um processo no Supremo Tribunal Federal (STF). Na ocasião, o chefe do Executivo afirmou que iria interferir em todos os ministérios.
“A questão estratégica, que não estamos tendo. E me desculpe, o serviço de informações nosso, todos, é uma, são uma vergonha, uma vergonha! Que eu não sou informado! E não dá pra trabalhar assim. Fica difícil. Por isso, vou interferir! E ponto final, pô! Não é ameaça, não é uma extrapolação da minha parte. É uma verdade”, afirmou o presidente.
Em outro trecho admitiu com todas as letras que é para proteger a família. “É a putaria o tempo todo pra me atingir, mexendo com a minha família. Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, declarou Bolsonaro.
O STF investiga o uso das estruturas oficiais para proteger pessoas próximas ao presidente. A reunião indica que Bolsonaro usou do cargo público que ocupa para patrocinar interesse privado perante ao Estado. A defesa do presidente é a segurança pessoal, que é garantida por lei e abrange familiares.
Mais de um mês de CPI da Pandemia
A CPI foi proposta pelo senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP), após a grave crise de falta de oxigênio e leitos hospitalares no estado da Amazonas. A comissão visa examinar possíveis omissões do Governo Federal, o incentivo para medicamentos sem comprovação cientifica e do atraso das compras das vacinas.
A ala bolsonarista quis e ainda faz esforços para a comissão desviar o foco do presidente e investigar os governadores, mas essa função é das Assembleias Legislativas de cada estado. Durante as investigações e depoimentos, os senadores governistas tentam sempre tumultuar a sessão e espalham fake news sobre medicamentos e dados da pandemia.
Um estudo feito pela Universidade de São Paulo (USP), entregue a CPI, afirma que o vírus da Covid-19 foi disseminado como estratégia pelo governo de Bolsonaro, revela o empenho do Executivo Federal em espalhar o coronavírus. Essa pesquisa é um dos documentos centrais para comprovar os crimes do Presidente.
Com informação de G1 e Uol