Às vésperas do lançamento oficial da pré-candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência da República, a divulgação de entrevista deste à revista norte-americana Time levou o petista a ser um dos assuntos mais comentados do Twitter nesta quarta-feira (04).
Na entrevista, também disponível em português, o ex-presidente relembrou o tempo em que ele governou o Brasil – de 2003 a 2010 – quando deixou o cargo com 83% de aprovação. E falou dos desafios que enfrentará para recuperar uma economia debilitada, recuperar a nação que teve a segunda maior taxa de mortes por Covid-19 e salvar a democracia que está sob ameaça.
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A Time destacou que até o momento Lula aparece nas pesquisas com 45% das intenções de voto contra 31% para o atual presidente Jair Bolsonaro (PL).
A revista americana conversou com Lula no fim de março, na sede do PT, em São Paulo, e abordou temas como a prisão, a guerra da Ucrânia e, claro, a democracia brasileira e as Eleições de 2022.
O ex-presidente afirma que ao deixar a presidência em 2010 não pensava em voltar a se candidatar ao cargo. Porém mudou de ideia diante da atual conjuntura política, econômica e social do País.
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“O que eu estou vendo, doze anos depois, é que tudo aquilo que foi política para beneficiar o povo pobre — todas as políticas de inclusão social, o que nós fizemos para melhorar a qualidade das universidades, das escolas técnicas, melhorar a qualidade do salário, melhorar a qualidade do emprego—, tudo isso foi destruído, desmontado”, avaliou.
Lula afirmou que a expectativa que existe hoje em torno de sua volta se deve ao fato da memória que os brasileiros têm de seu período de governo.
“As pessoas trabalhavam, tinham aumento de salário, os reajustes salariais eram acima da inflação. Então, eu penso que as pessoas tem saudade disso e querem tudo melhorado”, disse.
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O petista afirma que só aceitou o desafio de voltar à disputa presidencial porque sabe que pode fazer melhor do que já fez em seus governos anteriores.
“Eu tenho clareza de que eu posso resolver os problemas [do Brasil]. Eu tenho a certeza de que esses problemas só serão resolvidos quando os pobres estiverem participando da economia, do orçamento (…) quando os pobres estiverem participando do orçamento, quando os pobres Isso só é possível se você tiver um governo que tenha compromisso com as pessoas mais pobres.”
Lula
Política econômica
Ao falar de política econômica, Lula foi enfático ao dizer que não é possível discutir esse tema antes de ganhar as eleições. “Primeiro você precisa ganhar para depois saber com quem você vai compor e o que vai fazer.”
Ele lembra que quando foi presidente da República houve um crescimento do mercado econômico. “O Brasil devia 30 bilhões e passou a ser credor do FMI porque emprestamos 15 bilhões.”
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E afirmou que quando assumiu o governo o País não tinha reserva internacional e hoje tem 370 bilhões de dólares de reserva internacional.
Ucrânia, OTAN, Putin e Biden
Sobre política internacional, o ex-presidente Lula fez uma avaliação a partir da guerra da Ucrânia. O petista destacou que Putin não deveria ter invadido a Ucrânia, mas não é só o Putin que é culpado, são culpados os Estados Unidos e é culpada a União Europeia.
“Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a OTAN? Os Estados Unidos e a Europa poderiam ter dito: ‘A Ucrânia não vai entrar na OTAN’. Estaria resolvido o problema”, disse Lula.
Para Lula o primordial seria as tentativas de negociar para resolver os conflitos. “Eu, se fosse presidente hoje, teria ligado para o [Joe] Biden, teria ligado para o Putin, para a Alemanha, para o [Emmanuel] Macron, porque a guerra não é saída. Eu acho que o problema é que, se a gente não tentar, a gente não resolve. É preciso tentar.”
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Sobre Biden, Lula disse que o presidente norte-americano não tomou a decisão correta quanto à guerra entre Rússia e Ucrânia.
“Os Estados Unidos têm um peso muito grande e ele poderia evitar isso, e não estimular. Poderia ter falado mais, poderia ter participado mais, o Biden poderia ter pegado um avião e descido em Moscou para conversar com o Putin. É esta atitude que se espera de um líder. E eu acho que ele não fez.”
Racismo, escravidão e governo Bolsonaro
Sobre a pandemia no Brasil, a Time abordou a vulnerabilidade da população negra no período, além dos índices de desemprego e da violência policial. Lula afirmou que durante a prisão na Polícia Federal, em Curitiba, leu muito sobre escravidão e disse que para enfrentar o racismo um dos primeiros passos é investir em Educação.
“(…) às vezes tenho dificuldade de compreender o que foram 350 anos de escravidão. E eu tenho mais dificuldade de compreender que a escravidão ela está dentro da cabeça das pessoas, o preconceito está dentro da cabeça das pessoas. Aqui no Brasil, na periferia brasileira, milhares de jovens são mortos quase todo mês, todo ano. Então não é possível isso continuar”, disse.
O ex-presidente destacou que o discurso de ódio, que tem sido uma prática do atual governo, ajudou a despertar esse preconceito em boa parte da população. “Eu não diria que ele [Bolsonaro] tem culpa pelo racismo porque o racismo é crônico no Brasil. Mas ele estimula”, concluiu.
Para ler a íntegra da entrevista acesse: Lula Conversa com TIME Sobre Ucrânia, Bolsonaro e a Frágil Democracia Brasileira