
O uso de cloroquina e hidroxicloroquina como medida para “tratamento precoce” contra Covid-19 por orientação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) arrancou risos de deputados franceses. Nesta terça-feira (13), o primeiro-ministro da França, Jean Castex, fez um pronunciamento no qual informou a integrantes do parlamento francês que o Brasil é o país que mais usa os medicamentos sem eficácia comprovada. O premiê também anunciou a suspensão de voos entre os dois países e arrancou aplausos dos parlamentares.
“Notamos que a situação está piorando e decidimos suspender todos os voos entre o Brasil e a França até segunda ordem.”
Jean Castex, primeiro-ministro da França
A declaração foi concedida durante audiência entre deputados e membros do gabinete de governo francês. O temor é pela ameaça das variantes brasileiros, principalmente a chamada P1, que teve origem identificada em Manaus e tem sido considerada mais transmissível e mais letal. Além disso, o Brasil é atualmente o país com maior número de mortes diárias por coronavírus.
Confira a declaração de Castex:
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Socialistas comentam decisão da França
O líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), comentou sobre o descaso do governo federal no enfrentamento ao coronavírus e lembrou que os brasileiros estão impedidos de entrar em diversos lugares do mundo. “Ao tratar a doença como ‘gripezinha’, o governo condenou o país a ameaça mundial e, não à toa, outros países estão colocando restrições de entrada”, afirmou pelas redes sociais.
O deputado Bira do Pindaré (PSB-MA) também comentou a decisão dos franceses. “O capitão cloroquina tanto fez que viramos chacota internacional”, disse pelas redes sociais.
“Tratamento precoce” contra a Covid-19
A cloroquina e a hidroxicloquina não têm eficácia comprovada cientificamente contra o coronavírus. Ao contrário, pesquisas recentes e registros em prontuários médicos mostram que os medicamentos podem causar diversos efeitos colaterais, como falência hepática, em caso de uso indevido.
Em outubro do ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um estudo que demonstrava a ineficácia de diversos medicamentos, incluindo muitos do “tratamento precoce” brasileiro, contra a Covid-19.
Durante a reunião que aprovou o uso emergencial das vacinas Coronavac e de Oxford, em janeiro deste ano, técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reforçaram a inexistência de tratamento precoce para o coronavírus.
Apesar disso, Bolsonaro tem incentivado o uso dos medicamentos desde o ano passado. O governo federal usou R$ 70,4 milhões de recursos públicos emergenciais que deveriam ser usados no combate da Covid-19 para produzir 4 milhões de comprimidos de cloroquina.
O Planalto também gastou R$ 1,3 milhão dos cofres públicos para pagar ações de marketing de influenciadores digitais a favor do uso do “kit Covid“, denominação para o conjunto de medicamentos distribuídos pelo governo federal ao Sistema Único de Saúde (SUS) sem comprovação científica na eficácia para o tratamento do coronavírus, entre eles a cloroquina.
Com informações da BBC e do Congresso em Foco