O rastro de crimes atribuídos ao miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, morto há seis meses na Bahia, continua na mira da polícia a do Ministério Público (MP), que trabalham em ao menos quatro frentes de investigações.
A sindicância pode atingir amigos, aliados e familiares de Nóbrega, que é acusado de ter sido um dos milicianos mais poderosos e perigosos do Rio de Janeiro. Segundo o Estadão, ele era suspeito em homicídios, extorsão, agressão e lavagem de dinheiro.
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Na lista de crimes constam assassinatos por envolvimento com contraventores (jogo do bicho), comando de grupo que controla Rio das Pedras, participação de Nóbrega no Escritório do Crime – grupo especializado em mortes por encomenda -, e o esquema de nomeações de funcionários fantasmas no Rio: as “rachadinhas”.
“Rachadinhas”
O esquema de “rachadinhas” (apropriação do salário de assessores) no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) é considerado o tema mais sensível da investigação.
Nóbrega viabilizou a contratação da mãe, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher, Danielle Mendonça da Nóbrega, por 11 anos na Alerj, como assessoras no gabinete do então deputado Flávio. O esquema ocorreu entre 2007 a 2018.
Juntas, Raimunda e Danielle receberam R$ 1 milhão em salários da Alerj. Desse montante, a investigação identificou que elas transferiram pelo menos R$ 202 mil para a conta de Fabrício Queiroz. Outros R$ 200 mil rastreados ainda não tiveram a destinação identificada.
A promotoria acredita que desde o início das investigações, Queiroz e capitão Adriano atuaram para atrapalhar o MP e a Justiça. Eles, que serviram juntos na PM, teriam pedido, por exemplo, para testemunhas não prestarem depoimento.
Outras 3 frentes
Contraventores / jogo do bicho: do fim dos anos de 1990, quando entrou para a polícia militar e virou um “caveira” da tropa de elite, exímio atirador e estrategista, até meados da última década, capitão Adriano manteve relações com contraventores do jogo do bicho. Por conta dessa relação, pelo menos seis assassinatos, entre 2005 e 2010, são atribuídos a capitão Adriano e outros policiais, a mando dos contraventores. A ligação com contraventores e as prisões resultaram na expulsão de Adriano da PM em 2014.
Milícia de Rio das Pedras: nos últimos dez anos, Nóbrega manteve envolvimento com a milícia que extorquia, matava e vendia proteção na segunda maior comunidade do Rio. O patrimônio do ex-PM, especialmente imobiliário, é alvo da investigação. Foi por essa ligação com a milícia que o capitão Adriano e outros policiais e ex-policiais se tornaram alvos das operações Intocáveis I e II, em janeiro de 2019 e fevereiro de 2020. No dia 22 de janeiro de 2019 ele fugiu.
Escritório do Crime: desde a época em que atuava como segurança e braço armado de bicheiros ligados à família de Waldomiro Garcia, o Miro (morto em 2004), teria participado de assassinatos cometidos por encomenda. O grupo criminoso chagava a cobrar até R$ 1,5 milhão por homicídio.
Caso Marielle Franco
Entre as mortes creditadas aos Escritório do Crime estaria o assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Contudo, o caso não consta do inquérito que investiga a morte da vereadora. A informação sobre o envolvimento do ex-militar com o caso Marielle Franco foi repassada em nota pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia, sem detalhes.