Crise que levou à saída do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica contribuirá para o isolamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), afirmam militares da reserva ao jornal O Globo.
Durante o momento mais caótico do governo federal, com escalada da rejeição e piora da pandemia de Covid-19, Bolsonaro escancarou a polarização dentro do Exército, causada por ele mesmo, e agora parte da instituição deixa de lado postura passiva, que permitia ao presidente passar a impressão de que tinha o aval da tropa para as suas falas antidemocráticas.
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Com a ida de Braga Netto para o Ministério da Defesa, ficam em foco no Planalto apenas mais dois ministros militares: Luiz Eduardo Ramos, na Casa Civil, e Augusto Heleno, no Gabinete de Segurança Institucional (GSI). A avaliação, no entanto, é que os dois últimos atuam mais como políticos hoje por terem se misturado ao bolsonarismo. E já não têm mais o respeito entre os seus pares, ao contrário de Braga Netto.
Porém, com as distorções do texto de Braga Netto nesta quarta-feira (31), que enaltece as “conquistas” do golpe de 1964 e reforça os temores da manobra de Bolsonaro para ampliar a politização e influência nas Forças Armadas, esse respeito pode ir por água abaixo.
Escalada da crise com militares
Como a presença de militares em funções civis no governo federal mais que dobrou no governo Bolsonaro, passando de 2,5% para 6,5%, as Forças Armadas sabiam que a postura do presidente influenciaria na imagem dos militares. A crise foi iniciada em abril de 2020, com a participação do presidente em manifestação que pedia intervenção militar, em frente do Quartel General do Exército, em Brasília.
Em maio, depois de nova manifestação antidemocrática com a presença de Bolsonaro, o comando das Forças Armadas fez o primeiro gesto de distanciamento do presidente. Na época, o Ministério da Defesa emitiu uma nota para ressaltar que a Marinha, o Exército e a Aeronáutica cumprem a sua missão institucional e estarão “sempre ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade”.
Alguns meses depois, em novembro do ano passado, um comentário do presidente também gerou desconforto. Na época, Bolsonaro atacou o então candidato à presidente dos Estado Unidos, Joe Biden, e afirmou que “quando acaba a saliva da diplomacia, tem de ter pólvora”.
Na mesma semana, o comandante do Exército, Edson Pujol, afirmou que os militares não querem “fazer parte” da política, nem que a política “entre” nos quartéis. Em outra ocasião, pouco depois, ressaltou que as Forças Armadas não são instituição de governo e não têm partido. Bolsonaro, então, reagiu e mostrou a intenção de polarização dizendo que as Forças Armadas devem permanecer apartidárias, e que têm de atuar “baseadas na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República”.
Na fala mais recente, o presidente falou publicamente que “meu Exército” não permitiria o lockdown determinado por estados. Enquanto isso, foi derrotado no Supremo Tribunal Federal (STF) em sua intenção de derrubar restrições em três unidades da Federação, numa ação que não foi coassinada pelo advogado-geral da União, José Levi — ajudando a levar à sua queda, também na segunda.
Seria Mourão a solução?
Ainda de acordo com reportagem do jornal O Globo, entre os militares também há quem veja com bons olhos o impeachment do presidente para que o vice, general Hamilton Mourão, assuma o comando. Por demonstrar discordância com o mandatário em várias ocasiões e não obedecê-lo cegamente como Eduardo Pazuello, Mourão goza de maior simpatia entre os comandantes da ativa.
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Com o perfil é tido como conciliador, alguns militares acreditam que seja ideal para um momento em que o país precisa de união para superar a pandemia, sendo visto como uma figura capaz de ocupar o espaço no centro do espectro político.
Com informações do jornal O Globo
As informações dão conta que o texto da Ordem do Dia, lido por Braga Neto foi confeccionado pelo seu antecessor…