O atual presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas eleições, possui um longo histórico de agressões às mulheres. Entretanto, um ex-aliado e coordenador da campanha do mandatário no Nordeste em 2018, fez revelações graves sobre as ações violentas do presidente. Julian Lemos (União-PB), afirmou em entrevista ao podcast Arretado que Bolsonaro bate na primeira-dama Michelle Bolsonaro.
O deputado afirma que que Bolsonaro teria batido em Michelle durante as férias em 2019 porque a esposa teria aparecido com silicone. “Ele deu uns tapas nela nas primeiras férias dele, que ele foi para uma ilha. Ela foi botar silicone e ele pegou e deu uns tapas nela dentro de casa”, contou o deputado na entrevista no dia 1º de novembro.
Confira o trecho abaixo:
📌“ELE DEU UNS TAPAS NELA”.
— Joice Hasselmann (@joicehasselmann) November 8, 2022
As inconfidências do deputado Julian Lemos que foi um amigo da cozinha de @jairbolsonaro .
Parte 1: Michelle, um casamento de fachada. pic.twitter.com/08KX0Eu4Ak
No vídeo, Lemos declara que “agora deu uns empurrão (SIC) nela de novo”, falando do cenário pós derrota na disputa presidencial. Um dos apresentadores lembra que ela não estava com o marido e o deputado responde. “Não estava porque estava toda marcada. Manda ela aparecer ai”, diz.
No início da entrevista, o parlamentar afirma que o casamento entre Bolsonaro e Michelle “é de fachada“.
No vídeo, divulgado por Joice Hasselmann nas redes, é mostrado ainda uma manchete do jornal Valor Econômico do dia 2 de janeiro de 2020 com a chamada: “Michelle Bolsonaro troca prótese de silicone e faz plástica na barriga”.
Histórico de agressões às mulheres de Bolsonaro
O histórico de agressões do presidente Jair Bolsonaro às mulheres é longo e de conhecimento público. O mandatário não faz questão de esconder seu machismo e misoginia. Contudo, às vésperas da eleição, em busca do eleitorado feminino, o presidente tentou limpar sua imagem, enquanto seus apoiadores tentam emplacar fake news contra o, então candidato, Lula (PT).
Apesar das tentativas, a violência de Bolsonaro, que incluem pelo menos dois casos de agressão física — admitidos por ele —, e inúmeros comportamentos desrespeitosos e ofensivos contra jornalistas e parlamentares no exercício de suas funções, não será esquecida. Relembre os casos abaixo:
Murros e ameaças
Durante campanha eleitoral para se reeleger deputado federal, em 1998, Bolsonaro esmurrou por trás a cabeça de Conceição Aparecida, então funcionária da Planajur, empresa de consultoria jurídica que prestava serviços para o Exército. Conceição discutiu com uma apoiadora de Bolsonaro e acabou esmurrada pelo então deputado. Na época, o Jornal do Brasil noticiou a agressão, e o próprio Bolsonaro admitiu ao jornal ter cometido a violência.
Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro, e mãe do quarto filho do presidente, Jair Renan, também foi vítima de ameaça. Em 2011, a Embaixada do Brasil na Noruega entrou em contato com Ana Cristina para questionar porque ela havia se mudado para o país europeu com o filho, então adolescente, sem uma autorização expressa do pai. Ela, então, disse que havia sido ameaçada de morte por Bolsonaro e questionou se poderia pedir asilo na Noruega.
A afirmação de Ana Cristina foi registrada em uma comunicação diplomática e noticiada por diferentes jornais, como a Folha de S. Paulo e o Correio Braziliense.
Ataque machista de Bolsonaro a jornalista
O presidente da República, sem a mínima vergonha, deu a um jargão jornalístico conotação sexual para insultar a jornalista Patrícia Campos Mello por ter publicado reportagens sobre um esquema de disparo de mensagens em massa contra o PT para favorecer Bolsonaro nas eleições de 2018.
O presidente aludiu ao caso com uma insinuação sexual: “Ela queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim”, disse. Entre repórteres, o jargão “dar um furo” significa publicar uma informação antes dos concorrentes. Ao usar a expressão, o presidente enfatizou o duplo sentido da palavra quando se referiu à jornalista. Bolsonaro foi condenado em primeira e segunda instâncias.
Ataques contra Mária do Rosário
Em 2003, no Salão Verde da Câmara dos Deputados, em frente às câmeras de uma emissora de televisão, o então deputado federal, Jair Bolsonaro, não demonstrou nenhum constrangimento ao insultar a também deputada Maria do Rosário (PT). A parlamentar afirmou que, com seus discursos e posições políticas, Bolsonaro promovia a violência contra a mulher.
O que foi de pronto comprovado. Em resposta, Bolsonaro disse: “Eu sou o estuprador agora? Não vou estuprar você porque você não merece”. Ele ainda chamou a parlamentar de “vagabunda” e a empurrou.
Onze anos depois, em 2014, no Plenário da Câmara ele repetiu o ato. Maria do Rosário acabara de fazer um discurso defendendo que os torturadores da ditadura militar fossem responsabilizados. Bolsonaro, que sempre defendeu torturadores, tomou a palavra em seguida e se dirigiu à deputada de maneira agressiva: “Não saia, não, Maria do Rosário, fique aí. Há poucos dias, você me chamou de estuprador no Salão Verde e eu falei que eu não estuprava você porque você não merece. Fique aqui para ouvir”.
No dia seguinte, em entrevista ao Jornal Zero Hora, ele repetiu mais uma vez: “Ela não merece porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar porque não merece”.
Por três vezes o então deputado, ao afirmar que a parlamentar “não merece ser estuprada”, admitiu que outras mulheres podem ser. Pela atitude, após recursos que chegaram até o Supremo Tribunal Federal (STF), ele foi condenado a indenizar e se desculpar com Maria do Rosário.
Fraquejada
Talvez de todas as falas machistas de Bolsonaro, a que mais causa repulsa é a em que ele agride a própria filha. “Eu tenho 5 filhos. Foram 4 homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”. A frase mostra que o seu desprezo não se direciona a uma ou outra mulher de quem ele eventualmente discorde ou que seja de espectro político contrário ao dele, mas a todas as mulheres.
À época, Laura, sua filha caçula, tinha apenas seis anos. E já foi alvo da “piada” do pai. Seus irmãos não reprovaram a fala, pelo contrário, consideraram apenas mais uma “brincadeira” do patriarca.
Discriminação em série
Em entrevista também durante a campanha presidencial em 2018, Bolsonaro protagonizou um embate com Renata Vasconcellos, no Jornal Nacional. Questionado pela jornalista sobre declarações anteriores em que minimizou a importância da desigualdade salarial entre homens e mulheres, tentou constranger a profissional insinuando que ela receberia menos que o outro apresentador, Willian Bonner, apesar de exercerem a mesma função.
Antes e depois de eleito Bolsonaro deu inúmeras declarações contra a igualdade de remuneração entre homens e mulheres. Para ele, arranjar emprego pode se tornar “quase impossível” para as mulheres, caso sancione o Projeto de Lei 130/2011, que amplia a multa contra empresas que praticam discriminação salarial contra trabalhadoras. O projeto foi aprovado pelo Senado e tramita agora na Câmara.
Ao jornal Zero Hora, em 2014, disse achar justo uma mulher ganhar menos que um homem para fazer o mesmo trabalho, pois pode engravidar e tirar licença maternidade.
Os argumentos do presidente só reforçam a desigualdade, atacam um direito das mulheres e ameaçam anos de luta por isonomia.
“Cala a boca!”
Por vezes Bolsonaro direcionou sua fúria e preconceito de gênero contra jornalistas, numa clara tentativa de inibir o exercício da imprensa no país.
Em junho de 2021, em Guaratinguetá, questionou pelo fato de ter chegado ao local sem usar máscara, conforme exigia a lei estadual, o presidente mandou a repórter Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da Globo, “calar a boca”.
Dias depois, perdeu o controle novamente. Ao ser indagado sobre o atraso de vacinas contra a Covid-19 e o escândalo dos contratos do imunizante indiano Covaxin, o presidente mandou Victoria Abel, da Rádio CBN, voltar para a faculdade, e que ela “deveria na verdade voltar para o ensino médio, depois para o jardim de infância e aí nascer de novo”.
Em outra ocasião, furioso, dirigiu gritos em tom ameaçador à Adriana de Luca, da CNN Brasil. Ele disse: “Você está empregada aonde? (sic). “Pare de fazer perguntas idiotas”. Durante conversa com apoiadores na entrada do Palácio Planalto, Jair Bolsonaro xingou a jornalista Daniela Lima, da CNN Brasil, de “quadrúpede”.