Governo Bolsonaro fez discurso recheado de metas na COP26, sem informar como pretende cumpri-las
O governo de Jair Bolsonaro (sem partido) até tentou passar uma imagem de que está comprometimento com a preservação ambiental durante a 26ª Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP26), em Glasgow, Escócia. Porém, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que outubro foi o pior desde que o banco de dados foi criado.
Apenas dois dias depois do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, garantir na COP26 que “o futuro verde do Brasil já começou”, o Inpe mostra que a área sob alerta de desmatamento é de 877 quilômetros quadrados. O número representa alta de 5% em relação a 2020 é um recorde para o mês de outubro na série histórica.
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Em seus discursos, o ministro omitiu a alta no desmatamento e, ao ser questionado pela imprensa, dava apenas respostas evasivas. Após a divulgação dos dados, o ministro desconversou.
“Quando voltar ao Brasil vou falar com o ministro Anderson [Torres, da Justiça,] para entender esses dados do Inpe. Não acompanhei esses números, estava focado nas negociações”, disse Leite.
O secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, afirma que “as emissões acontecem no chão da floresta, não nas plenárias de Glasgow”.
“E o chão da floresta está nos dizendo que este governo não tem a menor intenção de cumprir os compromissos que assinou na COP26”, reforça.
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Compromissos do Brasil na COP26
Um dos principais compromissos assinados por mais de cem países em Glasgow foi o de lutar contra o desmatamento das florestas até 2030. O Brasil aderiu à iniciativa, criando uma meta de acabar com o fenômeno ilegal até 2028. O tema era um dos maiores pontos de constrangimento internacional para o país e a adesão serviu, acima de tudo, para desmobilizar chantagens nas negociações.
Tanto o vice-presidente da Comissão Europeia, Franz Timmermans, como o enviado americano John Kerry, fizeram declarações no mesmo sentido: sem medidas concretas, não há como trabalhar com o Brasil e promessas não serão suficientes.
Mas, para ambientalistas, o governo americano pecou em dar crédito ao Brasil. Para Diane Ruiz, do Greenpeace, “Kerry está legitimando a destruição florestal com seus acordos florestais na COP26” e “permitindo que Bolsonaro avance mais na destruição das florestas e no abuso dos direitos humanos”, informa o jornalista Jamil Chade, do Uol.
“O Brasil está planejando atingir seu objetivo de reduzir o desmatamento ilegal, legalizando mais desmatamento”, disse.
Quando a delegação brasileira retorna de sua turnê de relações públicas em Glasgow, seu Senado está apressando a votação de uma legislação que recompensaria e incentivaria a apropriação de terras, uma atividade criminosa responsável por pelo menos um terço de todo o desmatamento na Amazônia brasileira”, alertou.
Com informações do g1, Folha de S.Paulo e Uol