Por Tiago Lima Carvalho – Especialista em Direito Internacional e secretário de Formação Política da JSB Pernambuco
Ouvi o recente episódio do podcast Café da Manhã, da Folha, que trata do preocupante aumento do neonazismo nas escolas brasileiras.
Lembrei-me das palavras do filósofo alemão Theodor Adorno: “Desbarbarizar tornou-se a questão mais urgente da educação hoje em dia…”.
Essa advertência, sempre atual, foi feita no livro Educação e Emancipação, escrito após a Segunda Guerra Mundial, no qual ele defende uma formação humanista e destaca a importância da educação para a construção das sociedades democráticas.
Depois dos horrores do nazismo houve um grande pessimismo com a educação, principalmente na Alemanha. Como explicar que engenheiros formados construíssem câmaras de gás? Ou que médicos diplomados envenenassem crianças? A guerra havia vencido o poder da educação em formar pessoas éticas, solidárias e humanas?
Aqueles horrores nos mostraram que só aprender não é suficiente. É preciso ir além, com uma educação emancipatória e humanizadora, como destacou Adorno.
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No Brasil vivemos os últimos quatro anos de governo de extrema-direita com anti-intelectualismo, anti-ciência, negacionismo, armamentismo e pregação de ódio, fermentos importantes para empoderar grupos radicais que trazem a ideia de xenofobia, misoginia, transfobia, de racismo estrutural, de supremacia racial.
Isso não quer dizer que todo extremista de direita é nazista ou fascista. Os fascistas representam uma perigosa minoria da extrema-direita.
O enfrentamento do neonazismo passa pelo combate e desmonte desses grupos radicais, com punição, reeducação dos jovens, pacificação social, fortalecimento da democracia e por profundas reformas na Educação.
Sabemos que a Educação não pode tudo, mas sem ela não podemos nada.
O modelo de escola que temos foi concebido para as necessidades lá da primeira Revolução Industrial. Hoje caminhamos para a quinta Revolução Industrial e a escola não mudou: continua com o modelo fordista, repetitivo, tecnicista, mecanicista. Um modelo excludente e voltado para a competitividade, com poucos vencedores e muitos perdedores. Um sistema que gera professores adoecidos e alunos infelizes. Basta ver os números e os resultados que aí estão. E essa crítica não é contra os educadores, que tanto lutam; é contra o modelo que não tem funcionado, como é do reconhecimento dos próprios órgãos e organismos internacionais.
Também é injustificável esse modelo que exclui as disciplinas de filosofia e sociologia dos currículos e reduz as cargas horárias de história e geografia.
A escola precisa se preocupar com a formação da pessoa, no sentido grego, de formação integral, para a cidadania e para os valores humanos.
É preciso desbarbarizar e humanizar. Nascemos humanizáveis. Ao longo das nossas vidas podemos nos humanizar mais, ou menos, ou até nos desumanizar. E a Educação é o único caminho que permite a nossa humanização.