Internautas não perdoaram o médico psiquiatra Eduardo Portieri, após ele ser filmado agredindo uma mulher no Posto de Saúde CS II José F. Rosas, em Piracicaba, interior de São Paulo. Após a divulgação do vídeo, as cenas foram compartilhadas milhares de vezes desde a última quarta-feira (10), para denunciar a violência.
De acordo com informações veiculadas inicialmente pelo Ponte Jornalismo, a vítima é a professora Lia Costa que estava no local acompanhando uma família em situação de vulnerabilidade social. “Eu vim auxiliar uma conhecida que estava precisando de atendimento para ela e para os filhos, porque um dos filhos tem um tumor, aconteceu muita coisa”, contou ela ao veículo.
Leia também: “Jair Bolsonaro está logo atrás de Maduro como o pior líder da América Latina”, diz economista
Segundo a professora, a intenção da consulta com o especialista era obter um laudo que comprovasse que a mãe não possui condições de criar os filhos sem a ajuda do Estado. Enquanto aguardavam a consulta, o médico passou pelo grupo diversas vezes, sem máscara, e quando se dirigiu a eles e soube que o atendimento seria para a criança, se recusou a atendê-lo.
“Quando fomos ser atendidas, ele virou para mim e perguntou quem iria ser atendido. Mostrei a criança e ele disse: ‘Você está me fazendo de palhaço? Eu não atendo criança’. Aí eu falei que podia ter havido um engano, mas que ele podia atender a mãe. Aí ele disse que não era idiota e que não iria atender ninguém. Foi quando falei que ele estava sem máscara dentro do posto”.
Agressão
Lia afirma que neste momento começou a filmar a cena, o que irritou o médico. Ela diz ainda que o médico perguntou quem ela era e que se continuasse filmando, iria processá-la. Como a professora seguiu com a filmagem, ele iniciou as agressões.
“Torceu o meu celular, machucou a minha mão e o meu ombro só porque foi gravado sem máscara dentro de um posto de saúde em uma pandemia que morrem por dia 2 mil pessoas e tinha uma criança traumatizada vendo tudo”, contou ela.
Uso de máscara
Ainda em entrevista à ONG, Lia afirmou o absurdo de um profissional que trabalha em um posto de saúde se recusar a usar a máscara de proteção contra a Covid-19.
“Ainda que ele esteja ou não com coronavírus, sendo um ‘profissional’, se negar a usar máscara e ser violento é muito errado. Mais uma vez essa mãe foi negligenciada pelo Estado, mais uma vez a criança foi traumatizada e mais um vez uma mulher é agredida”, lamentou.
Leia também: Irritado com novo cenário político, Eduardo manda população ‘enfiar no rabo’ máscara contra Covid-19
Ela também contou que, ao serem levados à delegacia, o agressor foi escoltado e recebeu atendimento especial. Porém, nenhum apoio foi oferecido a ela. “Fiz um boletim de ocorrência e vou ao Ministério Público porque não quiseram me dar medida protetiva. A cidade é pequena, uma pessoa que faz isso é uma pessoa perigosa. Eu também chamei uma viatura, mas a Polícia Militar não me atendeu. Eu corro risco”, pontuou.
Reações
O vídeo postado pela professora repercutiu em vários sites de notícias e, principalmente, nas redes sociais. A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que é médica, compartilhou o vídeo em seu perfil do Twitter e se mostrou indignada com a situação ocorrida no posto de saúde.
Ela escreveu: “MEU DEUS!! Reportagem da @pontejornalismo mostra um homem agredindo uma mulher depois de ter a atenção chamada por estar SEM MÁSCARA. Como assim????? ESTAMOS NUMA PANDEMIA!!!!!! Parece que é um médico, segundo a reportagem.”
O que dizem os envolvidos
Durante a apuração do ocorrido, a Ponte Jornalismo entrou em contato com os demais envolvidos no caso. Até o momento, não houve retorno por parte do psiquiatra Eduardo Portieri.
A Prefeitura de Piracicaba afirmou, em nota, que “conforme anunciado em nossas mídias sociais, a administração, vem a público esclarecer que o episódio ocorrido na Unidade de Pronto atendimento, amplamente divulgado nas redes sociais, já está em processo de apuração, visando o devido esclarecimento dos fatos. Desta forma, a partir da conclusão dos procedimentos administrativos adotados, nos manifestaremos oportunamente”.
Leia também: Mortes por Covid-19 no sistema prisional cresceram 190%, diz CNJ
Já a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do município informou que “a ocorrência foi registrada como vias de fato, desacato e ameaça na Delegacia de Piracaia. Ambas as partes e uma testemunha foram ouvidas e alegaram que as agressões ocorreram após o médico não atender o filho da envolvida. Eles foram orientados sobre o prazo para representação criminal e o caso encaminhado ao Juizado Especial Criminal (Jecrim)”.
Em nota enviada ao portal de notícias Uol, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo também se manifestou. “O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo repudia todo e qualquer tipo de violência e reitera a importância do protocolo de prevenção à covid-19, como o distanciamento social, uso de máscara e álcool em gel, entre outras medidas já preconizadas pelas autoridades sanitárias. O Cremesp tomou conhecimento do caso em questão por meio da imprensa e vai investigar.”
Com informações da Ponte Jornalismo e Uol