A cientista social Adriana Dias, uma das maiores especialistas em neonazismo do país, morreu neste domingo (29). Colaboradora assídua da Fórum, ela foi uma grande defensora dos direitos civis, das liberdades individuais e dos direitos dos deficientes.
Adriana lutou nos últimos meses contra um câncer cerebral, tendo se submetido a uma cirurgia recentemente. Além de cientista social, Adriana era mestre e doutoranda em Antropologia Social pela Unicamp. Ela também coordenava o Comitê “Deficiência e Acessibilidade, da Associação Brasileira de Antropologia” além de fazer parte da American Anthropological Association.
Carta de Bolsonaro
Adriana Dias mapeava grupos e alertava sobre o crescimento do neonazismo no Brasil. Em uma de suas pesquisas, ela encontrou uma carta, do então deputado federal Jair Bolsonaro, datada de 2004, dirigida a neonazistas de um site que propagavam tal ideologia, retirado do ar em 2006: o Econac.
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“Eu estava me preparando para um colóquio em Minas Gerais e precisei pegar um material de um dos sites nazistas que eram denunciados por internautas desde 2002. Pedi para meu marido pegar a parte impressa de um site saiu do ar em 2006, perto da minha defesa de mestrado. Eu transformava em pdf. e salva o site, porque o site ia ser denunciado e logo sairia do ar. Quando eu peguei uma parte dessa página, lá estava a carta do Bolsonaro. Eu fiquei bem chocada e então pedi para minha estagiária varrer todo site. A partir daí a gente achou mais coisa no Econac e num outro grupo também, o Poder Branco, que também fazia referências a Bolsonaro. No caso do Econac, que tinha banners e a carta, havia mais menções lá a Bolsonaro”, disse Adriana.
Em janeiro do ano passado, ela alertou no programa Fórum Onze e Meia que “somente em 2021, quase 1 milhão de pessoas leram material neonazista”. Outro número assustador, segundo Adriana na ocasião, é que há 530 células de 52 grupos neonazistas. Isso representa que há focos “em quase todos os estados do Brasil”.
De acordo com as pesquisas da antropóloga, esses focos não param de crescer. Em 2009, em função de brigas entre eles, os dois principais grupos neonazistas em atividade no país tinham recuado e as células se desligaram.
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Arquivo precioso
Além de inúmeros artigos, ela deixou na Revista Fórum um precioso arquivo com textos e comentários em vídeo feitos durante o período bolsonarista no país.
Neste domingo, infelizmente, Adriana Dias partiu, deixando uma grande lacuna no estudo a respeito do crescimento de correntes políticas de extrema direita no Brasil, principalmente o neonazismo.
Além de uma colaboradora insubstituível, a equipe da Fórum perde uma grande amiga, que nunca deixou de nos atender prontamente, na sua incansável luta contra forças políticas extremistas.
Relembre abaixo alguns vídeos da Fórum com a participação de Adriana: