
A pandemia da Covid-19 impulsionou o uso da bicicleta como meio de transporte. No mundo todo, a crise sanitária fez com que cidades tirassem do papel projetos já existentes para ampliar as malhas cicloviárias e programas de bicicletas compartilhadas.
Apontadas como solução para problemas como a emissão de gás carbônico, a mobilidade urbana e a saúde há anos por especialistas e ativistas, a atual necessidade fez com que a sociedade finalmente voltasse os olhos para as bicicletas. O efeito, em apenas um ano, é imenso.
Mesmo que no Brasil o fenômeno não tenha tido o mesmo impacto que teve em países da europa, segundo avaliação da diretora executiva do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP) Brasil, Clarisse Cunha Linke, ainda assim mudanças sensíveis foram notadas em todo o país.
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Bicicletas ganham espaço no Brasil
No Brasil, o crescimento do uso de bicicletas, pra além de um transporte mais barato e mais seguro, também se deve à adesão dos serviços de delivery. Enquanto a demanda pelo serviço cresce na pandemia, centenas de trabalhadores e jovens desempregados entraram nesse mercado. E a resposta de governos e empresas está sendo sentida.
Cidades como Lauro de Freitas, na Bahia, deram passos importantes ao compreender a necessidade de adequação das cidades ao novo momento. Na cidade baiana, esse passo foi dado com a criação da Lei 1.892 de 2020, que destina o percentual de 5% da receita arrecadada com a cobrança das multas de trânsito para a implantação e sinalização exclusivamente voltada aos ciclistas.
A medida ampliará a segurança dos que já pedalam, irá também estimular o aumento do uso da bicicleta e elevar o desenvolvimento da cidade com a geração de emprego e renda, além de sanar necessidades relacionadas a modernidade e sustentabilidade.
Dia Mundial da Bicicleta nasceu do ativismo
Foi um ativista do ciclismo e acadêmico da mobilidade e da sociedade que mobilizou 193 países a aprovarem em 2018 a existência de um dia mundial para discutir a importância da bicicleta. Leszec Siblilski conseguiu aprovar na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) a Resolução 72/272 que estabeleceu a data.
Em 2015, ao publicar um artigo chamado, em tradução livre do inglês, “Ciclismo é problema de todo mundo”, o professor iniciou sua grande campanha para estabelecer o dia. Com suporte formal da representação do Turcomenistão na ONU, conseguiu aprovar a resolução.
Bicicleta para salvar vidas
O uso das bicicletas cresce, mesmo com o mercado em recessão, com um aumento de 50% nas vendas de 2020 em comparação a 2019. Isso se deve à forma com que a pandemia trouxe os veículos para o centro da mobilidade urbana. Isso porque a bicicleta, além de uma alternativa em energia limpa, é também mais viável nos momentos de crise.
Bem mais barata para ser comprada e mantida que um automóvel ou uma motocicleta, a bicicleta se enquadra na recomendação da Organização Mundial de Saúde quanto ao distanciamento social e ampliou a sua participação como meio de transporte, já que as pessoas se sentem mais seguras, devido a menor quantidade de automóveis circulando nas ruas, para usar o veículo de duas rodas. Outro motivo para fazer essa opção é evitar as aglomerações dos transportes públicos coletivos.
Saúde e desenvolvimento por meio da bicicleta
Em Berlim, as lojas de bicicletas foram consideradas entre os serviços essenciais e ficaram abertas desde o começo da pandemia. Em Londres, serviram para garantir a circulação dos trabalhadores da área de saúde.
São tantos os benefícios gerados pelas bicicletas que a ONU criou uma força tarefa para garantir a sua continuidade nas cidades europeias, com intuito de incentivar a mobilidade ativa e transformar propostas em políticas públicas. MModificar o planejamento urbano de forma que acolha o os ciclistas e pedestres para que utilizem de maneira mais segura as ruas e os demais espaços públicos.
Redução de poluentes
Um levantamento feito pelo professor Christian Brand, especialista em Transporte, Energia e Meio Ambiente da Universidade de Oxford, estima que as pessoas que deixam de dirigir para andar de bicicleta, em apenas uma viagem por dia, reduzem sua emissão de poluentes em cerca de meia tonelada de CO2 ao longo de um ano. A economia de dióxido de carbono é a mesma de um vôo de Londres para Nova York.
“Se apenas um em cada cinco residentes urbanos mudasse permanentemente seu comportamento de viagem dessa forma nos próximos anos, isso reduziria em cerca de 8% as emissões de todas as viagens de carro na Europa.”
Christian Brand
Ainda de acordo com o levantamento da Universidade de Oxford, quase metade da queda nas emissões diárias de carbono durante os lockdowns globais em 2020 veio de reduções nas emissões de transporte.
Bicicleta para todos
A Tembici, empresa especializada em bicicletas compartilhadas, anunciou, nesta quinta-feira (3), que pretende implementar pelo menos mais 10 mil bicicletas em seu sistema de compartilhamento até o final de 2022, quase o dobro do número disponível hoje, de 16 mil, espalhadas pelo Brasil, Argentina e Chile.
A empresa também afirma que irá “apostar na expansão do número de estações” e que irá chegar a novas cidades no mesmo período. Em julho, chega a Brasília. Atualmente no Brasil a Tembici atua no Rio, São Paulo, Porto Alegre, Riviera de São Lorenço (litoral paulista), Vila Velha, no Espírito Santo, Salvador, Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes.
“Somente nos primeiros meses deste ano, já tivemos cerca de 7 milhões de deslocamentos realizados pelos nossos usuários com nossas bicicletas, o que nos motiva ainda mais a continuar investindo no desenvolvimento de cidades inteligentes e na revolução em que sempre acreditamos.”
Tomás Martins, CEO e co-fundador da Tembici
Cidades não são só para carros
Na opinião de Clarisse Link, a rua é o ativo mais importante que existe na cidade, “o ativo mais rico”. Para ela, não faz sentido que a rua seja dedicada prioritariamente à circulação do carro particular, que é responsável pela minoria das viagens. “A grande maioria é feita por transporte público e a pé nas cidades brasileiras.”
Com informações de Terra e Jornal Bicicleta