A pandemia agravou o problema da fome no Brasil. São 19,1 milhões de brasileiros passando fome. O número corresponde a praticamente a população da grande São Paulo. O dado é do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar em Contexto de Covid. O estudo foi realizado pela Rede PENSSAN, com apoio do Instituto Ibirapitanga e parceria de ActionAid Brasil, FES-Brasil e Oxfam Brasil.
O levantamento aponta ainda que 116,8 milhões de pessoas sofrem de insegurança alimentar no brasil, mais de 50% da população brasileira atual. A pesquisa foi realizada em 2.180 domicílios nas cinco regiões do país, em áreas urbanas e rurais, entre 5 e 24 de dezembro de 2020.
Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019, antes da pandemia, indicavam que 37% das famílias brasileiras se enquadravam de alguma forma na insegurança alimentar.
Leia também: Economista Thomas Picketty aponta soluções para a desigualdade
Fome afeta mais mulheres negras
A situação mais grave é identificada entre a população que vive na extrema pobreza, principalmente mulheres chefes de família, pretas ou pardas, com baixa escolaridade e trabalho informal.
Em 11,1% dos domicílios chefiados por mulheres os habitantes viviam em situação alimentar grave, ou seja, passavam fome, contra 7,7% quando a pessoa de referência era homem. Das residências habitadas por pessoas pretas e pardas, a fome esteve em 10,7%. Entre pessoas de cor/raça branca, esse percentual foi de 7,5%.
Extinção do Conselho de Segurança Alimentar
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sinalizou sua disposição em relação às políticas de segurança alimentar e nutricional no início do seu mandato, por meio da Medida Provisória 870. Com uma canetada, extinguiu o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).
Criado no governo Itamar Franco e reaberto no início do primeiro governo Lula, o Consea fazia parte do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), que tem o objetivo de assegurar o direito à alimentação adequada a toda a população residente no território nacional, conforme prevê o artigo 6º da Constituição Federal – que foi alterado em 2010 para passar a contemplar a alimentação entre os direitos constitucionais básicos.
A extinção do Consea desorganizou a nível nacional a coordenação das políticas voltadas para o combate à fome no momento em que a taxa da população em extrema pobreza chegou ao maior patamar desde o início da série histórica, em 2012. Desde 2015, 4,5 milhões de pessoas ingressaram na faixa de extrema pobreza.
Com informações de Congresso em Foco e Brasil de Fato