
O ex-presidente da França François Hollande, 66, afirmou que a eleição de Jair Bolsonaro (sem partido) para a Presidência da República resultou em destruição da Amazônia, ataques à democracia e empobrecimento da população. O político que comandou o povo francês entre 2012 e 2017 concedeu entrevista à Folha de S.Paulo, em edição publicada na segunda-feira (22).
Leia também: Com novo recorde, desaprovação ao trabalho de Bolsonaro sobe para 52%
Ao jornal, Hollande disse considerar palpáveis os danos causados pelo populismo que ascendeu em diferentes partes do mundo. Ele defendeu uma reação em bloco, como afirma ter acontecido com a candidatura do democrata Joe Biden na vitória sobre Trump.
Confira trechos da entrevista:
Volta de Lula à vida política
Questionado sobre críticas à Justiça brasileira com relação ao processo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Hollande disse acreditar que a verdade será estabelecida. Ele afirmou que parece claro um plano para impedir a candidatura do líder petista à Presidência em 2018.
“A Justiça brasileira vai estabelecer ela mesma a verdade e poderá um dia verificar se as acusações contra o ex-presidente Lula tinham fundamento. Mas já parece claro que tudo foi feito no plano político para impedir Lula de se candidatar na última eleição presidencial. Foi isso que justificou minha tomada de posição, com outros chefes de Estado e de governo, desde 2018, para que Lula pudesse, livre, ser candidato à eleição presidencial. Hoje é um novo momento que se abre, e fico feliz de ver Lula recuperar plenamente seu espaço na vida política brasileira.”
O ex-presidente da França afirmou também que tem discutido a renovação da esquerda com o ex-presidente Lula.
“Nós concordamos em trocar experiências, em defender as mesmas posições em nível internacional e em construir, em nossos respectivos países, as forças políticas capazes de encarnar a alternância. Trabalharemos com todos que quiserem se juntar a nós para devolver a esperança à política. Nós compartilhamos os valores da liberdade e da justiça social.”
Para Hollande, Bolsonaro causa danos ao Brasil
O ex-presidente francês falou sobre o papel da esquerda para conter o avanço de movimentos populistas de extrema direita e de ultradireita que estão espalhados pela Europa e também pelo Brasil. Ele comentou os danos que Bolsonaro tem causado em várias frente ao país.
“Nós já podemos facilmente constatar os danos causados pelos populistas. A eleição de Jair Bolsonaro resultou em destruições importantes da floresta amazônica, em um declínio da democracia e das liberdades e em políticas muito duras com os mais pobres e muito complacentes com os mais ricos. Sem esquecer a gestão da crise sanitária, que, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos —quando Donald Trump estava no poder—, fez vítimas demais, por falta de medidas restritivas.”
Leia também: Noam Chomsky escreve a Lula e diz que condenações foram ‘fraude total’
Hollande comentou ainda sobre a vitória do democrata Joe Biden sobre o republicano Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2020. Para o político socialista, a derrota de Trump ocorreu em decorrência da união de democratas.
“A esquerda nos Estados Unidos – porque é assim que podemos considerar os democratas americanos– foi capaz de se unir em torno de Joe Biden, cujo passado e experiência eram testemunhas de seu compromisso e despertaram confiança. Foi assim que Trump pôde ser derrotado. Foi por pouco, e isso só foi possível porque o conjunto dos democratas, para além de suas diferenças, juntaram suas forças. O papel da esquerda, portanto, é fazer de tudo para impedir que os populistas cheguem ao poder e, quando eles chegam, de retirá-los democraticamente propondo ao povo uma solução crível.”
Reforma do Partido Socialista da França
O Partido Socialista da França, pelo qual Hollande comandou o país, está programando um congresso de “refundação”. Nesse evento será definido um novo ciclo e o partido será renomado.
“Em um mundo que evolui rapidamente e diante de desafios enormes como as desigualdades, a democracia e o aquecimento climático, cada geração deve assumir suas responsabilidades. Os partidos progressistas precisam se renovar, se refundar e se repensar, tanto do ponto de vista de sua organização como de seu projeto. Mas sem nunca se esquecer de sua história e sem perder os valores sobre os quais foram fundados. É essa a tarefa atual dos socialistas franceses.”
Leia aqui a entrevista completa.
Com informações da Folha de S.Paulo