Com o aumento do tensionamento entre os lados, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) declarou a que Rússia é a “ameaça mais significativa e direta” à paz e segurança de seus membros em seu novo Conceito Estratégico. A nova diretriz, que substitui o documento de 2010 da aliança e foi revelado nesta quarta-feira (29) em sua cúpula em Madri.
Leia também: Prorrogar conflito na Ucrânia é ideal para Otan, alerta Rússia
Em ocasião inédita, os 30 aliados também disseram que a China representa um desafio à segurança e aos interesses da Otan com suas “ambições declaradas e políticas coercitivas”.
A afirmação vem após uma investida da organização em colocar mais de 300 mil soldados em alta prontidão a partir de 2023, ao invés dos 40 mil anteriores, para melhor combater a Rússia, o país que a aliança designou como a maior ameaça.
Na reunião, a Otan também deu entrada oficialmente ao processo de adesão de Finlândia e Suécia ao bloco, um dia depois de a Turquia retirar objeções à expansão da aliança na Escandinávia.
Otan sobre Rússia: de parceira estratégica a ameaça
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg detalhou que, enquanto no documento de 2010 a aliança classificava a Rússia como um “parceiro estratégico”, este novo traz o país como “a ameaça mais significativa e direta à nossa segurança”. Outra mudança também foi sobre a China, que no conceito de 2010 nem era citada, agora aprece como desafio aos “nossos interesses, segurança e valores”.
A Otan também garantiu seu apoio à Ucrânia “pelo tempo que for preciso” para resistir à invasão russa. Após uma cúpula de dois dias em Madri, os 30 membros da aliança condenaram a “crueldade terrível da Rússia, que causa imenso sofrimento humano”.
Biden pretende encurralar Rússia
Abrindo as negociações na manhã desta, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chamou a cúpula de uma das reuniões mais históricas da Otan e prometeu que a aliança — reunida pela primeira vez em 1949 para “proteger” a Europa contra a União Soviética —, estava comprometida em “defender cada centímetro” do território de seus membros, e “mais necessário agora do que nunca”.
Biden também anunciou que os Estados Unidos, pela primeira vez, colocariam forças permanentes no leste da Otan, implantando um quartel-general de guarnição do Exército e um batalhão de apoio de campo na Polônia, posicionando um número não revelado de tropas dos EUA para ação rápida em países ao longo da fronteira com a Rússia.
Rússia vs. Ucrânia
O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, discursou por videoconferência na reunião de cúpula e pediu mais ajuda do Ocidente. “Precisamos de sistemas muito mais modernos, artilharia moderna”, afirmou antes de acrescentar que o apoio econômico “não é menos importante que a ajuda em armas”.
“A Rússia continua recebendo bilhões a cada dia e os gasta na guerra. Nós temos um déficit bilionário. Não temos petróleo nem gasolina para cobrir”, afirmou Zelenski. Ele disse que a Ucrânia precisa de 5 bilhões de dólares por mês para sua defesa.
Enquanto ouvia a promessa de mais apoio, Zelenski lamentou que a política de portas abertas da Otan para novos membros não parecia se aplicar ao seu país. “A política de portas abertas da Otan não deve se assemelhar às velhas catracas do metrô de Kiev, que ficam abertas, mas fechadas quando você se aproxima delas até pagar. A Ucrânia não pagou o suficiente?”
Resposta russa a Otan
A Rússia respondeu aos anúncios com críticas a agressividade da Otan. O vice-ministro das Relações Exteriores, Serguei Riabkov, chamou a ampliação da Aliança Atlântica para Finlândia e Suécia de “profundamente desestabilizadora”.
A incorporação da Finlândia, e seus 1.300 km de fronteira terrestre com a Rússia, fará com que a Otan mais do que dobre seus limites territoriais com este país. Desta maneira, a Rússia terá fronteira com seis integrantes da aliança: Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia — os dois últimos pelo enclave de Kaliningrado —, e Noruega.
Resposta chinesa
O vice-diretor e porta-voz do Departamento de Informação do Ministério de Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, também se manifestou contra a categorização de “desafio” imposta pela organização.
“Exigimos que a Otan acabe imediatamente com a divulgação de declarações falsas e provocativas contra a China”, disse.
Zhao ainda afirmou que a organização serve como um instrumento para que certos países pudessem manter sua hegemonia ao criarem “inimigos imaginários“
Com informações do Estadão e Opera