Ignorando deliberadamente a realidade, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), distorceu a publicação inglesa The Economist, que em caderno especial de dez páginas, fez o retrato macabro da difícil situação que o Brasil vive sob a presidência de Jair Bolsonaro (sem partido). A Secom usou o seu perfil oficial no Twitter para fazer inúmeras críticas ao artigo publicado na última edição da revista, intitulada “É hora de ir embora”.
Nas palavras do deputado Camilo Capiberibe (PSB-AP), a Secom fez uma tradução “miliciana” da revista.
A revista destacou o colapso do Brasil no enfrentamento à Covid-19, e estampou, em sua capa regional, voltada à América Latina, a imagem do cristo redentor respirando com o auxílio de um tubo de oxigênio.
Na publicação mencionada pela Secom, a publicação inglesa cita o presidente Bolsonaro como um líder cujo objetivo é “destruir as instituições, e não reformá-las”. O texto também diz que será “difícil” mudar o curso do Brasil enquanto Bolsonaro ocupar a presidência. “The most urgent priority is to vote him out”, diz trecho da revista.
Governo faz tradução falaciosa
Ao criticar a revista, a Secom distorce o texto e se baseia na tradução literal do trecho segundo a qual “A prioridade mais urgente é eliminá-lo”, quando a publicação original afirma ser preciso retirar Bolsonaro do poder por meio do voto. O Estadão, que publicou o artigo traduzido, fez um esclarecimento depois das menções da Secom.
“A primeira versão do texto publicado pelo jornal traduziu a expressão “vote him out” como eliminá-lo, o que, no contexto integral do artigo, era claramente uma referência à eleição de 2022, uma vez que esta já havia sido citada no texto. Entretanto, tal expressão foi usada pela Secretaria de Comunicação do governo como argumento de que a The Economist defenderia a eliminação literal do presidente por meio de atos violentos. Dessa forma, o jornal reviu a tradução para ‘tirá-lo do poder pelo voto'”, afirmou no rodapé do artigo.
Ataques
No Twitter oficial, a Secom ataca a revista, acusando-a de “enterrar a ética” e “extrapolar todos os limites do debate público”. “Algumas das narrativas mais falaciosas, histriônicas e exageradas da oposição ao governo federal”, escreveu a Secom.
A secretaria acusa a revista internacional de tentar “interferir” em “questões domésticas” do Brasil. Criticou também afirmações da revista de que uma reeleição do presidente Bolsonaro poderia “devastar a Amazônia”, chamando-as de “absurdos próprios do panfletarismo juvenil”.
“Parece que o desespero da Economist e do jornalismo militante, antidemocrático e irresponsável é para que o Presidente da República seja ELIMINADO o quanto antes, antes que ele e seu Governo concluam o excelente trabalho que fazem para o bem do Brasil”, escreveu.
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Pior crise desde a redemocratização
O caderno da revista ainda abordou tópicos como economia, corrupção, Amazônia e as perspectivas para o Brasil. O texto escrito destaca que o Brasil enfrenta “sua maior crise desde o retorno à democracia em 1985”, e ao fim do caderno, há uma foto associando Bolsonaro a Hitler, acompanhada do artigo citado pela Secom e intitulado “Hora de ir embora”.
Em 2016, durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a revista também criticou o governo da petista, ao dizer que ela “decepcionou” o país, diante da recessão e do desemprego, cuja taxa era de 10% na época.
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Com informações do Congresso em Foco e Estadão